No encerramento da Bienal, UNE define diretrizes do movimento estudantil

da Rede Brasil Atual
No encerramento da Bienal, UNE define diretrizes do movimento estudantil
por Felipe Mascari, da RBA

Plenária final estabelece rumos do movimento estudantil durante o governo Bolsonaro, com o objetivo de compor a unidade dos setores progressistas

Salvador – Com diversas bandeiras empunhadas e um coro único: “Vai avançar a unidade popular”. Foi assim que a 11ª Bienal da União Nacional dos Estudantes (UNE) se encerrou, neste domingo (10), em Salvador. A plenária final divulgou uma carta unificada com as diretrizes para as lutas do movimento estudantil para o enfrentamento dos retrocessos promovidos pelo governo Bolsonaro, com um objetivo principal: a união do setor progressista.

Aprovada pelos quase cinco mil estudantes presentes à assembleia, o texto convoca todos os jovens a ocupar as ruas em defesa da democracia e pela manutenção e avanço de políticas que promovam o acesso irrestrito à educação de qualidade. De acordo com os estudantes, a eleição de Bolsonaro dá ao momento estudantil brasileiro uma ampla responsabilidade de compor a frente pela construção uma unidade na esquerda. “A tarefa da nossa geração é ampliar o diálogo, amparar as divergências e fortalecer a organização em torno da defesa de nossa soberania, os direitos sociais e a democracia”, diz a carta, assinada conjuntamente pela UNE, a União Brasileira de Estudantes Secundaristas (Ubes) e a Associação Nacional de Pós-Graduandos (ANPG).

Em 11 pontos, o documento consagra a unidade dos movimentos progressistas, defende a educação pública, a liberdade de pensamento e a autonomia universitária, a soberania nacional, a luta contra as “reformas” da Previdência e trabalhista, além do restabelecimento das garantias constitucionais e democráticas, a defesa dos direitos sociais, e a luta contra prisões políticas.

Lida em conjunto, os estudantes reivindicam que seja cumprido o Plano Nacional de Educação (PNE) e a destinação de 10% do PIB para o setor, além da manutenção das políticas de cotas como forma de democratizar o acesso à universidade. “Defendemos (a aplicação de receitas da exploração do) pré-sal para o setor educacional, garantindo o orçamento para nós e o fim da Emenda Constitucional 55, que congelou os gastos públicos por 20 anos. Queremos o fomento à pesquisa e as bolsas de pós-graduação”, afirmou o movimento, na leitura da carta.

O texto ainda aponta preocupação com a fragilidade da democracia brasileira e apologia à volta da ditadura e defenderam o direito de livre associação e manifestação dos cidadãos. “Consideramos a prisão de Lula arbitrária. Exigimos justiça para Marielle Franco e Anderson. Lamentamos que Jean Wyllys não tenha tomado posse para seu mandato, eleito democraticamente por voto popular, e exigimos saber quem o ameaça. A possível CPI da UNE é a criminalização do movimento estudantil”, acrescentaram os jovens.

Homenagem

A cerimônia de encerramento não contou só com protestos, mas também revisitou a memória da UNE. Logo no começo, foi realizado um ato para homenagear Ruy Cesar Costa, responsável pelo congresso da UNE de 1979, em Salvador, exatos 40 anos atrás, durante a ditadura civil-militar. O evento ocorreu após 15 anos em que o movimento se mantinha na clandestinidade e era perseguido pelo governo.

Uma carta também foi lida em sua memória. Os estudantes relataram saudade e se disseram inspirados pela luta do antigo companheiro. “Viemos à Bahia para dizer que nunca vamos desistir. Quem nos persegue hoje, é quem se acovarda nos coturnos da ditadura e se esconde na mordaça. Quem nos persegue hoje é quem conteve os brilhos do seus olhos em 1979. Rui Cezar Costa, presente”.

Homenageado, Milton Guran (à esquerda) foi o único fotógrafo com registros do Congresso da UNE de 1979, que reconstruiu o movimento estudantil | Foto: Matheus Alves/Cuca da UNE

O passado presente

Outros líderes da UNE também foram homenageados. Estiveram na plenária final os ex-presidentes Javier Alfaya (1981-1982), Ricardo Capielli (1999-2000) e Carina Vitral, além do fotógrafo Milton Guran, que registrou imagens do congresso de 1979. Javier contou que foi ameaçado de expulsão da UNE, durante a ditadura, porque nasceu na Espanha e veio cedo ao Brasil. Ele falou sobre a importância do evento que construiu a entidade há 40 anos.

“Para todos nos que fizemos parte da luta estudantil, é emocionante ver a continuidade da luta por parte das novas gerações, que tem a tarefa de combater o governo reacionário de Bolsonaro. Esse momento exige da sociedade civil brasileira uma ideia de que a unidade precisa ser construída. Na época vieram 11 mil jovens para reconstruir o movimento, com o abraço da sociedade civil. O congresso da época foi emocionante, com solidez e combatividade”, relembrou.

Já Ricardo foi o organizador da 1ª Bienal da UNE, em 1999, também na capital baiana.  Aquela edição contou com a participação do líder da revolução cubana, Fidel Castro. “Volto a Salvador, quando demos um passo importante para retomarmos encontro da UNE com a cultura nacional popular do país. O objetivo do primeiro evento era deixar a semente para outras bienais, agora, esse movimento cresceu e reverbera pelo país inteiro”, celebrou.

Por fim, Guran também falou sobre o congresso de 1979, na qual é responsável pelas únicas fotos sobreviventes da época. “Estávamos reorganizando o campo popular do Brasil. Fui o único fotografo que cobriu todo o congresso. Para vocês terem ideia, só 54 sobrevieram, porque jogaram fogo na Agência Imprensa Livre”, relatou. “Ninguém me disse, mas hoje eu sei. A universidade acaba, o tempo de estudante acaba, mas a UNE nunca sai de nós”, finalizou.

Ana Gabriela Sales

Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.

Ana Gabriela Sales

Repórter do GGN há 8 anos. Graduada em Jornalismo pela Universidade de Santo Amaro. Especializada em produção de conteúdo para as redes sociais.

View Comments

  • Diretriz: "união do setor progressista". E a homenagem a ACM? E o convite a Ciro Gomes para palestrar na Bienal? E a participação de diversos direitistas retrógradas no evento, com a benevolência da direção da UNE?

Recent Posts

Lei de Alienação Parental: revogar ou não revogar, eis a questão

Denúncias de alienação descredibilizam acusações de violência contra menores e podem expor a criança aos…

25 minutos ago

Papa Francisco recebe Dilma Rousseff no Vaticano

Os dois conversaram sobre o combate à desigualdade e à fome. Para Dilma, o papa…

3 horas ago

Exposição à poluição aumenta o risco de doenças cardíacas em moradores de São Paulo

Os pesquisadores constataram que pessoas que sofrem de hipertensão sofrem ainda mais riscos, especialmente as…

4 horas ago

Vídeo mostra a ação da polícia durante abordagem de Tiago Batan

Caso ganhou repercussão no interior de SP; jovem faleceu após ser baleado na região do…

4 horas ago

Roberto Campos Neto e o terrorismo monetário

É papel do Banco Central administrar as expectativas de mercado, mas o que o presidente…

5 horas ago

Museu do Trabalhador: Alfredo Buso conta como foi preso sem cometer crimes

Ex-secretário de obras de SBC, entrevistado da TVGGN anuncia absolvição do caso e lembra os…

6 horas ago