Mestre Pastinha desembarcou de um avião da Vasp em Congonhas trazendo alguns de seus alunos: João Pequeno, Deodato, Bababá e Bigo.
Mestre Bigo tinha 22 anos.
A Rhodia não encontrou outros negros capoeiristas para o show em São Paulo. Até os sambistas vieram do Rio de Janeiro.
Por que, nessa época, Mestre Ananias já comandava a roda da República.
Até hoje ambos são dois ícones da São Paulo negra.
Tão reprimida que já foi taxada de túmulo do samba.
Mas tão viva que levanta até defunto.
Mestre Ananias continua comandando as rodas de capoeira e de samba em sua casa no Bixiga.
Meste Bigo dirige uma escola no Jardim Selma, na periferia sul da cidade.
O primeiro encontro de Mestre Bigo com Mestre Pastinha é a antitese do preconceito de marginalidade que estigmatizou a capoeira ao longo da história de luta dos negros por liberdade.
Foi o encontro de um menino de seis, sete anos, trazido pelas mãos do tio Agnelo, guarda-costas de Iraci Magalhães, o pai de Toninho Malvadeza, avô de Luiz Eduardo e bisavô do prefeito de Salvador, ACM Neto.
Não foi no cais do porto, nem na Ribeira, nem no Pelourinho.
Agnelo trabalhava na Base Naval de Aratu e o encontro foi a bordo de um navio.
Da marinha americana!
Os americanos sempre entenderam de relações públicas!
Quando Getúlio saiu da vida para entrar na história, Mestre Bigo, aos oito anos, entrou na academia de Pastinha, o CECA – Centro de Estudo de Capoeira de Angola, novamente acompanhado pelo tio Agnelo.
Hoje os discípulos de Ananias, Bigo e muitos outros – como mestres Limão e Gaguinho – costumam se reunir na roda de Mestre Plínio – na rua Turiaçu.
Como no navio americano, as rodas passaram a ocorrer nos locais mais inusitados, incluindo marinheiros de origens cada vez mais diversas.
Finlandeses, japoneses, italianos, espanhóis, argentinos, estonianos e americanos. Homens e mulheres.
Na antevéspera da Dia da Consciência Negra em São Paulo a roda incluiu Mestre Roxinho, diretor do projeto Bantu, em Sydney, Austrália, ao lado dos mestres Bigo e Limãozinho, filho de Limão.
O projeto Bantu educa jovens estrangeiros refugiados na Austrália por meio da capoeira.
Roxinho veio acompanhado da aluna Evelyn Agripa, de 17 anos, nascida no Sudão do Sul, que fugiu da violência doméstica com a mãe para o Quênia aos cinco anos, e de lá para a Austrália aos onze.
Evelyn veio ao Brasil graças a uma campanha de captação de recursos na Austrália.
“Eles não vão ser necessariamente mestres de capoeira, mas educadores sociais”, acredita Roxinho. “Recebemos refugiados sírios em Liverpool (Austrália) que já conheceram a capoeira no
A luta dos escravos negros brasileiros tornou-se uma luta pela paz e contra a escravidão no mundo inteiro.
Tudo isso em São Paulo, onde 66% dos mortos pela polícia são negros e pardos, segundo dados do jornal Diario de São Paulo.
Se não é o tumulo do samba, São Paulo ainda precisa se tornar um refúgio para os negros.
Antes que Mestre Roxinho os acolha em Sydney.
Veja aqui como nossos mestres são capazes de nos acolher aqui mesmo:
Foto Marcelo Salvador
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A luta dos escravizados contra a violência
Excelente artigo. Mas não concordo com o nome , pois eles não nasceram escravos .
FORAM ESCRAVIZADOS.
Obrigado!
Você tem razão mas os títulos jornalísticos sacrificam a precisão pela concisão.
Espero não ter cometido outros erros.