A “Poética” de Aristóteles, por Marcelo Consentino

 Mosaico romano mostrando atores e um instrumentista tocando aulos (instrumento de sopro grego).  Casa do poeta trágico, Pompéia.

 

de “O Estado de S.Paulo”

 

“Há mais coisas entre o céu e a terra do que sonha a nossa vã filosofia”? Talvez. Mas entre as não sonhadas jamais houve uma que não tenha atraído o olhar e o tato de Aristóteles. Primeiro e maior sistematizador da história do pensamento, seu Corpus enciclopédico definiu a epistemologia que está na base dos currículos de ensino superior ao redor do mundo. E, como se não bastasse a teoria, nos deixou também a chave para a prática do saber. No comando de algumas das cabeças mais competentes da Grécia, formaria em seu Liceu o primeiro centro de pesquisa científica aplicada, antecipando o aparato de produção de dados das academias contemporâneas.

Curiosamente, dentre suas numerosas obras, poucas, ou talvez nenhuma, teria uma repercussão comparável à de sua pequena apostila de teoria literária. Desafiando o lugar comum de que gosto não se discute, a Poética apresenta uma análise criteriosa não só dos elementos que compõem a poesia, mas das qualidades que brilham na boa poesia. Para o historiador da literatura grega Albin Lesky, “uma história da Poética e dos seus influxos deveria representar uma parte importante da vida cultural do Ocidente e ser, ao mesmo tempo, a história de erros grandiosos”. Após um período de hibernação milenar, o opúsculo renasceria incompleto ao olhar dos humanistas modernos. Popularizado como um “manual” de composição dramática, se revelou crucial para a formação da ópera italiana e do teatro barroco e neoclássico, suscitando mais de uma polêmica literária literalmente “homérica”. E mesmo hoje, não poucos roteiristas de Hollywood recorrem às lições da Poética para aprimorar a sua arte. Assim – quer saibamos quer não – Aristóteles segue exercendo uma influência decisiva sobre o modo como concebemos nossas histórias, vivemos nossos dramas e experimentamos o horror e a beleza do mundo.

Convidados

– André Malta: professor de língua e literatura grega da Universidade de São Paulo.

– Vicente Sampaio: tradutor da Poética e pesquisador do departamento de filosofia da Universidade Estadual de Campinas.

– Fernando Gazoni: tradutor da Poética e professor de língua e literatura grega na Universidade Federal de São Paulo

Para ouvir a entrevista clique AQUI

Referências
  • A Poética de Aristóteles, tradução e comentários de Fernando Gazoni.
  • Aristotle’s Poetics e The Aesthethics of Mimesis de Stephen Halliwell (Princenton).
  • Aristotle’s Poetics” entrevista em In our time.
  • A Poética de Aristóteles, tradução e comentários de Vicente Sampaio (Bamboo Editorial – no prelo).
  • “O método analítico e o método dialético na Poética de Aristóteles” de Fernando Gazoni nos Anais de Filosofia Clássica v. 2, 2008.
  • Principes de la tragédie: En marge de la poétique d’Aristote de Jean Racine (Nizet)
  • A Poética de Aristóteles. Mímese e Verossimilhança de Ligia Militz da Costa (Atica).
  • “Aristotle: Poetics na Internet Encyclopedia of Philosophy .
  • Aristóteles em Nova Perspectiva de Olavo de Carvalho (Vide Editorial).
  • La Poétique d’Aristote com prefácio de T. Todorov e tradução e comentários de R. Dupont-Roc e J. Lallot (Seuil).
  • Aristotle’s Theory of Poetry and Fine Art de Samuel Butcher.
Redação

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