Um pequeno roteiro para discutir a questão da maconha
1 ) Qual é o problema?
– liberdades individuais afetadas (afinal, o consumo não prejudica terceiros, não mais que álcool e tabaco), incluindo seu potencial uso medicinal;
– aprisionamento excessivo de vendedores (a penalização da posse para uso pessoal passou de prisão para penas alternativas em 2006/2007), assoberbando o sistema penal e retirando recursos do combate à violência e crime;
– fonte de recursos para outras atividades ilícitas, especialmente crime organizado;
– dificuldade para reduzir o consumo e questão de saúde. Se enquanto ‘crime’ não diminuiu o seu consumo, não seria melhor abordar como é feito com cigarro e tabaco?
2 ) Quem é contra a descriminalização da maconha?
– basicamente quem acredita que o consumo aumentará com a liberação e que isso será um mal maior para a sociedade (embora não haja evidências para nenhuma dessas assertivas.) Algo entre 70 e 80% da população;
– líderes religiosos e políticos que refletem esse sentimento majoritário, mas que, ao mesmo tempo, ajudam a mantê-lo através de discursos demonizadores e obstrução da discussão.
3 ) Quem é a favor da descriminalização?
– setores da sociedade que julgam que os benefícios em redução de criminalidade e Estado Penal ultrapassam em muito os riscos de uma eventual descriminalização.
4 ) Em que ponto estamos?
– recente proposta para a descriminalização, no âmbito da Revisão do Código Penal, foi barrada por seu relator:
http://www.cartacapital.com.br/sociedade/reforma-do-codigo-penal-tem-pontos-progressistas-ceifados-antes-de-nascer-3430.html
4 ) Como o debate pode avançar?
– pressão da sociedade civil: através de reportagens na grande mídia a respeito dos problemas no Brasil e do sucedido no exterior, artigos ou falas de acadêmicos, juízes e especialistas expondo os porquês de possíveis mais benefícios que riscos;
– atuação política no Legislativo através da proposição de projetos-lei descriminalizando (o que provavelmente não seria levado a votação, no ambiente atual, pelo controle que o governo tem de comissões relevantes e relatorias);
– atuação proativa do Poder Executivo (ocupantes de cargos executivos, ministros e secretarias), encomendando (ou aproveitando) estudos a respeito e com a recomendação para que a discussão avance no Legislativo.
Para fazer um país avançar em uma discussão, especialmente quando a população é refratária a uma mudança, é necessária a presença de liderança e coragem políticas.
Ninguém esperou a maioria da população saber ou concordar com coisas como Lei Caó (1989), Reforma da Previdência (1999) ou Bolsa-família (2003), não é mesmo?
Então por que esperar que a maioria da população perceba a importância da redução do Estado Penal, descriminalização da maconha (e do aborto) em particular?
Tem muita gente morrendo ou sendo encarcerada à toa pela resistência a se falar nesse assunto. Tem muita gente propagandeando algo inconstitucional (e contraproducente) como a redução da maioridade penal.
A meu ver, dada a gravidade e urgência da(s) questão(ões), é tarefa principalmente para uma liderança do Poder Executivo, Ministério da Justiça em particular.
(Alguém vai dizer… “Ah, mas a governabilidade não deixa…” Minha opinião: “Tome a coroa antes que algum aventureiro o faça”. Do jeito que as coisas demoram neste país, é até possível que oposições e veículos de mídia se adiantem na tarefa de defender a modernização da sociedade, que deveria ser papel do governo.)
Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.
Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.