Facebook está cheio de chato de botequim

O filósofo de botequim, o pensador de boteco. Aquele que encontramos no bar entre goles de cerveja é um porre no Facebook.

O chato de botequim cumpre o ritual com rigor. Começo a falar após o primeiro copo. No último trago, antes de voltar para casa, avisa que bebeu demais – a senha para todos passarem a ter certeza das imprecisões da conversa.

Ou “Verdades absolutas e outras mentiras”, como diria o jornalista Francisco Dandão.

Quando esse chato vai para o Facebook despejar suas certezas e teses recolhidas sei lá onde, é um Deus nos acuda.

O problema é tê-lo de ouvir logo cedo, no primeiro momento em que se abre o Facebook. Ou ainda no meio do trabalho ou no final de um dia cansativo e extenuante. Por que não somente no bar?

Uns podem dizer para excluí-lo da lista, outros para ignorá-los. A questão é que muitas vezes esse chato trata-se do mesmo sujeito que divide o balcão de bar com você, é vizinho seu, parente ou colega de trabalho.

Mas no botequim a conversa é outra. Ele solta os impropérios, mas tem volta. O assunto não é só política. É também sobre mulher e futebol.

Se chatear, pode tomar um fora ali, na lata. Um corretivo, dependendo. Mesmo que no dia seguinte volte com o mesmo assunto. Mas aí já é outro dia…

O chato do Facebook replica na rede social os paladinos da ética, os oradores do jornalismo tacanho, os escribas puxa-saco de patrão, os robozinhos da internet. Também burila ideias do pensamento burguês e em algumas ocasiões até do período da escravatura. Uma beleza!

O chato de botequim ganhou desenvoltura no Facebook. Encontrou o seu lugar. Não precisa mais beber nem botar a cara para bater.

Não desperdiçará mais horas com o cotovelo no balcão. Suas concepções não serão mais rechaçadas ao vivo por uma audiência impertinente – e impaciente na medida em que as garrafas vazias vão se acumulando.

No Facebook o chato de bar encontra os verdadeiros amigos. Que também replicam o mesmo que ele de forma insistente, maçante e enfadonha.

Esse número de inconvenientes cresce de forma assustadora no Facebook. Até o dia em que o botequim virtual se transformar em algo insuportável – e chegar a hora de mudar de bar.

www.augustodiniz.com.br

Redação

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