Ao vencedor as batatas…

A guerra política iniciada por Michel Temer utilizando os serviços de um bandido perseguido pela Justiça (Eduardo Cunha) está chegando ao seu clímax. O vice-presidente decorativo queria se salvar do escândalo de corrupção que sabia que, em algum momento, abalaria a pouca credibilidade que o sustentava na vida pública. Todavia, Michel Temer foi delatado antes do julgamento de Dilma Rousseff e a repercussão disto dentro e fora do país pode, sem dúvida alguma, destruir totalmente o projeto dele de permanecer na presidência da república.

Em alguns dias ele terá que ser denunciado pelo MP. O “seguro impunidade” atribuído por ele a si mesmo e aos seus Ministros está chegando ao fim. José Serra, também foi delatado e terá que suportar as consequencias de seus atos. Nem mesmo a imprensa conseguirá salvar ambos da queda inevitável.

O crime supostamente cometido por Dilma Rousseff, a pedalada fiscal, não ocorreu segundo os Peritos que atuaram no processo de Impedimento. A acusação que pesa contra Michel Temer e seu Ministro das Relações Exteriores (José Serra) é muito mais grave do que aquela que foi usada para afastar a presidenta eleita do cargo. A república não pode ficar nas mãos de dois homens suspeitos de usarem o cargo em benefício próprio. Ninguém alegou ou provou que Dilma Rousseff tenha feito aquilo que foi atribuído a Michel Temer e José Serra.

Em 1964 o golpe foi escancarado e violento. Em 2016 ele se revestia de legalidade aparente. Esta aparência deixou de existir no exato momento em que ficou claro que Michel Temer e José Serra não querem salvar a república e sim se salvar dos crimes que eles mesmos podem ter cometido. Agora, a única forma dos golpistas prevalecerem será usar a violência extrema.

A ameaça de cassar o registro do PT, feita por Gilmar Mendes, é um indício de que o uso da violência está sendo cogitada. Os instrumentos desta, os contingentes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica, ainda não se manifestaram. Em breve os soldados serão obrigados a escolher um lado: o da verdadeira legalidade (Dilma Rousseff e o prosseguimento da Lava Jato doa a quem doer) ou a da legalidade aparente desejada pelos corruptos que tentam desesperadamente ficar no poder para não responder pelos crimes que cometeram (Michel Temer, José Serra, etc…).

O conflito desencadeado por Michel Temer e Eduardo Cunha, sob intensa proteção judiciária de Gilmar Mendes, tem todos os traços de uma guerra civil sem tiros. Seu desfecho pode ser ou não violento, mesmo assim, sua natureza sugere algumas reflexões a partir do livro “Bellum Civile”.

No parágrafo 21 do Primeiro Livro de sua obra, Caio Júlio César afirma que:

“..quod saepe in bello paruis momentis magni casus intercederent…”

A tradução deste fragmento é a seguinte:

“…como se sabe, na guerra, co freqüência grandes desastres resultam de acontecimentos de pouca monta…” (Bellum Civile – A Guerra Civil, tradução Antonio da Silveira Mendonça, edição bilíngüe, Estação Liberdade, São Paulo, 1999, p. 65)

O plano de Michel Temer de aparecer para o mundo como um homem comprometido com a democracia falhou. Ele contava com a ajuda da imprensa e do COI para usar as Olimpíadas a fim de garantir alguma legitimidade presidencial, mas foi intensamente vaiado durante a abertura do evento. Isto ocorreu apesar do interino falar pouco e sem ter sido anunciado. A subseqüente censura policial aos manifestantes com cartazes e faixas “Fora Temer” repercutiu mal na imprensa internacional. O golpe de misericórdia na tentativa de evitar um desgaste maior foi dado pelo Juiz que liberou as manifestações políticas nos locais das provas impondo multa em caso de repressão policial.

Um acontecimento de pequena monta, a censura, sua repercussão e rejeição judicial, pode ter sepultado de vez a ilusão presidencial de Michel Temer. A incapacidade de evitar a delação e o vazamento desta antes do julgamento de Dilma Rousseff, também vai distanciar Michel Temer da presidência da república. Tudo parece consolidar um contexto favorável ao retorno de Dilma Rousseff ao cargo para o qual ela foi eleita. O que ela fará se isto ocorrer?

Mesmo tendo votado em Dilma Rousseff sou obrigado a reconhecer que o governo dela acabou. O clima de guerra civil criado artificialmente pelos derrotados e pela imprensa não permitirá que ela fique no poder até 2018. Também não adiante convocar novas eleições presidenciais preservando o Congresso atual, pois mais da metade dos Deputados e dezenas de Senadores respondem ou podem responder processos criminais. A legitimidade do poder político deve ser renovada mediante eleições gerais: presidente, deputados e senadores.

Além de anular os atos do interino que prejudicaram os beneficiários dos programas sociais os trabalhadores e os segurados do INSS, a presidenta terá que mexer num verdadeiro vespeiro: a questão petrolífera. A única maneira racional de resolver o impasse que originou a guerra política em curso é submeter à população a decisão sobre o que será ou não feito com o Pré-Sal: monopólio de exploração (como querem os nacionalistas) x privatização insana (defendida pelos golpistas e pela imprensa). Ao vencedor as batatas… A frase de Machado de Assis expressa melhor os anseios nacionais do que a paz dos cemitérios pretendida por Gilmar Mendes e outros.

Fábio de Oliveira Ribeiro

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