O jornal “O Estado de São Paulo” oficialmente abandonou a defesa do senador Sergio Moro (União Brasil) após as revelações em torno de inquérito que corre sob sigilo no Supremo Tribunal Federal.
No final do ano passado, o ministro Dias Toffoli atendeu pedido da PGR (Procuradoria-Geral da República) depois que a Polícia Federal apontou a necessidade de se investigar as declarações do empresário e ex-deputado federal Tony Garcia.
Como lembra a Agência Brasil, o caso envolve um acordo de colaboração premiada fechado por Garcia em 2004, depois de ser preso sob a acusação de gestão fraudulenta do Consórcio Nacional Garibaldi.
A partir daí, o ex-deputado teria sido ameaçado por Moro e levado a gravar investigados e “trabalhar” para obter provas contra políticos e outras figuras proeminentes, sobretudo ligadas ao PT, segundo relatou.
Neste domingo, o jornal paulista publicou um editorial onde afirma que a investigação, apenas com o pouco de evidências públicas, se coloca suficiente “para dizimar o pouco que ainda restava de credibilidade de Sérgio Moro e daquele time da Lava Jato”.
Citando Moro como “palmatória do mundo”, o jornal diz que o “infortúnio” do ex-juiz e de sua equipe fazem parte “de uma espiral de desmoralização total da operação que messianicamente pretendeu salvar o Brasil da corrupção”.
Embora dê a entender que deixou o lado de Moro, vale lembrar que o Estadão foi um dos veículos que mais defendeu a operação Lava Jato e o trabalho da equipe do Ministério Público Federal do Paraná, e isso pode ser visto por conta de diversos editoriais e publicações feitas em defesa da operação.
Elogios, muitos elogios
Em um editorial publicado em 2016, o jornal afirmou que Moro era “um juiz independente e rigoroso, que não tem medo de enfrentar poderosos”. O editorial também destacou que Moro “teve um papel decisivo na investigação e no julgamento de casos de corrupção de grande envergadura, como o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva”.
Em outra ocasião, o Estadão publicou uma reportagem sobre a atuação de Moro na Lava Jato, na qual o jornal afirmou que o juiz era “um símbolo da luta contra a corrupção”. A reportagem também destacou que Moro “foi responsável por condenar dezenas de políticos e empresários por crimes de corrupção, o que contribuiu para a limpeza da política brasileira”.
Após a demissão de Moro do governo Bolsonaro, em 2020, o Estadão publicou uma matéria na qual o jornal afirmou que o juiz havia sido “demitido injustamente”. A matéria também destacou que Moro “era um ministro competente e comprometido com a luta contra a corrupção”.
A seguir, são listados alguns dos elogios específicos que o jornal Estadão já fez a Sérgio Moro:
- “Um juiz independente e rigoroso, que não tem medo de enfrentar poderosos”
- “Um símbolo da luta contra a corrupção”
- “Um ministro competente e comprometido com a luta contra a corrupção”
- “Um magistrado que marcou época na história do Brasil”
- “Um homem de coragem e integridade”
- “Um exemplo para o mundo”
Vejamos alguns editoriais publicados com elogios a Moro e a defesa da Lava Jato ao longo dos anos, assim como lamentações a respeito do fim da operação:
22 de agosto de 2016 – Por Lula, PT difama o Brasil
“O chefão petista, que já apelou ao comitê de Direitos Humanos da ONU contra o juiz Sergio Moro, demonstra estar cada vez mais atemorizado com a possibilidade de fazer companhia aos ex-dirigentes do PT – até agora, dois ex-presidentes e três ex-tesoureiros do partido.”
16 de setembro de 2016 – A prova do crime
“Em quase 150 páginas, os procuradores da Lava Jato afirmam ser capazes de demonstrar que Lula se beneficiou pessoalmente desse esquema. Ele teria recebido R$ 3,7 milhões em propinas da construtora OAS, empreiteira responsável pelo famoso triplex de que a família Da Silva pretendia usufruir”
30 de outubro de 2016 – Equilíbrio necessário
‘É extremamente positivo constatar que o apoio do juiz Sergio Moro ao pacote de medidas anticorrupção formulado pelo Ministério Público Federal (MPF) – e atualmente em discussão na Câmara dos Deputados – não o impede de reconhecer a conveniência de o Congresso, após discussão do assunto, concluir pela não aprovação de algumas das propostas.”
23 de setembro de 2016 – O tamanho da podridão
“Para Moro, está clara a “similaridade com o modus operandi verificado no esquema criminoso da Petrobrás”. Eis o que realmente importa a essa altura. São muitas as evidências de que o grande sistema de corrupção implantado pelos petistas pode ter tido entre seus operadores o mais importante ministro de Estado tanto de Lula como de Dilma”
09 de maio de 2017 – Lula arma o circo
“Para quem não tem o menor constrangimento em exaltar o “extraordinário sucesso” da “greve geral” do último dia 28, é fácil imaginar o precioso material de propaganda que poderão significar imagens da “manifestação espontânea” de militantes que, nas ruas de Curitiba, farão o possível para provocar a “repressão policial” (…) Fez bem o juiz Sergio Moro, portanto, ao divulgar vídeo nas redes sociais, desaconselhando que apoiadores da Lava Jato saiam às ruas da capital paranaense”
18 de maio de 2017 – Pra cima de mim?
“Os petistas, há muito tempo, especializaram-se em insultar a inteligência alheia, enquanto seus dirigentes tramavam o assalto ao Erário assim que chegassem ao poder”
01 de junho de 2017 – É isto a justiça?
“O juiz federal Sérgio Moro defendeu as delações premiadas, dizendo que, sem elas, “não teria sido possível descobrir os esquemas de corrupção no Brasil” (…) Quanto ao fato de os delatores terem sua pena abrandada ou até ganharem a liberdade, Sérgio Moro afirmou que “é melhor você ter um esquema de corrupção descoberto e algumas pessoas punidas do que ter esse esquema de corrupção oculto para sempre” (…)”
13 de junho de 2017 – A Lava Jato e o TSE
“A Lava Jato é importante demais para o País para estar exposta aos riscos da soberba e de projetos pessoais, alimentados pela ilusão de redenção coletiva que suscitou em grande parte dos brasileiros. A melhor proteção para o seu futuro é a preservação de sua identidade original: uma operação de investigação criminal”
09 de julho de 2017 – O PT desafia Moro
“A grande diferença, porém, é que, enquanto os verdadeiros democratas continuam apoiando firmemente a Lava Jato e lutando para mantê-la rigorosamente dentro da lei, o PT quer acabar com as investigações de corrupção e ditar as decisões da Justiça: para os companheiros, impunidade; para os inimigos, cadeia”
24 de julho de 2017 – Trabalho inconcluso
“A Lava Jato foi e continua sendo um poderoso instrumento de investigação, que revelou grandes esquemas de corrupção praticados por políticos, funcionários públicos e empreiteiros. A esse respeito é luminosa a sentença do juiz Sérgio Moro que condenou o sr. Lula da Silva, revelando crimes que o ex-presidente tentava esconder sob o manto de seu carisma e de sua popularidade.”
26 de janeiro de 2018 – Um exemplo a ser seguido
“O comportamento dos desembargadores que integram a 8.ª Turma do TRF-4 é um exemplo para todos os juízes”
07 de abril de 2018 – A força da Lava Jato
“Ao mandar para a cadeia um homem tão poderoso e influente como o chefão petista, a operação exibe um vigor que deixará preocupados muitos dos que ainda têm contas a acertar com a Justiça”
02 de novembro de 2018 – Sergio Moro na Justiça
“Ao escolher o juiz para o Ministério da Justiça, o presidente eleito Jair Bolsonaro foi coerente com seu discurso de campanha, fortemente marcado pela promessa de combate à corrupção”
17 de março de 2019 – A Lava Jato e a lei
“Há algum tempo já ficou claro que para vários integrantes da Lava Jato o objetivo da operação não é apenas punir corruptos, mas principalmente sanear a política nacional. Sendo assim, a Lava Jato deixa de ser uma ofensiva restrita ao âmbito jurídico para nutrir pretensões políticas. A conversão do juiz Sergio Moro em ministro da Justiça parece ser parte natural desse processo de ampliação da influência da Lava Jato
24 de março de 2019 – Moro e as agruras da política
“Quando sua popularidade como figura mais emblemática da Operação Lava Jato escalava, Sergio Moro declarou que não existia o risco de entrar para a política: “Sou um homem da Justiça, não sou um homem da política”. Ao aceitar se tornar ministro da Justiça, disse que o fazia porque estava “cansado de tomar bolas nas costas” em sua luta contra a corrupção (…) “
03 de abril de 2019 – Lava Jato e Mãos Limpas
“Em cinco anos de atividade, a Operação Lava Jato não só se transformou a si mesma, como também o País. De uma investigação limitada a um caso de lavagem de dinheiro, brotou a maior ação de combate à corrupção de que se teve notícia no Brasil (…)”
12 de junho de 2019 – Dos herois e das leis
“A lei parece estar sempre em segundo plano no debate entre aqueles que veem Sergio Moro e alguns procuradores da força-tarefa da Lava Jato – em especial Deltan Dallagnol – como heróis nacionais e os que neles apenas enxergam parcialidade, ardis e dissimulação (…)”
04 de julho de 2019 – Um espetáculo deprimente
“Do mesmo modo, Sergio Moro foi imprudente ao permanecer no cargo de ministro mesmo depois que vieram a público diálogos nos quais ele, quando juiz, parece dar orientações aos procuradores da Lava Jato, o que constitui comportamento impróprio. Ao permanecer ministro, Moro parece confiar que os ataques que sofreu e ainda sofrerá, especialmente dos petistas, podem ser convertidos em lucro político (…)”.
30 de janeiro de 2022 – Moro e a imagem do Judiciário
“Ao colocar suas pretensões políticas como continuação do que realizou como magistrado, Sérgio Moro afeta a imagem de seu trabalho como juiz e da própria justiça”
04 de abril de 2023 – Lula e a leitura mendaz da história
“Uma coisa é reconhecer os abusos da Lava Jato; outra, muito diferente, é querer fazer o País acreditar que toda a operação não passou de uma ‘farsa’, como Lula anda dizendo por aí”
19 de maio de 2023 – Decisão esquisita em tempos estranhos
“Cassação de Dallagnol numa sentença juridicamente duvidosa é, afinal, coerente com o espírito da era lavajatista, em que leis e direitos foram atropelados por imperativos messiânicos”
29 de maio de 2023 – A rocambolesca agonia da Lava Jato
“Antes ermida da esperança nacional, a operação ganha as manchetes hoje mais pelas confusões envolvendo seus integrantes do que por suas eventuais virtudes, num final melancólico”
Lula já havia previsto em um dos interrogatórios a que foi submetido por Sérgio Moro:
Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.
Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.
Li o editorial. Sentem-se completamente isentos por terem incentivado, aplaudido, divulgado as ações do juiz. Pura candura.
Pobre menino rico. Quando tinha 15 anos eu li pela primeira vez a Antígona de Sófocles. Essa tragédia, cuja temática é o conflito entre a ação destemida e virtuosa de Antígona para assegurar o direito tradicional do irmão ao enterro e o direito de punir atribuído a Creonte por seu decreto que mandou deixar insepulto o cadáver de Polinice, incendiou minha consciência. Sérgio Moro também deve ter lido essa tragédia, mas não percebeu que ao condenar injustamente Antígona, Creonte provoca a desgraça da família dele e de si próprio. Teria sido melhor o tirano respeitar a tradição e ser magnânimo. Além disso, sepultado o cadáver de Polinice não poderia fazer mal a ninguém. Insepulto ele apenas instigaria ódio nos familiares dele colocando em movimento ações e reações que atingiriam o próprio Creonte, cujo filho comete suicídio levando a esposa dele a fazer o mesmo. “Não é lícito aos mortais evitar as desgraças que o destino lhes reserva!” As palavras finais do Coro soam como uma ironia, pois Creonte poderia ter tomado decisões diferentes que resultariam num destino diferente. Ele tomou uma decisão errada (decretar que Polinice não seria enterrado) seguida de outra decisão errada (cumprir o decreto ao invés de perdoar uma irmã que agiu de maneira piedosa seguindo a tradição). As desgraças que o destino reserva para Moro também são originárias das decisões erradas que ele tomou. Mas no caso dele a ironia fica por conta da demora para a tragédia chegar ao fim.
Estes golpistas estão jogando um anel fora mas continuarão com seus dedos sujos de esgoto tentando golpear a democracia brasileira. E com os mesmos argumentos. Um novo Dan Mitrione.
Jogado na lama muito antes de Sérgio Moro, eu penso que uma das raras possibilidades de esperança para o estadão poderia ser o escape de Sérgio Moro, das acusações, das investigações e dos processos em andamento, que são totalmente desfavoráveis.
Talvez, se ele conseguisse escapar, o Estadão poderia ter uma sobrevida mais longa.
Então, se assim acontecesse, ainda assim poderíamos ter um Estadão infinitamente pior, do que a sua pior existência profissional e o seu pior momento autodestrutivo da ética, da parcialidade, da verdade e da credibilidade.
Porém, deixou passar o bonde da história e nenhum reconhecimento tardio dos seus erros conscientes, nenhum pedido de desculpas por toda vergonha que passou, e que ainda passa, irá fazê-lo alcançar o bonde da história.
O seu destino está sendo reproduzido no espelho retrovisor do bonde, que o faz diminuir, diminuir, diminuir, ……….