Andre Motta Araujo
Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo
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É o governo quem faz a política econômica, por André Araújo

Por André Araújo

É O GOVERNO QUEM FAZ A POLÍTICA ECONÔMICA – A excelente entrevista do Professor Yoshiaki Nakano traz ao centro do debate uma visão óbvia sobre o eixo central da política econômica, que deve ser definida no topo do Governo e não na burocracia do Banco Central, porque são as ferramentas básicas para a operação real da política econômica.
 
A definição da POLÍTICA CAMBIAL e da POLÍTICA DE JUROS não pode ficar a cargo da mesa de operações do Banco Central. As consequências de decisões tomadas nessas salas e mesas afetam toda a economia.
 
Quem decide vender swaps cambiais à altura de mais de centenas de bilhões de Reais ? Qual a justificativa e qual a ancoragem dessa decisão no conjunto da política econômica? Porque o dolar está abaixo de R$3,50 hoje, quando o nível econômico para viabilização de grande número de exportações é no piso de R$4,00?
 
A opção pelo nível ideal de taxa de câmbio é algo fundamental na política macro econômica. E não venham com o ilusionismo de “taxas flutuantes” porque quando a mesa de operações do BC entra vendendo cobertura ou transacionando no mercado à vista, o câmbio deixou de ser livre, o intervencionismo do BC acaba com a ilusão de um mercado puro.
 
O mesmo acontece com a taxa de juros, a definição de taxa do COPOM atende a que objetivo? A conta de juros em 2016 para o Tesouro será de R$600 bilhões, 10% do PIB, quem decide isso, só burocratas? Esse é o coração da política macro econômica, foram erros na taxa de câmbio e na taxa de juros, e não a falta de ajuste fiscal quem jogou no fundo do poço a economia brasileira de hoje, erros monumentais tomados por meia dúzia de holeriths do BC em nome de quem?
 
Não pode ser decisão INTERNA CORPORIS do BC, copiando o Federal Reserve americano, que opera em premissas completamente diferentes de uma economia emergente e em crise como a brasileira.
 
As decisões MACRO ECONÔMICAS devem ser do Governo, do Palácio do Planalto, é uma tola ilusão achar que meia dúzia de burocratas de currículo medíocre tem a sapiência de saber qual a taxa de câmbio e a taxa de juros ideal para os graves problemas da economia brasileira, já demonstraram que tem propensão ao erro em escala altíssima.
 
Terceirizar a politica econômica para o Banco Central é grave equívoco. A politica econômica é POLÍTICA DE GOVERNO, o Presidente, quem quer que seja, deve ser parte da decisão, assessorado por especialistas de sua confiança e não ficando vendido na mão do Banco Central. Nos EUA, que aqui os de mercado copiam em quase tudo, o Presidente tem um CONSELHO DE ECONOMISTAS da Casa Branca (Council of Economic Advisors) para aconselhá-lo sobre política econômica, o Presidente não fica vendido pelo Fed, ele INTERAGE com o Fed o tempo todo, os interesses do Tesouro são tão importantes como os do Fed , há uma gerência de operação dia-a-dia que é do Fed, MAS A VISÃO DE LONGO PRAZO DA POLÍTICA ECONÔMICA é da Presidência, assim é tambem na Inglaterra, na União Europeia e no Japão, não se delega ao Banco Central a vida do País, os burocratas do Copom não são gênios e podem erar e costumam errar e muito.
 
Deve voltar à plena operação o CONSELHO DE POLÍTICA MONETÁRIA que deve ser o locus de discussão de taxa de juros e taxa de câmbio, assim era nos tempos de Roberto Campos e Otavio Gouveia de Bulhões, eles não delegavam ao BC a política cambial e a política de juros, essas devem ser discutidas em NÍVEL ACIMA DO BANCO CENTRAL. Do Conselho de Política Monetária, hoje esquecido devem participar o Ministro da Fazenda e o Presidente do BC, originalmente havia representantes da economia produtiva para falar em nome do empresariado, esse modelo deve ser restaurado, a economia produtiva que é quem sustenta o Estado e dá os empregos é mais importante que a burocracia do BC e deve ter voz e peso nas decisões de longo prazo da política econômica.
 
Alan Greenspan, o célebre presidente do Fed por 14 anos, começava o dia telefonando para empresas da economia produtiva perguntando quantas telhas venderam, quantas pias, quantos pneus, a partir de uma miríade de informações é que ele começava a operar. O nosso BC, através de seu parcialíssimo BOLETIM FOCUS opera exclusivamente com “inputs” do mercado financeiro, é a única “turma” que importa ao BC, afinal são todos coleguinhas, de lá eles saem e para lá eles voltam, os departamentos de economia dos bancos alimentam o FOCUS com “targets” daquilo que eles acham que seriam a taxa ideal de câmbio e de juros MAS ideal para eles e não para o País, e a partir dai o BC se baliza, é inacreditável.
 
Parabéns ao Professor Nakano pelo excelente artigo, um dos grandes economistas brasileiros com o pé na realidade.
Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

17 Comentários

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  1. Sinto esse problema do câmbio.

    Sou exportador de serviços, todos os meus clientes estão fora do Brasil e essa variação grande do USD toda semana/mês realmente mata qualquer planejamento financeiro. Aproveitando esse assunto de câmbio um desabafo, o Itaú me tira 5% da cotação no fechamento mais R$ 105 de tarifa o que é um absurdo na minha opinião para uma transação eletrônica. Quer dizer, para cada câmbio que faço o banco fica com 5% + R$105. Eles alegam que o câmbio pode variar entre a minha compra e a venda para um outro cliente. Mas variar 5% é muito pouco risco, ganho fácil. Mesmo em um dia de alta volatilidade o USD não varia mais de 1,5%, raramente 2%. Reclamei no Banco Central e repassaram para o Itaú que por sua vez basicamente disse “você é livre para fazer câmbio em outro banco e as regras do BC me permitem cotar o valor que eu quiser”. Tudo bem, “livre mercado”, mas na prática todos sabem que não é fácil mudar de banco aqui, os outros agem da mesma forma, fechar uma conta PJ e abrir em outro, fazer com que seus clientes alterem os seus sistemas de pagamento para outro banco, SWIFT, IBAN, etc não é rápido e fácil. Enfim, somente um desabafo.

    1. Há clara manipulação das

      Há clara manipulação das taxas de cambio pelo sistema bancario e a SSOCIAÇÃO DOS EXPORTADORES BRASILEIROS  está com um trabalho para preparar uma ação de cartel contra os grandes bancos que estão espoliando os exportadores.

      O cambio é o departamento de maior lucros nos grandes bancos pelos absurdos spreads que eles praticam SEM RISCO, quando eles compram a moeda já esta vendida, eles não estocam moeda estrangeira e nem podem pelas regras do BC, portanto essa estoria de risco é lenda, eles casam compra e venda em segundos.

      1. André, você concordo com o

        André, você concordo com o Bresser que diz que o dólar abaixo dos R$ 3,60 é prejudicial a nossa indústria e prejudica a balança comercial?

        1. O dolar deveria estar por

          O dolar deveria estar por volta de R#4,50 em linha com os preços no Brasil frente ao preço dos mesmos produtos nos EUA.

          As frutas aqui no Brasil estão mais CARAS do que nos Texas.

  2. A coisa piorou.

    A coisa já era ruím com o controle dos banqueiros, que eles sempre tiveram e exercitaram livremente, sobre as decisões do Banco Central. A coisa piora quando eles resolveram comprar todo os principais instrumentos judiciário e seus órgãos auxiliares para assumir o controle da política partidária do país. Ai, sim, a coisa piorou e virou essa SOPA que estamos assistindo.

  3. Nunca entendi, sobre esse

    Nunca entendi, sobre esse aspecto concordo plenamente com o articulista, o porquê de se concentrar nas mãos de burocratas mais afeitos a equações diferenciais e integrais, muitos dos quais egressos ou ainda vinculados ao Sistema Financeiro, a responsabilidade de fixação da Taxa Básica de Juros da Economia. 

    O interessante, ou mesmo bizarro, é que ao Conselho Monetário Nacional – CMN, órgão superior do sistema financeiro(incluindo o próprio BACEN), são atribuídas competências, dentre outras não menos relevantes:

    – adaptar o volume dos meios de pagamentos às reais necessidades da economia nacional e seu processo de desenvolvimento;

    – regular o valor interno da moeda, prevenindo ou corrigindo os surtos inflacionários ou deflacionários de origem interna ou externa;

    – orientar a aplicação dos recursos das instituições financeiras públicas ou privadas, de forma a garantir as condições favoráveis ao desenvolvimento equilibrado da economia nacional. 

    A partir desse básico vem responsabilidades específicas, a destacar:

    – autorizar as emissões de papel-moeda;

    – aprovar os orçamentos monetários provindos do BACEN;

    – fixar diretrizes e normas da política cambial;

    – estabelecer normas a serem seguidas pelo BACEN nas transações com títulos públicos;

    Etc etc etc 

    O problema é que a velha e decantada “sapiência” nacional e sua mania de inventar e reinventar a roda, nunca perde a viagem: deu a um colegiado responsabilidades vitais, portanto imensas, para a consecução da Política Econômica(lato senso) porém restritas ao campo NORMATIVO. Nem a fixação da SELIC, uma variável fundamental em toda a cadeia de vasos comunicantes da estrutura econômica, foi lhe dada a capacidade de – pelo menos – revisar. 

    Extrapolando o tema, há de se observar que tal disfuncionalidade se espalha por todo o edifício institucional do país. A Constituição de 1988, a par da sua prolixidade abrangente,  foi longe demais no seu afã reformador, ao ponto de, se não subverter, mas sem sombra de dúvidas decompor a soberania do Estado, que deveria ser una e convergente,  em compartimentos estanques; em ilhas de Poder. 

     

    1. Meu caro Costa onde estão os

      Meu caro Costa onde estão os grandes formuladores da politica economica brasileira hoje?  Não existem. Tivemos no passado Roberto Campos e Delfim, que tinham visão macro da economia e naqueles tempos o presidente do Banco Central era um detalhe, o BC era  executor da politica economica MAS não mandava na politica. A eminencia do Banco Central nasceu após o Plano Real que deu lhe o poder, o BC tomou gosto e hoje manda na politica economica sem ter sido desenhado para isso e sem ter compromissos com a economia produtiva e com uma visão de longo prazo da economia do Pais, o resultado ai está, uma BRUTAL RECESSÃO causada pela taxa de cambio e pela taxa de juros, o desajuste fiscal é ruim mas não é  ele quem causou a recessão.

      1. Concordo. O Banco Central foi

        Concordo. O Banco Central foi uma dessas “ilhas” de Poder advindas com as reformas das nossas instituições. Passou a se referenciar a si mesmo ou àqueles com quem mais se afina, no caso à “Banca”. No aparato repressivo,  o similar é Ministério Público. Só que com uma diferença: este pelo menos tem um autonomia formal pela Constituição; já aquele, não. 

  4. O que dizer? Em resumo: A

    O que dizer? Em resumo: A entrega da política econômica ao Banco Central – ou seja, ao mercado financeiro – é a verdadeira causa do fracasso (quando adotamos uma perspectiva de longo prazo) dos governos Lula e Dilma. A ela renunciaram e ficaram restritos às políticas sociais e , no caso de Lula, a uma política externa muito bem concebida, inclusive do ponto de vista de suas consequências econômicas.

    Dilma ainda tentou reverter esse acordo, que estava implícito na carta aos brasileiros, durante parte do seu primeiro mandato, porém o vez de forma inábil (desonerações fiscais, etc.). No final rendeu-se à lógica do mercado. 

    Terminado o período no qual condições excepcionalmente favoráveis permitiram conciliar a entrega da política econômica ao mercado e a execução das políticas sociais pelo governo, a conta chegou na forma de um golpe, ao qual se seguirá a destruição das próprias políticas sociais e externa.

    É extremamente frustrante que a inviabilidade no longo prazo desse acordo não tenha sido percebido desde o início, pois era óbvio que não se podia abdicar da construção de um projeto desenvolvimentista. Foi como se tudo o que foi pensado e discutido durante o século XX, por Celso Furtado e tantos outros, nada valesse.

  5. País que não investe em

    País que não investe em coisas que podem ser embrulhadas [Delfim Neto] vai ser embrulhado pelo pessoal do setor financeiro.

  6. So queria entender

    Crédito mais caro e menos acessível, economia em queda, maior risco de desemprego e endividamento das famílias. Esse é o cenário traçado em momento de aumento da taxa básica de juros, a Selic. Mas, o aumento dos juros é considerado um “mal necessário” por economistas e pelo Banco Central (BC) para conter a alta dos preços, que corrói a renda dos trabalhadores.

    “Em uma economia que já está em retração, subir juros agrava mais esse quadro. Mas é aquela história do mal necessário. Melhor subir juros para poder reduzir a inflação do que não fazer nada e ver o risco subir”, disse diretor da Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) Miguel José Ribeiro de Oliveira.

    diretoria do BC tem reiterado que a melhor contribuição da instituição para um novo ciclo de crescimento econômico é trazer a inflação para a meta de 4,5% no final de 2016 e ancorar as expectativas.

    A taxa é usada nas negociações de títulos públicos no Sistema Especial de Liquidação e Custódia (Selic) e serve como referência para as demais taxas de juros da economia. Ao reajustá-la para cima, o BC contém o excesso de demanda que pressiona os preços, porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança.

    A paulada veio e a taxa Selic aumentou em 0,75%, com a sinalização de que, até o final do ano, estará próxima dos 12%. A “paulada” foi dada, mas nos investimentos. Elevar a taxa básica de juros, a Selic, é um crime contra o investimento produtivo. A intenção do presidente do Banco Central, de dar uma “paulada” nos juros, significa um tiro de canhão nos investimentos, justamente em um momento que o País precisa investir para que não haja inflação de demanda (março de 2010 foi o melhor mês da história da indústria de máquinas em faturamento, mas o aumento da taxa de juros poderá comprometer a continuidade desta recuperação).

    Todo mundo sabe que qdo se iniciou o aumento da Selic pra supostamente controlar a inflação, algum coisa estava mal contada nesta estória. Até aqueles que não entendem bulhufas de economia, como eu mesmo, percebia que a inflação era exclusivamente causada pelos preços administrados, não existia, sequer qualquer coisa que lembrasse pressão inflacionaria causada por demanda. O sinal da débil inflação foi causada pelo controle do governo na gasolina e na energia elétrica, nada mais do que isto. Foi a politica do aumento constante da selica que jogou a economia no buraco que se encontra hoje.

    Todo mundo sabe disto.

    1. .

      E muito provavelmente esta desgraceira toda que afundou a economia brasileira foi feita de caso pensado, justamente pra desestabilizar definitivamente o fragil governo da Dilma. Infelizmente ela não percfebeu isto…

    2. Essa é uma tesa BURRA de

      Essa é uma tesa BURRA de pensadores MONOTRILHO, só trafegam em um trilho de cada vez. Gestão de politica economica é uma COMBINAÇÃO de instrumentos, é fundamental ter noção de  prioridades, hoje o mais importante é sair da recessão, não é “”entregar”” a meta de inflação, alem do que juros altos na teoria classica são para combater excesso de demanda, coisa que não existe hoje. Esses executivos de finanças falam por interesse proprio, juros altos irrigam suas tesourarias e é isso que para eles interessa.

  7. O papel pretérito da Carteira de Comércio Exterior do BB

    Não existem mais no país mecanismos que dêem “liga” entre o câmbio e a competitividade das empresas exportadoras. Até os anos 90, a Carteira de Comércio Exterior do Banco do Brasil era a principal inteligência na gestão cambial e de comércio exterior brasileiro. Era lá que afunilavam os interesses dos operadores de comércio exterior – empresas e trading – e de câmbio.

    A CACEX e o Câmbio BB concebeu inúmeros mecanismos de Financiamento e de Pagamento do Comércio Exterior, muitas dessas ideias incorporados internacionalmente em produtos e operações do glamourizado mercado de “Trade Finance” (hoje predominando as praças de Genebra, Dubai, Londres e Singapura). Não dá para imaginar as exportaçòes brasileiras sem as estruturas de um ACC/ACE, de um PROEX-Exportção e Equalização. Mecanismos esses estruturados graças a uma geração de funcionários graduados do BB, quadro único de inteligência do comércio exterior brasileiro.  

     

     

     

    1. Falou muito bem, a CACEX,

      Falou muito bem, a CACEX, onde eu trabalhei, era a alma do comercio exterior brasileiro, extinta no Governo Collor, que tinha outros planos para o comercio exterior, inclusive terceirizar a fiscalização para a SGS-Societé Generalle de Surveillance, empresa suiça muito presente na Africa. A desmontagem da CACEX foi um crime e um erro, destruiu cinquenta anos de experiencia e  e inteligencia sobre o comercio exterior, nos tempos da CACEX pequenas e medias empresas exportavam muito,lembro da Metalfrio e suas camaras frigorificas para a Nigeria, tornos mais simples da Nardini, injetoras da Semerararo,

      a CACEX tinha um cartão eletronico para agilizar os financiamentos, era completamente diferente de hoje quanto exportam grandes empresas, as pequenas e medias sumiram das exportações porque desapareceu o suporte da CACEX, o Brasil era campeão em maquinas para cortar madeira, maquinas para ceramica, maquinas para beneficiamento de arroz, há um grande setor de maquinas mais simples que já não se fabricam na Europa, Japão e EUA, onde tudo hoje é muito sofisticado.

  8. Nassi, faça uma matéria sobre

    Nassi, faça uma matéria sobre o cânone do tripé macroeconômico (metas de inflação, dólar futuante e superávit primário) defendido pelas campanhas dos candidatos Aécio Neves e Eduardo Campos como a salvação para o Brasil.

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