“Encerram o inquérito prematuramente”, diz advogada da jovem com suástica

Cintia Alves
Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.
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Jornal GGN – A advogada Gabriela Souza disse ao GGN, no final da tarde desta quarta (24), que o inquérito a respeito da jovem de Porto Alegre que alega ter sido atacada por apoiadores de Jair Bolsonaro, que teriam desenhado uma suástica em seu corpo, parece ter sido concluído “prematuramente”, com o delegado do caso “descartando a hipótese que favorece a vítima” e deixando de executar algumas diligências. O ataque teria acontecido no dia 8 de outubro.

A jovem, que teve a identidade preservada ao longo da investigação, reportou o caso à delegacia e fez exame de corpo de delito no dia 9. O teor do laudo pericial foi divulgado hoje pelo delegado Paulo Jardim, que antecipou que houve, em sua opinião, automutilação. Ele anunciou que a jovem será indiciada por falso testemunho.

Para sustentar sua tese, Jardim disse à imprensa que a jovem praticou o ato com clipes ou brincos, sozinha ou hipoteticamente com a ajuda de outra pessoa. Para reforçar a teoria, ele ainda argumentou que ela sofre de problemas psicológicos e “toma remédios muito fortes”.

Ao GGN, Gabriela, especializada na advocacia para mulheres, disse que o delegado não solicitou nenhum exame e que foi informado pela jovem de seu problema com depressão. “Isso nunca foi escondido, mas me parece que ele usa isso de desculpa para colocar em dúvida o depoimento dela. Não é porque ela tem depressão que ela está mentindo. Isso inclusive é uma discriminação com qualquer um que sofra de depressão.”

A defensora ainda informou que os investigadores desconsideraram uma série de diligências, incluído análises de câmeras de segurança e oitivas de profissionais que acompanham a vítima.

O delegado Jardim foi alvo de polêmicas após ter declarado que a suástica era, em verdade, um símbolo budista, insinuando ser exagero afirmar que a jovem teria sido vítima de fascismo.

Laudo contradiz delegado

Apesar de o delegado Jardim ter dito a jornalistas que a jovem se automutilou com brincos ou clipes, o laudo pericial afirma expressamente que uma “lâmina metálica de canivete ou até mesmo de uma faca” poderia ter sido utilizada na escareação, confirmando a versão da vítima.

Além disso, os peritos anotaram que o exame de delito era incapaz de assegurar que houve automutilação. A hipótese foi levantada porque os ferimentos são tão superficiais que os peritos consideram que o autor precisou de “cautela”, “zelo”, “cuidado” e talvez um tempo “indefinido” para imprimir o signo nazista na corpo da jovem.

Mas há outra possibilidade em discussão, inclusive que “corrobora”, segundo os médicos que assinam o laudo, com a versão da vítima: a de que ela colaborou com os agressores, não oferecendo nenhuma resistência.

No laudo, contudo, os técnicos afirmam, em resposta a uma pergunta do delegado, que o “normal” nesse tipo de situação é que a vítima tente se defender.

Jardim tem construído a ideia de que não é plausível que a jovem tenha ficado parada até que a inscrição nazista fosse concluída.

O caso ganhou repercussão e foi até utilizado na propaganda eleitoral do PT, endossando os casos de violência provocados por seguidores de Jair Bolsonaro.

O capitão da reserva aproveitou a notícia de que a jovem será indiciada por falso testemunho para acusar o PT de propagar fake news.

A redação do GGN procurou pelo delegado Jardim na 1ª DP de Porto Alegre, na noite desta quarta (24), mas ele não foi encontrado para comentar esta reportagem.

Cintia Alves

Cintia Alves é graduada em jornalismo (2012) e pós-graduada em Gestão de Mídias Digitais (2018). Certificada em treinamento executivo para jornalistas (2023) pela Craig Newmark Graduate School of Journalism, da CUNY (The City University of New York). É editora e atua no Jornal GGN desde 2014.

6 Comentários

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  1. “Escória nazista, fora das

    “Escória nazista, fora das ruas”… é assim que se faz nos países ‘civilizado’, acho que deviamos fazer igual a eles.

  2. já era 0 esperado

    com  a declaração do tal delegado, no início do episódio, muito além de sarcástica, estava na cara que iria descambar para a vítima ser a autora, pode ? sim, agora, pode!

  3. Quem é esse delegado?
    1 – O delegado pode ser denunciado por deixar preferências políticas interferirem na investigação.
    Não sou especialista em nada mas é sabido que nos casos de violência contra a mulher, ou qualquer grupo oprimido, as “perícias” são quase sempre tendenciosas de modo a corroborar teses prévias e interesses alheios à verdade dos fatos. Por exemplo, foi feita a investigação dos fatos relatados pela vítima, horários, locais e pessoas mencionados por ela? Laudo pericial como esse, inconclusivo, não pode justificar a tese desejada pelo delegado para atender seus interesses particulares já manifestados e que confirmam parcialidade e suspeição para decidir sobre o caso. E quem é esse delegado? Quais são suas ligações com o grupo político acusado? Sua conduta precisa ser investigada porque ele tem desqualificado a vítima desde o início, e, portanto, não tem a isenção que o caso exige.
    2 – Sobre a suposta colaboração da vítima, se a moça tem depressão sua suposta apatia diante da violência não é anormal, ela pode ter ficado paralisada de medo, e segundo seu relato ela foi agredida por mais de um homem, e foi obviamente imobilizada, possivelmente sob ameaça de maiores violências.
    Esse caso tem que ser investigado por equipe imparcial e profissional, e rapidamente enquanto é possível colher provas e depoimentos, e outra perícia feita por outros profissionais.
    A sociedade exige apuração isenta e transparente. E o afastamento do delegadinho exibicionista e que distorce os fatos para atender suas tendências fascistóides, medida urgente para preservação de direitos, principalmente à verdade, tão agredida por estes novos bárbaros repugnantes.

    Sampa/SP, 24/10/2018 – 23:45 (alterado às 23:50).

  4. Capitáo pacifista é rebotalho da ditadura

    E então, com base nas três possibilidades levantadas pelos peritos:

    a- lesões autoinflingidas

    b – lesões inflingidas por outro indivíduo com o consentimento da vítima 

    c – lesões infllingidas ante alguma forma de incapacidade ou impedimento da vítima em esboçar reação

    O delegado teólogo, sério conhecedor dos símbolos religiosos,  apesar de a garota haver afrmado que foi imobilizada por terceiros, sapeca seu veredito na alternativa “a” , com o apoio acrítico da mídia dos oligarcas, que não ouviu a outra parte, como de costume, para o refestelo do capitão pacifista.

    Aliás, por falar no REBOTALHO DA DITADURA esfakeado, o médico que o operou é ou não é um famoso ONCOLOGISTA, conforme assim foi identificado ao dar entrevista ao programa do baby dórea?

  5. Uma mulher indefesa, imobilizada por 3 homens

    Uma mulher indefesa, imobilizada por 3 homens, pode oferecer algum tipo de resistência, por mais dolorosas que sejam as agressões a que estes marmanjos a estejam submetendo?

    Resistir, numa tal situação, só aumentaria o ódio e a sanha dos agressores.

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