Fora de Pauta

O espaço para os temas livres e variados.

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

Lourdes Nassif

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  • O frustrante novo Projeto Editorial da Folha de S. Paulo
    É sabido o declínio vertiginoso da credibilidade da Folha de S.Paulo. Perdida feito cego em tiroteio, deu, mais de uma vez, tiros no próprio pé - como no caso da fraude do Datafolha na pesquisa sobre Temer. Além disso, o mercado editorial, em todo o mundo, passa por uma crise significativa. Nesse cenário extremamente desfavorável, a Folha apresenta um novo Projeto Editorial - linha-mestra de toda sua atividade jornalística. O documento é histórico e merece atenção. Lamentavelmente, a primeira impressão é frustrante. Nota-se, logo, o conjunto exíguo de propostas efetivas. Destacam-se: o jornalismo "conclusivo" e "curatorial". A querela entre um jornalismo de tipo "factual" - presa ao ciclo semanal e intensificado pelo diário ou, na era digital, em tempo real - e outro, de tipo "conclusivo" - que investiga diferentes pontos de vista sobre um mesmo assunto e visa esgotar as dimensões que o tema suscita -, é uma querela falsa. Faz sentido apenas para os jornais que acreditaram na banalização do "furo do último segundo" quando confrontados com o advento da internet. O bom e velho jornal sempre mesclara ambos de modo equilibrado. Já o jornalismo de tipo "curatorial" trata-se de uma espécie "cardápio" de informações com ciclo diário ou semanal que leva ao leitor um resumo das notícias "mais relevantes", complementadas com dicas de leitura sobre temas diversos. Evito entrar nos pormenores da defesa que o jornal elenca - por exemplo, a análise de que o leitor atual é mais ocupado, portanto, disperso e passivo (não haveria aqui conflito com o crescimento de blogs de crítica política e plataformas como o Medium?). Noto, antes, flagrante atraso em relação aos gigantes do mercado editorial. NYtimes e The Guardian oferecem, há pelo menos 5 anos, esse tipo de "suplemento" e, ainda assim, enfrentam dificuldades de fidelização. E, rigorosamente, com o advento do Marketing InBound, a "curadoria" é considerada estratégia de marketing até mesmo de médias e pequenas empresas do Brasil. A Folha sequer é capaz de oferecer ao assinante um aplicativo capaz de fazer algo mais que redirecionar para o site sem reconhecer o login; e agora acorda para o irritante newsletter por e-mail. Além disso, o "case de sucesso" da startup do jornalismo digital Nexo permite imaginar as dificuldades da Folha deverá encontrar. Primeiro: fazer uma "curadoria" de notícias é mais fácil, mais rico - e mais barato - se se puder colher de veículos diferentes. O The Guardian fizera parcerias para ampliar seu repertório; o Nexo seleciona materias dele e também da Folha. E a Folha? Será capaz, inclusive financeiramente, de incorporar outros veículos? Fora isso, o Nexo tem uma linha política melhor definida e menos exposta aos fluxos de interesse da grande política - consequentemente, em melhor sintonia com as flutuações de opinião das redes sociais. A Folha tem demonstrado, em mais de uma ocasião estar em completa dessintonia - cito o mais prosaico: a escolha de um youtuber cheio de cacoetes de VJ da MTV para apresentar a série "Folha Explica"; no Nexo, é o editor-chefe quem apresenta. O Projeto Editorial frustra, também, pela total miopia dos problemas reais enfrentados pela Folha, ressaltados pela exaltação de valores ou "ativos" já tornados obsoletos pela "fauna" das redes sociais.  O primeiro problema grave da Folha é não ser capaz de decidir-se no espectro político entre a extrema-direita e a esquerda; e, em contra-partida, ser absolutamente incapaz de exercer o que se convencionou chamar de estilo "isentão". Em outras palavras, ela é - se comparada ao Valor, ao Estadão, à Veja - particularmente mais vulnerável às flutuações da política, o que dá um sabor absolutamente bizarro ao editorial. O mesmo veículo que foi capaz de por em cheque a reputação de seu braço de jornalismo estatístico para defender a reputação de um político é aquele que, meses depois, defende sua deposição. De que modo será capaz de dar unidade à sua curadoria e demonstrar várias facetas de um mesmo ponto de vista, se não consegue sequer controlar internamente a pulsão pelo falseamento, pela fraude?  Por essas e outras, soa quase cínico que tenha escolhido como "princípio" não se dedicar a atacar reputação alheia com base em investigação criminal. O maestro John Neschling que o diga (Leia a Seção 5 da seguinte matéria: https://jornalggn.com.br/noticia/xadrez-do-nao-temos-provas-mas-temos-conviccao). Cega, insiste em exibir como um trunfo ou "ativo" a pretensa pluralidade de colunistas que contrata. Ora: a pluralidade de um jornal não deve-se pautar pela diversidade de opinião, mas pela capacidade de tratar objetivamente um mesmo fato sob diferentes óticas. Não importa se se publica coluna de Guilherme Boulos ao lado de Kim Kataguiri (para falarmos de dois demitidos), quando o fato, ele próprio, insumo do jornal, não pode ser descrito sem distorções claramente unilaterais. Além disso, não é preciso ir até à Folha para saber o que pensa Boulos e Kataguiri: basta entrar no Face. Fato é: o que a Folha apresenta, tardiamente, é o que seus concorrentes diretos e promissores - El País, BBC Brasil Nexo - fazem há algum tempo e com excelência: jornalismo investigativo, opinião criteriosa e diversificada, curadoria ampla, aprofundada e minuciosa. Por isso mesmo, soa quase patético que a Folha de S.Paulo vocifere contra o Facebook e o Google em um discurso confuso que mistura acusações de "'pós-verdade" e lamentações sobre a publicidade perdida; insinua, ainda, que esses veículos se alimentam de dinheiro ilícito, proveniente de notícias falsas, às quais o jornal deve combater. Ora, esquece-se de que a cobra já está comendo o próprio rabo: o que a Folha tem a dizer sobre a blindagem a Tucanos, a fraude da Datafolha... Mas, para isso, já ensaia uma espécie de discurso de defesa: o princípio em que diz ser seu dever "preservar o vigor financeiro" como forma de assegurar sua independência de visão de mundo esconde, em verdade, ideia inversa: é justamente por passar por problemas financeiros que rifara sua credibilidade na esperança que fosse acolhida por um aventureiro da política qualquer.

     

  • O fim!

    Um bando de velhotes, à beira da morte, sem mais nenhuma expectativa pessoal, garante, apenas, aos seus descendentes, uma fortuna que arrebanham em troca da venda do futuro deste país!

    Ô inveja dos paraguaios!

    • Eu não tenho ciêmcia  do que

      Eu não tenho ciêmcia  do que escreveu---é muito confunso;

      MAS aproveito a oportunidade pra dizer:

      Se o Paraguai é um  país mais cordeiro que o nosso, por que não fazemos o mesmo ?

      A boa redação diz que, eu não faço, pra terminar o assunto aonde começamos.

      Então termino :

      ''Um bando de velhotes, à beira da morte, sem mais nenhuma expectativa pessoal, garante, apenas, aos seus descendentes, uma fortuna que arrebanham em troca da venda do futuro deste país!''

      É  ESSE seu argumento terminal ?

  • Escrevi durante anos neste

    Escrevi durante anos neste espaço com o intiuito de trazer alegria ,fatos interessantes e matérias jornalisticas.

    Dois ou tres radicais que não escrevem nada ,nem alegre ou interessante, se queixaram.

    Pensava eu que , com minha retirada, pudesse ler algo realmente que despertasse curiosidade ou alegria.

    Mas não foi o que aconteceu. O espaço ficou vazio e sombrio.

    Ontem ,lendo um artigo de Contardo Calligaris, pensei imediatamente na maioria dos frequentadores cinzentos e radicais deste blog.

    O que é um radical?

    '''Nenhuma exceção para a Bíblia, até porque o único livro que importa ao radical é sempre, para ele, a palavra de algum Deus.''--- destaque meu.

    Será que todos os são-paulinos são "bambis"? Mesmo se você for corintiano, responder sozinho a essa pergunta é complicado. 1) Você suspeita que os são-paulinos são paulistanos quaisquer, como os corintianos. 2) Você não sabe bem se "bambi" deveria ser um insulto. 3) Alguns amigos e parentes seus –quem sabe até seu filho– são são-paulinos.

    A solução dessas dificuldades consiste em deixar a responsabilidade dessa besteira para quando você está no meio da sua torcida. Aí, quem fala não é você, é a Gaviões, justamente.

    O grupo, em suma, serve para aliviar o fardo da responsabilidade individual. No grupo, nós nos tornamos capazes de ações que, sozinhos, nunca cometeríamos.

    Mas há figuras solitárias, que nunca frequentaram grupos e, de repente, radicalizam-se e agem, matando por atropelamento e golpes de faca, como o assassino de Londres na semana passada (ou como o caminhoneiro de 14 de julho passado, em Nice).

    Certo, esses indivíduos invocaram um grupo, mas com o qual eles mal tinham relações –a ponto que eles parecem ter agido por conta própria. Quem são eles? Como eles se radicalizaram?

    É possível interrogar o isolamento social e familiar de cada um deles ou, o conflito entre seu desejo de inserção e a frustração de não conseguir se integrar. Ou ainda a radicalização pode ser o efeito de uma neurose clássica: um exemplo tocante disso é "Pastoral Americana", de Philip Roth (agora um filme, com e de Ewan McGregor).

    É possível também perguntar não tanto "quem se radicaliza?", quanto "o que é radicalização?"

    Um psiquiatra e filósofo, Maurice Dide, num livro de 1913, "Les Idéalistes Passionnés", propunha a ideia de que a idealização seja o vício comum aos que se apaixonam e aos extremistas radicais –ou seja, o jovem Werther e Lênin compartilhariam o mesmo transtorno. A ideia é sedutora, e talvez a idealização seja mesmo o maior percalço de quem se apaixona, por qualquer coisa que seja.

    Agora, um amigo, Caio Rodriguez, chamou minha atenção para uma linha de pensamento mais recente, assinalando-me um artigo da "Wired", de fevereiro, sobre o interesse da Justiça dos EUA num programa que se propõe desradicalizar terroristas (migre.me/wk4xI).

    Segundo Daniel Koehler, do Girds (acrônimo para o instituto alemão de estudos de radicalização e desradicalização), há como saber se um indivíduo que se tornou radical, em sua relação com uma religião ou uma ideologia, poderia ou não voltar a ser cidadão de uma democracia. Quando possível, o Girds propõe um tratamento de desradicalização como alternativa à cadeia.

    Koehler define a radicalização como uma forma de ignorância –voluntária ou involuntária, tanto faz: radical é aquele que só acredita numa explicação, que lhe parece exaustiva e total, ou seja, suficiente e valendo para tudo.

    O radical não enxerga a pluralidade possível das explicações e das versões: ele é o famoso homem de um livro só.

    "Timeo hominem unius libri", receio o homem de um livro só. Atribuída (misteriosamente) a São Tomás ou a Santo Agostinho, essa expressão já foi entendida assim: tenho medo do homem de um livro só porque, especializadíssimo, ele vai ser um debatedor especialmente afiado.

    Hoje, vige o sentido moderno da expressão, pelo qual o homem que coloca fé num só livro, que leu apenas um livro (pior ainda se for o único livro que ele escreveu) é um perigo 1) para ele mesmo (porque ele será o escravo desse livro só, como dizia o grande Joseph Needham), e 2) para todos os outros, porque ele não aceita a complexidade, a pluralidade e o conflito que a realidade e a variedade dos livros sempre apresentam. O homem de um livro só é o radical descrito por Kohler.

    Na terceira vez que alguém, numa conversa, cita o mesmo livro para justificar suas posições, não hesite, chame o Girds. Nenhuma exceção para a Bíblia, até porque o único livro que importa ao radical é sempre, para ele, a palavra de algum Deus.

    Em contrapartida, a desradicalização proposta pelo Girds consiste em tornar a vida e o mundo mais complexos, em restaurar o presença de perguntas, dúvidas e adversativas no discurso do radical que é, em geral, feito de afirmações.

     

    Você quer lutar contra a radicalização? Não simplifique, complexifique. E, mesmo se achar que você tem a resposta, prefira a pergunta.

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