As meias-verdades da grande mídia não são fake news? Por Roberto Requião

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Foto: Agência Senado
 
 
Jornal GGN – O senador Roberto Requião (MDB) fez um discurso na tribuna da Casa, nesta semana, criticando alguns órgãos de assessoramento. Entre eles, o Conselho de Comunicação Social. Segundo Requião, o grupo é majoritariamente composto por membros compromissados com os interesses dos oligopólios de mídia e, por isso, são “chapa branca” quando o assunto é a cobertura parcial que estes veículos de massa fazem sobre determinados assuntos.
 
O principal exemplo citado por Requião foi a greve dos caminhoneiros, onde “meias-verdade” tomaram o lugar de uma cobertura mais aprofundada e isenta sobre a política de preços praticada pela Petrobras. 
 
Com isso em vista, Requião pergunta: não seria, em alguns momentos, a própria linha editorial destes veículos um fator gerador de fake news? Ou fake news é algo que só é atribuído aos blogues progressistas e jornalistas independentes?
 
O GGN reproduz abaixo o trecho do discurso do senador que trata do Conselho de Comunicação Social do Senado:
 
(…)
 
Outro órgão de assessoramento desta Casa é o Conselho de Comunicação Social. Acredito que muitos senadores sequer sabem da existência desse Conselho. Mas ele existe e, como o TCU, não está nem aí para os seus patrocinadores; isto é, o Congresso.
 
Por exemplo: uma das preocupações do Conselho é com as chamadas “fake news”. Só que o entendimento de notícias falsas do Conselho é particularíssimo. É o mesmo entendimento que têm as seis famiglias que monopolizam o “mercado de opinião” brasileiro. E não seria para menos, já que as seis famiglias têm uma representação privilegiada no Conselho.
 
Em nenhum momento vi os nossos “conselheiros” de comunicação social fazendo reparos à cobertura que a mídia comercial dá aos acontecimentos nacionais. À parcialidade dessa cobertura, às omissões dessa cobertura. Afinal, omitir uma informação propositadamente, escondê-la, também é uma forma de “fake news”?
 
Não, o nosso Conselho não considera que a cobertura engravatada, cinicamente isenta da grande mídia comercial produza “fake news”.
 
Notícias falsas, devem pensar eles, como pensa o pessoal da Lava Jato, notícia falsa é coisa da imprensa independente, dos blogs progressistas; é coisa de quem discorda do neoliberalismo, do jornalismo de mercado, dos economistas de mercado, das assessorias dos bancos.
 
Notícias falsas são coisas do Nassif, do Paulo Henrique, do Rosário, do Esmael, do Eduardo Guimarães, do Miro, do Raimundo Pereira, do Emir Sader, do Fernando Brito, do Fernando Moraes, do Breno Altman, da Tereza Cruvinel, do Leonardo Attuch, do Ricardo Kotscho, do Marcelo Auler, do Mino Carta, do Sérgio Lírio, do Bob Fernandes, do Plínio de Arruda Sampaio e do Paulo Nogueira, in memoriam.
 
Enfim, de todos aqueles que dessoam do pensamento único; daqueles que, como o “Libertacão”, o “Amanhã”,o “Movimento”, “O Pasquim”, o “Coojornal”, “O Lampião”, o “Opinião”, “Os Cadernos do Terceiro Mundo” tentaram furar o bloqueio da ditadura militar, assim como os jornalistas e os blogs citados tentam, hoje, furar o bloqueio dos donos do “mercado da opinião”.
 
Em sua última reunião, o Conselho soltou uma nota indignada contra a agressão que jornalistas teriam sofrido durante a greve dos caminhoneiros. Até aí, tudo bem. Assino também. No entanto, os nossos “conselheiros” não produziram uma vírgula de reparo, de crítica ao comportamento da grande mídia comercial no decorrer do movimento.
 
As seis irmãs que monopolizam, o “mercado de opinião” no Brasil exageraram na parcialidade, na desinformação, na divulgação de meias-verdades, no espalhamento de factoides. Tomaram claramente um partido, o partido do mercado, do Parente, das importadoras, das petrolíferas transnacionais.
 
Não houve espaço para o contraditório na cobertura dos controladores do “mercado de opinião”.
 
E isso, caríssimos conselheiros de comunicação desta Casa, isso não leva a notícias falsas? Isso não pode ser caracterizado com o “fake news”?
 
Além de parcial, mentirosa, partidária, a cobertura da greve dos caminhoneiros foi também negligente, preguiçosa. Vejam o que se divulgou sobre o desabastecimento dos supermercados, do comércio em geral.
 
Dia seguinte à greve relevou-se que o pânico açulado pelas seis “famiglias” que fazem a contravenção no mercado de opiniões não procedia, era “fake”.
 
Com tanta falta de alimentos e de mercadorias, como foi alardeado, o que aconteceu dia seguinte ao fim da greve foi então uma obra divina, um novo , milagre da multiplicação dos pães e peixes?
 
A composição do Conselho de Comunicação Social muda, de tempo em tempo, no entanto, o compromisso com os donos do “mercado de opinião” permanece. Pois não é que o Conselho, em sua composição anterior, posicionou-se contra o meu projeto de “Direito de Resposta”, aprovado aqui e na Câmara dos Deputados?
 
Refletindo a vontade de seus patrões, os conselheiros pouco se importaram com mais essa tentativa de democratizar o acesso dos cidadãos aos meios de comunicação.
 
Imaginem, assim, a opinião de “nossos ” conselheiros em relação a medidas antimonopólio há tempo adotadas pelos Estados Unidos e alguns países da Europa, que proíbem a propriedade cruzada de meios de comunicação. Aqui, qualquer tentativa de quebra do monopólio é imediatamente classificada como atentado à liberdade de imprensa.
 
Enfim, liberdade de imprensa é, para o Conselho de Comunicação Social do Congresso Nacional, assim como é para Organizações Globo, a Folha, o Estadão, a Veja, a RBS, o Correio Braziliense, o Estado de Minas, o Jornal do Commércio, e outros monopólios regionais, liberdade de imprensa é a liberdade irrestrita, radical, total de manipular as informações, de conduzir e induzir a opinião pública; de controlar o “mercado de opinião”
 
O princípio básico do jornalismo, que é o de buscar a verdade nos fatos não tem nada a ver com o jornalismo praticado pelos que dominam, açambarcam, monopolizam a comunicação social no país.
 
E atentado à liberdade de imprensa é qualquer coisa que se oponha ao monopólio.
 
Sendo assim, para que precisamos de um Conselho de Comunicação Social se ele é a reprodução escancarada do pensamento dos controladores do “mercado de opinião”?
 
(…)
 
Leia o discurso na íntegra clicando aqui.
Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

3 Comentários

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  1. Os golpistas ou fascistas

    Os golpistas ou fascistas aprenderam e agora dominam o mercado de opiniões!

    São blogs de direita, são analistas, são os Likes do G1, do Globo, da Folha, do Estadão e de tudo onde eles puderem mostrar volume…

    No Youtube, o Facebook no compartilhamento do antipetismo…

    Devem gastar dinheiro com fazendas de Likes, de robôs para atacar e manter suas opiniões ainda que a miséria e o desconforto comecem a atingir muito mais que os mais pobres…

    O mercado de opinião está podre e levará muitos milhões a miséria!

    O duro disso tudo é você entender que trilhões já desapareceram e vão desaparecer e as pessoas continuam acreditando que estamos no caminho certo…

    E isso inclui nossas instituições que nunca foram nacionalistas, nem gostam do povo brasileiro!

    1. É a situação não nos é favorável, mas nunca foi

       

      Marcos Antônio (quarta-feira, 27/06/2018, às 22:45)

      A esquerda precisa ter consciência que a tarefa dela é difícil. À esquerda cabe realizar a civilização. A manutenção do “status quo” ou a tentativa do retrocesso cabe à direita. E a direita sempre foi maioria. Apesar de toda essa dificuldade o que se observa é que caminhamos em direção à civilização.

      Enfim, nem tudo está perdido quando há uma esperança. E a esperança é maior quando se percebe que não é o domínio do mercado de opiniões que faz a direita comandar o mundo. Não há como impedir a direita de dominar o mercado de opíniões, mas não é o domínio do mercado de opiniões que inviabiliza o trunfo da esquerda. O que faz a direita comandar o mundo é ela encontrar eco na sociedade para o seu discurso. É a sociedade que precisa mudar primeiro para que a esquerda possa ser a maior.

      A sociedade não se deixa levar pela opinião de um jornalista qualquer e não há um jornalista no Brasil que não possa ser chamado de um jornalista qualquer principalmente se chamar um jornalista de um qualquer significa dizer que ele não forma a opinião de mais de meia dúzia de admiradores.

      Então é preciso ser otimista no sentido de perceber que a sociedade evolui na direção da civilização e que esta é obra do esforço da esquerda. E ao mesmo tempo ter o senso de realismo para compreender a desproporção da força da esquerda com a força da direita. Desproporção que se agiganta quando se percebe o quanto é acentuado no Brasil a desigualdade de renda e de oportunidade.

      Clever Mendes de Oliveira

      BH, 28/06/2018

  2. Título inapropriado ao discurso de Roberto Requião

     

    Jornal GGN,

    Não creio que este deveria ser o título do discurso proferido pelo Senador Roberto Requião. Ele falou foi sobre notícias falsas e o entendimento que a grande mídia tem sobre notícias falsas. Pouco falou sobre meias verdades que são difíceis de serem definidas.

    Hoje o professor de relações internacionais na FGHV, Matias Spector publicou um artigo – “Coalizão contra Lava Jato aproveita Copa para matar a operação” que é na totalidade uma notícia falsa. Talvez se pressionado ele venha dizer que é um artista da palavra e, portanto, ficcionista e, como José Padilha, ele pode complementar afirmando que as ficções têm a prerrogativa de liberdade de adaptação”. Enfim, ele não precisa ficar preso aos fatos. Deveria caber a ele e ao jornal a possibilidade de prisão por publicar falsa notícia assim na maior sem cerimônia.

    Na Folha de São Paulo o artigo saiu com um título menor “Como matá-la”. E nos blogs da Folha o artigo pode ser visto com o título grande no seguinte endereço:

    https://www1.folha.uol.com.br/colunas/matiasspektor/2018/06/coalizao-contra-lava-jato-aproveita-copa-para-matar-a-operacao.shtml

    E o Jornal GNN a menos que queira defender a corporação jornalística deveria ter dado mais destaque a artigo que ainda que de má qualidade serve para mostrar como se forjam os estereótipos e estes são manipulados na grande mídia. Era um campo aberto para a crítica ao jornal Folha de S. Paulo que com a necessidade de angariar leitores de toda a vertente acaba publicando todo tipo de opinião independentemente de quão falsa seja a opinião.

    Clever Mendes de Oliveira

    BH, 28/06/2018

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