Elogio acadêmico à caserna, por Marcos Silva

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Elogio acadêmico à caserna

(Carlos Guilherme Mota, O estado de São Paulo e o Brasil em 2019)

por Marcos Silva

Carlos Guilherme Mota, Historiador e Professor do Departamento de História da FFLCH/USP, foi entrevistado pelo jornal O estado de São Paulo (21 de janeiro de 2019) e o resultado mereceu o título “Os militares se prepararam, os partidos não”. Uma entrevista não é gênero de escrita semelhante à de livro ou artigo erudito mas historiadores continuam a ser historiadores nessa e noutras formas de expressão verbal. Para quais objetivos esses militares foram bem preparados, para que os historiadores falam sobre eles? Para quais objetivos os partidos estariam despreparados? Não há relações de poder em jogo? Quais os sujeitos ocultos nesse cenário?

Na primeira resposta, Mota indica seu principal alvo: os partidos, com exclusiva menção nominal ao PT. Configura, portanto, um “Império do Mal”, retomando argumento presente nas jornadas políticas brasileiras de 2013, quando bandeiras partidárias foram proibidas em algumas manifestações públicas. Os partidos são o Mal e o PT é o Mal do Mal. Não há qualquer análise sobre conteúdos concretos de partidos e governos – Carlos opta, em relação ao PT, por um genérico “ao longo do tempo, perdeu seus objetivos e aderiu aos vícios da política convencional”, não indica quais objetivos nem qual política convencional. Ele anuncia um Brasil (talvez mundo) pós-partidos: novo e bem preparado é o universo militar, dotado de disciplina e estudo, valores políticos máximos – a indústria bélica não merece indicação. E reitera ainda, sem os registrar, alguns argumentos da campanha eleitoral de 2018, tanto do partido vitorioso, o PSL, quanto de derrotados anti-petistas, com destaque para o PDT e o PSDB – também despreparados?

Os militares são identificados por Mota como sujeitos, portadores de discurso competente (conceito outrora discutido criticamente por Marilena Chauí, agora reabilitado). Os partidos merecem registro apenas institucional, sem seres humanos concretos, massa informe. Os Sujeitos do Bem são o contrário do Império do Mal.

Partidos foram desqualificados e extintos pela ditadura de 1964, quando Mota já era adulto. Apesar disso, Carlos Guilherme enfatiza o respeito à Constituição pelos atuais militares no poder, donde excluir uma hipotética participação de Garrastazu Médici nos quadros atuais de governo, admitindo-a em relação a Castelo Branco. O historiador retoma a dicotomia “má ditadura grosseira” (Médici) versus “boa ditadura ilustrada” (Castelo Branco/Ernesto Geisel), defendida, dentre outros, pelo jornalista Elio Gaspari em sua série de livros sobre o período 1964/1985. Dessa forma, um golpe contra Dilma Roussef e outro golpe contra a candidatura Lula da Silva são escamoteados, uma eleição fraudada some da paisagem. Nas jornadas públicas que antecederam a derrubada de Dilma, suásticas foram e exibidas junto com elogios à ditadura de 1964, sem que militares (nem a maioria dos partidos) manifestassem repúdio a esses símbolos e memórias tão claros de torturas e matanças. Mota nada fala sobre esse horror.

Resta uma leve crítica de Carlos a Bolsonaro (“líder de estatura mediana”) e outra um pouco mais pesada a seu entorno (“orientado por gurus de meia-confecção”), sem radicalismos – mediana, meia-confecção. Mota não explica um aparente paradoxo: como aqueles militares bem-preparados, de nível tão superior, se submeteram a um líder e a seu entorno bem menores – universo do qual fazem parte, e de forma destacada? Bolsonaro e Olavo de Carvalho, no poder, existem sem Mourões, Helenos e Villas Boas? E não dá para esquecer que o suposto bom preparo dos militares (“esses militares passam por uma academia militar rigorosa”) se expressa em elogios ao torturador Brilhante Ustra (Bolsonaro) e defesa do racista branqueamento (Mourão). “Alguma coisa está fora da ordem” (verso de Caetano Veloso. “Fora da ordem”).

O elogio aos militares, por Mota, reitera a desqualificação de política e esquerdas: “(militares) Trabalham focados em tarefas e na formação de quadros, coisa que a política convencional e as esquerdas não fazem”. Formam quadros para quê? Estão focados em quê? No contexto político abordado por Carlos Guilherme, para desrespeito à Constituição, expresso na derrubada de Dilma e no incentivo à prisão de Lula sem provas! E em prejuízo de trabalhadores, ameaçados por uma reforma da Previdência assustadora. A pesquisa empírica sobre militares poderia revelar nuances, nem todos eles elogiam Ustra e branqueamento, mas empiria não é o forte de Carlos. Sua fala prima pelo impressionismo ideológico, sem força de escrita historiográfica, que depende de fontes e aparelho técnico-teórico, mais problematizações. É uma entrevista (de historiador) em apoio (de ideólogo) ao estado de coisas no Brasil de 2019.

Mota enfatiza a importância de viagens ao exterior e estudos para a formulação de projetos políticos, mencionando esses tópicos em relação aos militares em geral e evocando a experiência de Antonio Carlos de Andrade Serpa, na ditadura de 1964/1985, como adido militar em Paris e depois. Essa argumentação deixa claro que ele entende a política como derivada de elites esclarecidas por escolaridade e viagens internacionais, sem diálogo com outros setores da sociedade – trabalhadores pobres e movimentos sociais (sujeitos ocultos, talvez evocados como massa informe) nunca mais! Soluções são pacotes importados por quem se prepara e viaja. Preparar-se é nas academias, especialmente as militares. Há uma aristocracia do fuzil e do computador pessoal que, bem formada, apresenta e realiza projetos, cabendo ao resto da população obedecer. A reforma da Previdência não é tratada como problema e sim como solução ainda pouco explicitada. E aquela aristocracia tratará de seus termos porque foi bem formada. Os outros serão silenciados, tornados objetos pelos armados.

Diante disso, para que partidos, congresso (sujeito oculto) e outros espaços de debate coletivo? Não há discussão nesse horizonte, existem monólogo dos bem preparados e obediência do restante: ditadura na voz de um ideólogo.

As menções de Carlos Guilherme à universidade são muito breves, sintetizando em relação à USP: “(…) temos setores que se atualizaram, em áreas como economia, biociências, mas nas humanidades o investimento sempre foi menor”. A generalidade a-histórica “sempre” dificulta a discussão desse balanço. Existe a ansiedade pela atualização, como se saberes acumulados a duras penas servissem para nada – descarte. Os investimentos em humanidades foram menores por quais motivos? Seria conveniente explicitar quais as falhas dessas humanidades e as conquistas de economia e biociências, diferentes áreas que continuam a produzir em larga escala e merecem reconhecimento internacional, como Mota sabe. Pedaços da USP são elogiados, descaracterizando-a como universidade. E Paulo Freire é reduzido a técnicas, sem Filosofia nem Política. Mas Carlos é pródigo em elogios a instituições privadas (INSPER, IBMEC), alinhando-se à campanha do atual governo federal contra a universidade pública. E só tem olhos para São Paulo e Rio de Janeiro, negligenciando pesquisa existente nos mais diferentes estados brasileiros – Rio Grande do Norte, Acre, Rio Grande do Sul, Pará…

Carlos Guilherme encerra sua entrevista com um chamamento à valorização do estudo da História, especialmente na longa duração cultural. É um convite sedutor que Mota deveria fazer a si mesmo: sua fala carece de História – fontes, técnicas, teorias, sujeitos, problemas, perspectivas. Ela se reduz à militância situacionista, ideologia sem mais.

Candidato a novo guru, Mota enfrentará dura concorrência com inúmeros congêneres, quer na meia-confecção, quer na alta costura.

Marcos Silva – Departamento de História da FFLCH/USP

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

12 Comentários

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  1. povo, sujeito….
    se fosse

    povo, sujeito….

    se fosse olavete diria que esse cara defende a merda

    mercadológica e prefere a desumanidade da exclusão social….

  2. Já que uma desembragadora

    Já que uma desembragadora (mais uma) liberou, eu incentivo que alunos do professor Mota filmem e fiscalizem esse adorador de farda. 

    Pode ser que não, mas a aula desse senhor tem jeito de ser um proselitismo a la lavagem cerebral das casernas. Fiquem de olho, alunos. Escola sem partido já! 

  3. O artigo escrito por Marcos Silva, se necessitasse um pequeno…

    O artigo escrito por Marcos Silva, se necessitasse um pequeno resumo poderia ser resumido em uma única frase:

    Os militares brasileiros se prepararam para o que?

    Uma das vivandeiras de quartel, disfarçado de historiador, Carlos Guilherme Mota, faz no Estadão uma verdadeira ode as máximas qualidades dos militares para tutelarem a política brasileira, tirando das mãos dos partidos políticos, que para despeito e nojo destas vivandeiras, tem uma péssima qualidade, não pensarem em ordem unida e não agirem da mesma forma.

    Sem maiores delongas poderíamos dizer que Carlos Guilherme Mota prefere antes da democracia a ordem dos regimes fascistas. Sim a palavra desgastada pelas manifestações políticas de diversos grupos desde o centro a esquerda, que nominam diversos atos de repressão simplesmente como atos fascistas, encontra no artigo deste travestido historiador a excência do fascismo, ou seja, a intervenção unitária das forças armadas que se prepararam nada mais nada menos para impor a ordem fascista no país.

    A entrada dos militares na política, que está se dando de forma gradual e como diria o general Mourão, por aproximações sucessivas, somente para quem não quer ver tem uma única direção, a introdução de uma sociedade em que o povo simplesmente terá só uma função, obedecer.

    Este despotismo esclarecido que propaga Mota era um movimento característico do século XVIII, onde reis e rainhas, como Catarina, a Grande da Rússia, promovia reformas a conta gotas mantendo ainda os servos naquele país, mas modernizando-o!

    No século XX o nome deste comportamento em que grandes reis e rainhas sujeitavam o povo as suas benesses, é substituído no meio do século por algo que se veio a chamar fascismo, mais moderno, mais dinâmico mas que na realidade o povo só servia para participar de grandes manifestações programadas pelos seus líderes.

    Marcos Silva, como todo o bom historiador, não utiliza bolas de cristal para definir o futuro, mas por outro lado ele deixa claríssimo que tudo que ele fala, e principalmente a eliminação do povo como um agente passivo é simplesmente o caminho típico da instituição de um regime fascista.

    Pouco me interessa o discurso de Mota falando sobre o grau de letramento dos militares, que na realidade, usando uma figura mais chula, se for retirado o Bode da Sala, Bolsonaro, ficaremos numa sala apertada e desconfortável, mas sem a catinga do Bode.

    Alguém perguntou para mim e mais algumas centenas de milhares de brasileiros se eles não estão prontos para assumir as posições, que estes militares que participaram de cursos e palestras para poder governar o Brasil estão “preparados”, claro que não, mas esta pergunta não é necessária para as Forças Armadas, pois simplesmente elas são Forças e estão Armadas.

     

  4. Quem se recorda do livro Negro da USP?

    Figuras como este professor de história me lembram Villa, aquele outro historiador, ou ainda um outro que surfou no história do politicamente incorreto, se não me engano um tal de Fiúza. Anos atrás eu acharia  impensável uma pessoa desta como professor da USP, mas em tempos de Janaína Paschoal e tantos outros tudo é possível.  Mas para não falar de saudosismo, acho que vindo dos velhos tempos temos algumas antiguidades USPianas que costumavam frequentar o  Painel de Willian Waack. Não  a toa ele cita o INSPER. Mas sobretudo me parece mirar um cargo ou a glória na mídia.

  5. Humanidades desnorteadas

    A pífia, se não inexistente, argumentação do professor Carlos Guilherme Mota torna patente que não somente o pensamento de esquerda está nume encruzilhada, mas a própria consistência dos estudos de humanidades (“ciências humanas”) caiu num vórtice de desconcerto e descaminho. Militares são bem preparados para quê mesmo?

  6. Bons tempos em que os nossos militares tinham cérebros

     

     

     

    Armas para a regressão. Por Nilson Lage

     

    Entrei no Colégio Militar do Rio de Janeiro, na cota de filhos de civis, por concurso público, em dezembro de 1946. Tinha dez anos, completados no mês anterior.

    Foi apenas ensino básico, mas devo muito àquele semi-internato e ao Exército brasileiro. Tanto que, passados 65 anos da formatura, sinto como ofensa pessoal a presença desses generais no estranho governo que brotou da guerra híbrida desfechada contra o Brasil — ao lado de gente que exclui ciência do ensino básico, contesta Galileu e Newton, pisoteia a obra de Rondon e ameaça a integridade e unidade nacionais conquistadas a ferro e fogo por Caxias. Pessoas toscas, associadas a demagogos, negocistas e milicianos.

    “O Exército”, dizia o nosso comandante da Terceira Companhia, o então capitão Murilo Otávio de Barros, ex-combatente da FEB na Itália, “existe para garantir a paz. A pior coisa que pode acontecer a um povo é a guerra”. Por que diabos, então, meter-se na vida dos outros e esbofetear país vizinho?

    “O que é o Exército?”, perguntavam-nos, em marcha. Respondíamos: “O povo em armas”. Por acreditar nisso, participei, com militares, intelectuais, líderes de sindicatos de trabalhadores e de estudantes universitários, da passeata que pedia a fundação da companhia estatal de petróleo: tinha 15 anos.

    Nosso professor de História – também do Instituto Rio Branco –, Pedro Ribeiro, que elegeríamos paraninfo, mostrava, de pé, segurando em cada mão um livro de arte, quadros de Velázquez e Rubens, e apontava o significado político das escolhas estéticas na longa campanha pela independência da Holanda (então sob domínio espanhol), onde prosperava o capitalismo bancário, no começo do Século XVII.

    Foi ele que, no segundo ano do curso científico, mandou-nos ler longo prefácio de uma peça de Bernard Shaw e o Manifesto do Partido Comunista, de 1848, para cobrar, na prova parcial, “a comparação entre os conceitos de socialismo utópico e socialismo científico”. Por indicação de um professor – lembro-me do posto: era major –, li os dois volumes da Introdução à Antropologia Brasileira, de Artur Ramos.

    Na Matemática dividida em disciplinas (Aritmética, Álgebra, Trigonometria, Geometria Descritiva, Desenho Projetivo), no melhor estilo positivista (Ah, o velho Professor Alexandre Barreto, que chamávamos de “Alex Babá!”), chegamos ao cálculo diferencial e tivemos noções bem avançadas de integrais; Física (o átomo), Química (o petróleo) , Biologia (os antibióticos), Música (Villa Lobos e “ a Infantaria, das armas a rainha”).

    Aprendemos a ler, compreender e traduzir do inglês, francês, espanhol e latim No fim do curso, tinha bom conhecimento básico desses idiomas vivos, e analisava a sintaxe de textos latinos. Do De Bello Gallico (Sobre a guerra da Gália), de Júlio César, a trechos do relato em francês do cerco de Calais por Eduardo VIII, no Século XIV; de Jane Austin a Oscar Wilde, na Balada do Cárcere de Reading – “I never saw a man who looked/ With such a wistful eye/ Upon that little tent of blue/ Which prisoners call the sky …”.(“Nunca vi quem fitasse/ com tanta melancolia/ essa tirinha de azul/ que os presos chamam de céu”).

    Terei sido um menino diferente? Durante anos, apaixonei-me por Camões, decorei trechos de Os Lusíadas e sonetos – este tão atual: “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a confiança… ” Na prova oral do exame final da terceira série (havia tal coisa: falava-se, discutiam-se ideias), meu ponto foi discorrer sobre o pessimismo europeu nas últimas décadas do Século XIX: Nietzsche, Spencer, Schopenhauer.

    Imaginem, pois, minha tristeza: o que aconteceu com a formação de nossos oficiais? O que fizeram das escolas militares? Por que não tiram as melhores conclusões da informação que têm? Haverá ocultos planos para o Renascimento após esse mergulho, para além da ética, à profundeza da alienação cultural e da ignorância geopolítica?

     

  7. Elogio acadêmico à caserna

    Ceertamente, proibir bandeiras partidárias não caracterizou todas as manifestações em 2013. Infelizmente, em algumas delas, essa proposta se impôs.

  8. ‘Naturalismo’ Histórico Explícito

    O escatológico de sempre:

    Quando transformam o país em latrina entupida, ‘tronços’, de diversos calibres, afloram à superfície, uns mais ou menos, orgulhosos e nauseabundos, que outros.

    Assim sendo, não havia como ‘mota’ não aflorar, diferente de ‘vila’, insubmergível. 

  9. Pequeno

    O GGM já em 2010 conhecia

    O pequeno Carlos Guilherme Motta

     dom, 26/09/2010 – 12:50https://jornalggn.com.br/blog/luisnassif/o-pequeno-carlos-guilherme-motta

    De Carlos Guilherme Motta a melhor definição é a inveja. A inveja perpassa toda sua obra.

    Ganhou alguma visibilidade nos anos 80, surfando nas águas de um suposto pensamento crítico da USP. Depois, em um ataque de megalomania, supôs-se competente para escrever uma história do pensamento brasileiro.

    Mas jamais passou de um mero candidato a vendedor de livros, prolífico, superficial. De sua vastíssima bibliografia não restou nada, apenas ecos de um ridículo profundo quando sua malandragem ficou exposta e a inveja passou a ser sua maior característica .

    Tivesse mais envergadura serviria para um estudo de caso sobre a inveja na produção intelectual, assim como os que o mestre Antônio Cândido dedicou a Silvio Romero, analisando seus embates com Manuel Bonfim. Só que não tem envergadura. O máximo que poderá aspirar é ser personagem de algum romance, similar ao tipo que Eça de Queiroz descreveu em «A Cidade», do intelectual medíocre que quer a todo custo ser brilhante, que esforça-se, pena, sua, sonha, e não consegue sair da mediocridade.

     

    Nos anos 80, a megalomania de Guilherme Motta o fez investir contra Sérgio Buarque de Hollanda e Gilberto Freyre. O primeiro, pelo fato de um editor com discernimento ter entregue ao maior historiador brasileiro, e não ao pequeno Motta, a incumbência de preparar uma nova história do Brasil. O invejoso Guilherme Motta tratou de desqualificar Buarque de Hollanda com a malandragem típica dos que só conseguem surfar em ondas: simulou uma defesa de Antônio Cândido, a grande unanimidade da USP, apresentando o mestre como o verdadeiro brasilianista, em contraposição a Sérgio Buarque, o falso.

    Com isso pensava conquistar a adesão do pensamento uspiano para suas teses, como um chefe de torcida organizada. Em vez de adesão, conseguiu o ridículo.

    Fez o mesmo com Gilberto Freyre, tentando surfar na onda anti-direita da USP. Mais uma vez criou uma falsa disputa com Antônio Cândido.

    Até hoje o episódio causa constrangimento em Antônio Cândido, que costuma se referir a Guilherme Motta como «um rapaz irresponsável», que «escreve muito», no sentido da quantidade, obviamente.

    Depois, tentou criar uma suposta «escola de pensamento da USP», da qual ele seria o líder, para desmoralizar o pensamento de Darcy Ribeiro. Foi desmoralizado por Darcy, em um artigo memorável. Vinte anos depois de suas incursões megalomaníacas, nada restou da sua produção intelectual. Apenas a lembrança ridícula do professor medíocre da USP que investiu contra três dos maiores pensadores brasileiros do século.

    Sempre foi um puxa-saco empedernido da mídia – puxava o meu, inclusive, quando julgava poder conquistar espaço nos jornais.

    Tempos atrás critiquei uma entrevista sua. Bobagem minha, aliás, porque de tão pobre a entrevista, de tão inexpressivo o autor, depois que o tempo se incumbiu de reduzi-lo à sua verdadeira dimensão, que não merecia ter perdido o tempo. Mas se tem algo que me irrita profundamente é a mediocridade emplumada, o sujeito que empina o nariz, saca o diploma de intelectual e só consegue escrever abobrinhas.

    Hoje volta no Estadão, descontando, aproveitando o clima de caça às bruxas permitido por Marcelo Beraba para ataques desqualificadores. Apresenta-me como o coordenador do manifesto contra a mídia, sabendo que não sou, apenas como álibi para retaliar. O modo da ação é mesmo. Surfa no tema do momento, de catarses políticas ou intelectuais, que tornam as pessoas menos rigorosas em relação ao pensamento superficial, e abrem algum espaço para os candidatos a “chefes de torcida”. Aliás, tornou-se tão inexpressivo, mesmo no rarefeito ambiente intelectual da velha mídia, que hoje só se habilita ao papel de “torcedor-linchador”. Entrega o que o jornal quer, vinga-se da crítica recebida, sem precisar correr risco de levar a disputa para o campo das ideias, e consegue uma sobrevida para sua produção medíocre.

    Mas apenas reforça a imagem de «pequeno Motta» que o acompanha desde os anos 80. 

    Clique aqui para ler o artigo.

    Aqui, alguns dos comentários no próprio site do Estadão:

    José Szwako

    CG, que tal comecar a criticar de fato ao invés de ficar só “alertando” e distribuindo rótulos preconceituosos… Povo despreparado? “Sociedade civil incipientíssima” “ou o que resta dela”?? “Neopopulismo pobrista”? (Para nao falar nesses “tais índices de crescimento” e nas mulheres-pera”[!!!]) Se essas fórmulas viessem de algum intelectual do DEM, vá lá, mas de um intelectual uspiano, pas posible! Euforia falsa, mera ilusão, pode ser, como tantas outras… Falta agora sair dessa fachada protointelectual (formalismo vazio) e fazer a crítica dessa ilusão – mas aí aperta muito, pois isso implicaria em reconhecer a própria posicao na atual incapacidade crítica.

    Frederico Firmo de Souza Cruz

    Caro Carlos Guilherme Mota

    Talvez seja de seu conhecimento, Bourdieu fala muito sobre capital simbólico. De fato não sei se o tem ou não, mas sem duvida parece querer usar seus titulos como carteiraço simbólico. Eu pasmo de ver pessoas que como o senhor que tiveram todas as chances, que deve ter lido tudo sobre história, filosofia ciências e letras e aprendeu tão pouco. O tempo todo se fala de um desenvolvimento politico e cultural precário e o senhor não assume a responsabilidade por isto. QUando FHC estava no poder provavelmente o sr. falava em realpolitik, quando FHC atacou a universidade e quase a destruiu voce não falou nada sobre a estupidez das elites quatrocentonas. Sequer notou que apenas é mais um peão neste jogo sórdido de palavras que tentam criar uma realidade inexistente, pois não lhe agrada. Caetano ( que é otimo poeta e péssimo político) já disse – narciso acha feio aquilo que não é espelho.

    Roberto Grün

    É linda a afirmação de Mota..

    ” É perigosa a mobilização populista de uma população que ainda não entrou na antessala da sociedade democrática moderna – por falta de educação, saneamento, saúde, mas sobretudo por falta de exemplos de cima”

    Cento e vinte anos de República e ele, grande intelectual, insiste em afirmar que o povo não está preparado. Talvez uma boa solução para isso fosse ponderar o valor dos votos. Mais branco e educado, vale 10…mais negro e menos educado, vale 1. Daí quem sabe a República do Brasil seria a dos seus sonhos..Menos importante, mas um pouco decepcionante é Mota concordar malaise no feminino. Se quer exibir todos esses títulos, seria melhor pedir para um revisor dar uma olhada. As instituições que lhe concederam os títulos sofreriam menos.

    joão maurà cio rosa

    Sinceramente, nunca li artigo tão pobre em argumentos e fundamentos. O Estadão parece estar esquecendo seu passado nesta tentativa absurda de golpear as eleições de outubro

    Fernando Milliet Roque

    De nada adianta um eruditismo de orelha de livro se você não entende o mundo que lhe cerca. A falta de credibilidade da mídia (segundo o IPESP 60% consideram as matérias de jornais, revistas, rádio e televisão tendenciosas) é porque ela mira apenas um candidato, com o seu mantra “O PT nãso pode vencer”. Infelizmente escreve-se o que os leitores querem ler. A mídia tornou-se formadora de opinião só de quem já tem opinião formada. Foi derrotada em 2006 e será novamente em 2010 porque não reflete no que faz. Acho que o Estadão finalmente assumir que apoia a candidatura Serra (esse segredo de polichinelo está no editorial de hoje) é um primeiro passo. Não é com os argumentos primários desse artigo que se vai chegar a um caminho de como a mídia possa novamente ser relevante na informação e formação de opinião de quem não a tem formada.

  10. Essa entrevista saiu no dia em que Mourão assumiu a presidência devido à viagem de Bolsonaro para Davos. Qualquer coincidência é mera semelhança – ou será o contrário?

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