Carvalhosa, o moralismo e a Lava Jato: uma questão de negócios, por Luis Nassif

O que leva um advogado octagenário, bem sucedido, a se tornar um troll de Twitter, propondo o fogo do inferno para os ímpios, prisão para Ministros do Supremo e o escambau?

O advogado em questão é Modesto Carvalhosa, velho advogado comercialista paulista, da melhor estirpe quatrocentona. Conheço-o desde os idos dos anos 70, quando se discutia a nova Lei das Sociedades Anônimas. Jovem repórter do caderno de investimentos da Veja, eu ouvia Carvalhosa para obter frases de impacto, Fábio Comparato e jovens advogados de futuro, como Aryoswaldo Mattos Fiho, para conseguir análises e explicações.

Carvalhosa já tinha o estilo histriônico de hoje e o utilizava muito bem como ferramenta do seu marketing profissional. Conseguia espaço na mídia dando o lead e, através dele, incrementava seu escritório.

O Carvalho tuiteiro é apenas um upgrade do mancheteiro dos anos 70.

No Twitter, há duas maneiras de receber mensagens. Uma, seguindo o autor das mensagens. Outra, seguindo alguém que retuíte as mensagens de terceiros. Não sigo Carvalhosa e constantemente sou brindado com suas mensagens, sem que ninguém as tenha retuitado. Significa que as mensagens estão sendo impulsionadas. Isto é, alguém paga para que essas mensagens consigam alcançar outros públicos.

Nenhuma novidade. Acontece o mesmo com Augusto Nunes, José Roberto Guzzo e outros jornalistas que aprenderam a “lacrar” em mensagens curtas. Provavelmente sao agências a serviço do lavajatismo selecionando tuítes “lacradores”.

Mas, no caso de Carvalhosa, o buraco é mais embaixo.

Analise o tuíte abaixo.

A tal reportagem do Crusoé limitava-se a publicar um e-mail de Marcelo Odebrecht – provavelmente vazado pela Lava Jato – em que informa que existe um “amigo do amigo do meu pai”, que provavelmente seria Toffoli. O e-mail é do tempo em que Toffoli era Advogado Geral da União. E o e-mail não menciona nenhuma irregularidade ou tentativa de irregularidade.

Portanto, Carvalhosa sabe que não serviria sequer para uma manchete em jornal sério. Por que se comporta assim, então?

A idade estaria nublando a razão? Pelo contrário, Carvalhosa está mais atilado que nunca e descobriu no Twitter o maior impulsionador dos seus negócios advocatícios. Isto mesmo !

O bravo Carvalhosa é sócio da Lava Jato em uma reedição da class action, pela qual advogados espertos dos EUA arrancaram US$ 3 bilhões da empresa, com participação direta da Lava Jato. Poderá ser o maior negócio de sua bem-sucedida carreira de advogado.

Entendendo o golpe contra a Petrobras

Legalmente, uma empresa de capital aberto pertence aos seus acionistas. Há duas maneiras da corrupção incidir sobre a empresa.

A primeira, é quando a corrupção é em benefício da empresa. Isto é, permite fechar contratos, aumentar as vendas das empresas e o valor das ações. Se é propriedade de todos os acionistas, todos ganharam com a corrupção – mesmo sem estar diretamente ligado a ela. Logo, é justo que a empresa pague pelo praticado a quem perdeu – as empresas, clientes ou competidores vitimas da corrupção.

A segunda, é quando a empresa é vítima da corrupção. Se é vítima, significa que foi prejudicada.

A Petrobras claramente se enquadra nessa segunda situação.

Se foi prejudicada, o prejuízo incidiu para todos os acionistas. Ou seja, TODOS os acionistas perderam.

Se uma parte desses acionistas aciona a empresa para ser indenizada, o valor da indenização incidirá sobre o conjunto restante de acionistas. Portanto, um grupo de acionistas espertalhões, assessorados por advogados espertalhões, estão avançando sobre o patrimônio dos demais acionistas que perdem duas vezes: pelos desmandos dos executivos da companhia, e pelas indenizações pagas a apenas uma parte dos acionistas.

Pode-se separar os acionistas entre os antigos e os que adquiriram as ADRs da Petrobras. Mas a lógica vale para todos.

O cálculo da indenização

Há vários indícios de que houve corrupção no acordo firmado com os órgãos americanos.

Primeiro, no cálculo da corrupção da Lava Jato. A Lava Jato inferiu que a corrupção foi de 3% sobre todas as obras do período, baseada na tal tabela Barusco – que indicou esse percentual de propina em algumas obras. Incluiu-se até um ajuste contábil nessa conta, o impairment, uma baixa no balanço ligada exclusivamente à queda nas cotações internacionais.

No início, imaginou-se que esses erros básicos de cálculo se deviam apenas aos exageros da Lava Jato, para mostrar serviço. Mesmo porque as propinas saíam da margem de lucro das empreiteiras.

Quando foi negociada a class action, percebeu-se a extensão da manobra: serviriam de base para os pedidos de indenização, nas ações abertas nos Estados Unidos.

Ora, era evidente que a queda no valor das ADRs  se deveu a dois fatores: queda nas cotações internacionais de petróleo (que obrigaram ao impairment, isto é, à readequação dos valores contábeis às novas expectativas de faturamento) e o terrorismo disseminado pela Lava Jato, inclusive levando provas documentais para o Departamento de Justiça processar a empresa. A incógnita era o tamanho da multa e as represálias a que a Petrobras estaria sujeita.

Mesmo com todas essas manobras, os valores apontados não chegavam a US$ 1 bilhão. E a Petrobras, com aval da Lava Jato, pagou US$ 3 bilhões para acabar com as ações americanas. Não há nenhuma explicação para o valor pago. O acordo dependia apenas da concordância das partes – a Petrobras representada por Pedro Parente e a supervisão da Lava Jato.

E onde entra nosso bravo Carbonário, o Carvalhosa? Ele abriu uma class action para investidores brasileiros, nas mesmas bases do americano. Deu para entender seu empenho em defender a Lava Jato?

Não se trata da última batalha de um patriota em defesa de sua terra, mas a maior tacada de um advogado no fim da sua vida, explorando a indústria da anticorrupção inaugurada pela Lava Jato, e sem a menor preocupação com instituições, com o país e com a moralidade.

Aliás, nos próximos dias, o juiz Jed Rakoff, da class action, que presenteou um escritório obscuros, o Pomeranzt, conferindo-lhe a liderança das ações nos EUA, estará em São Paulo palestrando em um evento, ao lado do nosso bravo Carvalhosa.

Luis Nassif

Luis Nassif

View Comments

  • O juiz agia como se fosse um político, o procurador tentou virar empresário com dinheiro ilegalmente obtido no processo e agora o advogado pensa que é carcereiro de Ministros do STF. Se tivesse imposto limites aos abusos da Lava Jato o STF teria evitado várias confusões.

  • O texto é finalizado focando na exploração da indústria da anticorrupção sem preocupação por parte destes aproveitadores com o país e com a moralidade.
    Infelizmente, falar em moral para pessoas ou grupos que lucram extorquindo seu país, seu povo e as instituições, é como pregar no deserto.
    Tudo bem que este já está velhinho e daqui a pouco 'canta pra subir', mas tem muito novinho nesta trilha hipócrita.

  • Percebe-se que toda a "maquinação" ocorreu entre o DoJ/CIA/PETROBRAS/MPF... uma sacanagem combinada entre todos, daí as maneiras pelo menos "não convencionais" na partilha do butim, e a rapidez na realização dos pagamentos... ou seja, um crime premeditado, que não contou com a presença dos representantes legais do país, uma vez que grande parcela foi atribuída ao "governo brasileiro", que o MPF criminosamente se diz representar e inclusive CRIAR UMA ONG FANTASMA, controlada pelo MPF de cu-ritiba... rapidamente HOMOLOGADA pela juíza da 13ª VF de cu-ritiba (quem lhe outorgou tais poderes ?) consolidando o TRAMBIQUE e as formas "legais" de fazer o "acerto" da quadrilha do lado de cá... existem alguns personagens que não estão aparecendo "oficialmente" na trampolinagem, mas pela importância na questão, pode-se presumir quem são...
    numa tramóia dessas dimensões, qualquer "percent" representa valores altíssimos, suficientes para resolver a vida financeira de qualquer pessoa...
    Explica também o ódio que devem estar sentindo da PGR, que jogou água no chope dos larápios... e dos membros do STF, que suspenderam a "operação"... daí a campanha midiática movida contra ministros da suprema Corte... Com certeza, nessa "parada" não foram "convidados" para participar.
    Será que esse pessoal da FARSA JATO pensou que ninguém iria perceber a extensão do golpe ? Acham que os grandes centros não possuem "raposas" acostumadas com essas trapaças ? Vamos continuar a cobrar a definição desse e de outro "trampo" feito com a ODEBRECHT, de R$ 8,5 BILHÕES, que tornou-se "secreto"... inclusive para o próprio Governo... Cabe ao STF passar a limpo essas duas "operações" e outras realizadas nos mesmos moldes...e não se esqueçam do Pedro Parente... O jurista Carvalhosa já devia estar se preparando para receber os valores dos seus "clientes"... e viu a grana escorrer entre os dedos...

  • Tem pessoas que envelhecem e torna-se como o melhor vinho; mas tem gente que apesar da idade não envelhece e sim tornam-se velhaco, este é o caso deste oportunista, que em pouco tempo morre até mesmo para a história sem necessidade de imaginar a eternidade.

  • Não sei porque essa gente quer tanto dinheiro e poder. Deviam honrar seu país, sua gente ao invés de ficarem passando vergonha. Gente estupida!

  • Em tempos obscuros surge sempre o "homem referencial", o "homem sem macula", o "homem de bem", o mais puro entre os puros, são os piores, atras do falso moralismo surge o mercador de
    tudo, o fuinha de qualquer negocio, o espancador de mulheres, o adulador, o falso amigo, desde
    tempos remotos esse personagem reaparece em tempos sombrios, é a velha UDN carioca rondando os quarteis, é o Senador Joseph McCarthy, acusando todos de comunistas até ser desmascarado
    como canalha, nada há de pior na humanidade do que o moralista apontando o dedo para os impios.

    • Sr. André Araujo ,o senhor foi no ponto/touché, acabei de ler um toupeira canalha que me deu vômito e como foi dito: "Em tempos obscuros surge sempre o “homem referencial”, o “homem sem macula”, o “homem de bem”, o mais puro entre os puros, são os piores, atras do falso moralismo surge o mercador de
      tudo, o fuinha de qualquer negocio, o espancador de mulheres, o adulador, o falso amigo, desde
      tempos remotos esse personagem reaparece em tempos sombrios, é a velha UDN carioca rondando os quarteis, é o Senador Joseph McCarthy, acusando todos de comunistas até ser desmascarado
      como canalha, nada há de pior na humanidade do que o moralista apontando o dedo para os impios.(andre araujo) . # acrescentando: ao velhaca toupeira: me engana que eu gosto#

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