As ações contra o Facebook e as lições do caso Microsoft, por Luis Nassif

Agora, com a ação em cima do Facebook, obrigando-o a vender o Instagram e o WhatsApp, haverá uma pesada guerra judicial. Mas abre-se o espaço para que surjam novos campeões, tendo na criatividade e na inovação o ponto central.

The logos of TikTok and Facebook are displayed on a smartphone in this illustration taken January 6, 2020. REUTERS/Dado Ruvic/Illustration

A ação aberta pelos órgãos de controle americanos contra o Facebook marca uma nova etapa no padrão de capitalismo das últimas décadas.

Desde os anos 70, tornou-se vitoriosa a ideologia da escola de Chicago, de que monopólios e oligopólios não seriam necessariamente nocivos ao mercado. Primeiro, por possibilidades maiores ganhos de escala. Depois, pelo fato de que as novas características do mercado – disponibilidade de capitais, novas tecnologias, novos modelos de negócios – manterem os oligopólios sempre sob controle. Ou seja, o medo de que surgisse um novo concorrente do nada os faria lutar para preservar clientes, mais do que preservar mercados.

Esse modelo produziu as bigtechs, as novas empresas gigantes da economia, com um poder só igualado, anteriormente, pela Standard Oil. Mesmo ela, após uma boa temporada de atuação sem limites, acabou enquadrada devido ao balanço dos prejuízos trazidos à economia, com a eliminação da concorrência.

Quase um século depois, repetiu-se a saga com a Microsoft, apanhada em pleno vôo por um processo na União Européia, por práticas anti-concorrenciais.

Até que fosse contida, a Microsoft liquidou um enorme universo de empresas criativas, atraídas pelas possibilidades abertas pela microeletrônica.

No início da revolução da microinformática, o mercado de redes era dominado pela Novel. No campo dos aplicativos de escritórios, havia a Lotus, com seus aplicativos de editor de textos, planilha e apresentação, Os aplicativos de escritório tinham, ainda, produtos extremamente funcionais da Boreland.

Mas a Microsoft tinha a força, o controle do sistema operacional que alimentava a maior parte das máquinas do planeta. Primeiro, o DOS. Depois, quando desenvolveu o Windows, baseado em pesquisas da Xerox, montou uma política que esmagou um a um os concorrentes, devido às dificuldades de adaptar seus aplicativos para a nova linguagem.

O monopólio tornou a Microsoft preguiçosa. Reduziu o nível de inovação de seus produtos. A atualização do Windows e dos demais programas era uma encrenca periódica e não havia um canal que permitisse ouvir os usuários e providenciar programas mais funcionais.

A preguiça custou caro. Graças ao Windows, nos primórdios da Internet conseguiu desbancar o Netscape como navegador. Praticamente foi sua ultima vitória.

O acomodamento fez com que perdesse o bonde das comunicadores, apesar do seu Messenger que dominava amplamente o mercado ao lado do ICQ. Perdeu o mercado dos e-mails, apesar do pioneiro Hotmail. Conseguiu matar um concorrente muito superior ao seu Outlook, o Lotus Notes. E viu novos concorrentes montando aplicativos online a partir dos navegadores, sem necessariamente utilizar o sistema operacional da Microsoft – uma previsão feita pelos criadores do Netscape, mas que não tiveram fôlego para levar adiante.

O acomodamento fez com que perdesse o mercado dos navegadores para o Google Chrome; que não conseguisse segurar o crescimento explosivo da Apple e de seu próprio sistema operacional. Perdeu o bonde das redes sociais, apesar dos ensaios em torno do Hotmail. E, finalmente, perder o bonde dos aplicativos doe celulares para o Google Chrome. Entrou atrasada no mercado de aplicativos de web, no de músicas.

Poderia ter tido o mesmo destino da HP, um furacão de criatividade que se perdeu no tempo. Conseguiu se reinventar, mas perdendo o domínio anterior. Consultado sobre a ação contra o Facebook, Bill Gates foi sincero: atribuiu ao processo da União Europeia o fato da Microsoft ter perdido o bonde dos sistemas para celulares.

Agora, com a ação em cima do Facebook, obrigando-o a vender o Instagram e o WhatsApp, haverá uma pesada guerra judicial. Mas abre-se o espaço para que surjam novos campeões, tendo na criatividade e na inovação o ponto central.

Luis Nassif

4 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Aqueles que entendem haver,e parece haver,um estado profundo,o Deep State,acreditam haver uma sociedade quase secreta,tipo maçonaria,que congregaria a parte não elegível do Estado (juízes,promotores,funcionários públicos de carreira-os agentes de Estado) que atuaria em conjunto com os grandes players,aí incluídos Facebook e amazon,para ficarmos somente nesses dois gigantes calcados,obviamente,na mídia corporativa,já em mão desses players.
    O mundo precisará discutir não só a limitação de poder dessa gente mas terá que discutir como o mundo irá se comportar diante de um avanço tecnológico inexorável que depende dos consumidores para viver mas que,paradoxalmente,precisa cada vez menos de trabalhadores.

  2. Nassif o vírus corona entra nesta história tb,quem anunciava desde 2015 q haveria uma pandemia e o mundo não seria mais o mesmo?(um magnata da internet)não sejamos inocentes,os maiores beneficiados nisto td está escancarado e já avisavam q iriam fazer isso,kkkkk,é incrível,kkkk !!!
    Obs:O mundo precisa de pessoas de coragem como à época da Lei Antitruste nos E.UA,homens q enfrentaram o poderio econômico dos donos das linhas férreas e a maior concentração de mercado q o planeta já tinha visto,agora está sendo bem pior q nesta época passada !!!

  3. “(…)

    Predatory tactics

    Despite all marketing campaigns, Microsoft did not grow through “innovation” or by offering the best product available. For a monopolist it is much cheaper to wait for a small company to come up with a good product and then simply buy them. A company called WebTV brought the Internet to television sets. Fearing a market shift from personal computers to digital TVs, Microsoft bought WebTV in 1997 for $425 million, thus removing a potential competitor. Some months later Microsoft saw the threat of free email services, in particular Hotmail, so they bought it.

    Another point in case were the infamous “browser wars” between Microsoft and its then competitor Netscape. Even today, despite numerous security problems with Microsoft’s browser program Internet Explorer (viruses, spyware, exploits), many people falsely assume Internet Explorer is the Internet, not knowing that there are numerous browser alternatives available to surf the World Wide Web. However, the overwhelming dominance of Microsoft’s Internet Explorer is only a fairly recent phenomenon. In the early nineties another company, Netscape, held around 90% market share and was the de facto standard browser. Microsoft saw Netscape’s success as a threat to its dominant Windows operating system and in 1995 launched an aggressive campaign to establish control over the browser market. They licensed Mosaic, another browser at the time, as the basis of Internet Explorer 1.0.

    As a monopoly with lots of cash, they had two strong advantages in the browser wars. One was simply a matter of resources: Netscape may have had nearly 90% market share, but as a relatively small company it lacked financial backing. Another significant advantage was that Microsoft Windows had a monopoly in the operating system marketplace that was used to push Internet Explorer to a dominant position. The trick was to bundle Internet Explorer with every copy of Windows. Hence, even though its browser was technologically inferior, Microsoft was able to enlarge its market share with some sly marketing tactics and a great deal of cash. In the end Netscape was pushed out of the market. Internet Explorer became the main browser and despite being ridden with all kinds of security issues, it is still the most widely used browser to this day because of Microsoft’s dominance. Such is the power of a monopoly: once it has taken control of the market it can afford not to develop its product anymore. That is indeed the case with Microsoft’s Internet Explorer and to a lesser extent with its Windows operating system in general: literally millions of dollars and working hours are lost because of the constant need for updating, installing patches, removing viruses and spyware. Only very recently, since Netscape’s open source successor, Mozilla, has been putting up some competition has Microsoft been forced to develop its browser further.

    In other words, Microsoft systematically pumps money into a product or technology, in many cases even buys off its competitors, only to accumulate its capital, generate more profits and to strengthen its monopoly position. It is more than ever a financial behemoth which, when it fails to create viable competitive software, readily uses its financial resources to buy out starting companies and key technology to maintain its iron grip on the industry. They have acquired companies involved in 3D animation, Internet development tools, speech recognition, Internet payment security, business news services, etc.

    In doing so, Microsoft has helped assure that companies and even governments that might have supported a broad range of different systems and formats, including Microsoft competitors, stick to Microsoft’s closed, proprietary formats like Windows Media Audio for audio files and Microsoft Word documents for text files. This is called a “vendor lock-in” – making people dependent on a vendor without being able to move to another one without significant switching costs. Since the closed format of these files is not documented or publicly available, in practice this means that other software than Microsoft’s Windows Media Player or Microsoft Word can only try to guess what it is supposed to do with it unless they bought an expensive license for playing or reading the files. That is also the reason why Microsoft is proud to “donate” its software to many schools, which do not have the resources to buy any software, thus entrapping future generations into its software monopoly. We will elaborate on the matter of closed versus open standards in a future article on free software and GNU/Linux.

    Thus, we see that Bill Gates and his fellow managers know how to do business. They know that a technologically superior product is rarely the same as the winning product. Time and again its predatory strategy has been to enter a market fast with an inferior product to establish a foothold, create a closed standard, tie people to their system and grab market shares. That is the path to follow in order to make huge profits…”

    Bill Gates, saviour of the world?
    Maarten Vanheuverswyn

    https://www.marxist.com/bill-gates-capitalism170305.htm

  4. Alguém escreveu por aqui que a INTERNET é uma plataforma neutra. Pobre país rico. 90 anos de doutrinação faz com que acreditamos em qualquer coisa. Até em Redemocracia e Constituição Cidadã. Mas de muito fácil explicação.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador