Em fase final, Moro nega mesmo tempo de perícia de sistemas da Odebrecht a Lula

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Foto: Reprodução depoimento de Lula a Moro
 
Jornal GGN – Sob suspeitas de irregularidades pela Odebrecht e pelos investigadores da Operação Lava Jato no acesso ao sistema MyWebDay, que registraria propinas da empreiteira, os advogados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediram ao juiz Sérgio Moro esclarecimentos da força-tarefa, a suspensão da perícia e pelo menos 100 dias para analisar as informações do software. O magistrado negou todas as solicitações.
 
O tempo é o cálculo do que foi usado, até agora, pela Polícia Federal, e os peritos federais, com ainda a ajuda de assistentes da Odebrecht, para analisar os dados. Não fornecendo o mesmo tempo aos peritos da defesa de Lula, o juiz Sérgio Moro disponibilizou apenas 10 dias à parte.
 
De acordo com Cristiano Zanin Martins, um dos advogados do ex-presidente, “é evidente que o prazo de 10 dias anteriormente concedido para que os dois assistentes técnicos indicados pela defesa possam analisar o material periciado e apresentar parecer técnico são insuficientes para essa finalidade”.
 
A declaração foi feita na petição enviada ao juiz de primeira instância para solicitar o maior prazo. O processo que faz referência ao sistema já está na fase final, com deadline do próprio magistrado de Curitiba de que apenas faltaria o resultado das perícias. A expectativa dos procuradores da República é que a sentença de Moro contra Lula seja promulgada até março deste ano.
 
A acusação dos procuradores do MPF é de que a Odebrecht teria pago R$ 12 milhões por um prédio destinado ao Instituto Lula, que nunca foi utilizado pela instituição e outros R$ 500 mil pelo apartamento vizinho ao do ex-presidente, em São Bernardo do Campo. E a fonte desses recursos teria como partida a conta de propina da Odebrecht. Os supostos registros e/ou provas das transações estariam registradas neste sistema MyWebDay.
 
Os advogados do ex-presidente informam que Lula nunca foi beneficiário dos pagamentos ilícitos registrados no MyWebDay e tampouco no outro sistema de contabilidade paralela da empreiteira, o Drousys.
 
Mas foi uma informação divulgada pelo próprio criador do Drousys que alertou a defesa de Lula: em dezembro do ano passado, Paulo Sérgio da Rocha Soares manifestou que os usuários do sistema poderiam modificar ou também excluir informações do servidor. 
 
Um dos principais críticos da força-tarefa, o advogado Rodrigo Tacla Duran, que revelou bastidores de irregularidades das investigações, chegou a dizer que o sistema foi manipulado e alterado “antes, durante e depois de seu bloqueio pelas autoridades suíças”.
 
Por isso, a defesa de Lula quer verificar se foram feitas alterações dentro do sistema após a apreensão dos dados pela força-tarefa de Curitiba. Pediram, com isso, a suspensão temporária da perícia enquanto o MPF não esclarecer algumas consultas feitas pelos advogados.
 
Entre as perguntas feitas pelos advogados do ex-presidente estão quando o MPF teve conhecimento de que cópia do sistema MyWebDay não poderia ser acessada, quais foram as providências tomadas, qual foi a base utilizada pelos procuradores para se referir ao sistema na denúncia, e pediu o prazo “igual ao concedido ao Setor Técnico do Departamento de PF para análise e manifestação” sobre o laudo pericial, devido a “alta complexidade desenvolvido pela equipe de peritos oficiais”.
 
Por fim, a defesa de Lula também pediu esclarecimentos sobre declarações dadas pelo procurador da força-tarefa, Carlos Fernando dos Santos Lima, divulgadas ao jornal O Globo, no dia 29 de janeiro deste ano, informando que a PF não teria conseguido acessar o MyWebDay pela proibição do acompanhamento dos trabalhos de perícia.
 
A determinação partiu do magistrado Sergio Moro, de que nem a defesa, nem o MPF acompanhariam a perícia dos agentes federais. Entretanto, ao jornal O Globo o procurador teria dito que “o sistema está criptografado com duas chaves perdidas, não houve meio de recuperar”. A defesa de Lula quer saber se a informação é verdade e como os procuradores souberam disso.
 
Não é a primeira contradição envolvendo o caso. Durante o processo, os procuradores chegaram a negar que tivessem a cópia dos sistemas de registros paralelos da Odebrecht, mas os mesmos são mencionados no acordo de leniência assinado pela Odebrecht.
 
Diante dos indícios de suspeita de fraude, possivelmente pela própria empreiteira Odebrecht, a defesa de Lula pediu a suspensão da perícia e o maior tempo de análise. De acordo com os advogados, os documentos fraudados teriam sido apresentados pela empreiteira à Justiça como se fossem provas de repasses de propinas a políticos no Drousys.
 
A informação tem como base uma perícia contratada pela defesa do ex-presidente, que apontou alguns extratos com marcas de montagem ou de recortes, além de incosistências em datas e assinaturas. 
 
Entretanto, todas as solicitações dos advogados de Lula não foram aceitas. O juiz federal Sergio Moro negou todos os pedidos: “Ora, essa [suspeita de fraude] é uma das questões que constituem o objeto da própria perícia em andamento, já que solicitado que fosse esclarecido quanto à autenticidade dos registros digitais e sua origem”, disse.
 
“Aliás, a perícia foi determinada exatamente em decorrência dos questionamentos pretéritos da Defesa de Luiz Inácio Lula da Silva acerca da autenticidade dos documentos extraídos do sistema e juntado aos autos. Então a pretensão da Defesa de suspensão da perícia por suspeita de fraude não faz o menor sentido”, completou.
 
 
 
 
 
 
 
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

10 Comentários

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  1. Assombração

    A ameaça de prender Lula, na verdade é uma cortina de fumaça,para que se consiga o verdadeiro objetivo que é TIRAR LULA DA DISPUTA ELEITORAL.

    Enquanto jornalistas,a grande mídia,Blogs e setores do PT ficam na resistência jurídica a prisão,o verdadeiro objetivo será mais facilmente alcançado pelos golpistas.

    Prestem atenção

  2. A fase do desafio e do escárnio

    Claramente desmascarado, todo o processo é visivelmente farsesco. A partir da acusação de  propirna por um terreno jamais comprado e ou utilizado, ou de aluguéis de um apartamento.  Isto tudo não faz o menor sentido. Daí a necessidade de criar  fatos, através de delações que não podem ser nem provadas e agora sequer periciadas e investigadas. isto tudo é tão transparente que a única conclusão possível, é que Moro e companhia já estão na fase do “fo…-se”, agora temos que fazer de qualquer forma e vamos fazer apenas porque podemos.  E em cada ato como este de negar à defesa acesso a  a dados do processos, Moro esta dizendo, eu faço porque simplesmente posso. E nenhum outro juiz mesmo do CNJ, fará alguma coisa. Até que Moro caia em desgraça. Neste mometo Moro vera que os que hoje se calam serão os primeiros a pedir sua cabeça. Todos sabemos dos absurdos cometidos. Apenas Moro pensa que isto vai durar para sempre. Vale o mesmo para alguns membros o TRF4. Quando os ventos mudarem para o outro lado, verems até mesmo Moro se tornar alvo da midiatica Globo.

  3. Tem Gato nesse balaio

    Tá na hora de intimar pra valer os procuradores e o Juiz para explicar tim tim por tim tim essas dúvidas sob pena de se anular o processo. Ai tem gato. Os órgãos de justiça precisam intervir e com urgência. Como podem condenar uma pessoa num processo que há indícios de falhas graves?

  4. Provas? Prá Quê?

    Nassif: esse pessoal da defesa do Sapo Barbudo (versão Caserna) já tá enchendo o saco. Sabem que o negócio e condenar esse Operário (versão elite), custe o que custar. Parece que tem um parte da banda podre que sentindo o bucaco mais em baixo, t´s pensando em aliviar um pouco a do Nordestino (versão FIESP/sulistas). Mas isto ainda vai ser objeto de muitas reuniões na Av. Paulista. Se sentirem que dá pra abocanhar mais algum, defendem. Senão, apoian condicionalmente (o apoio deles é sempre “condicional”) o candidato do Presidente de Paris.

    E essa de que os documentos foram forjados, disso todos sabem. E daí? Lembra da ministra que condenou porque a Lei lhe permitia? Pois é madrinha do Verdugo.

    Cansei de dizer pro pessoal do PT que não importa se o Meliante (versão Judiciário) fez ou não fez. A ordem em encaná-lo e não permitir que fique livre. Pode eleger mais um “poste”.

    Com prova ou sem prova, cana nele…

  5. Não fizeram perícia coisa nenhuma!!!

    Não acho que tenham feito perícia em nada, esse povo da Lava Jato. Eu fico imaginando que o que fizeram mesmo foi tentar acobertar e incrementar todas as fraudes. Estão com medo de terem deixado alguma coisa pra trás.

    Quem tem backup dessas coisas?

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