Olympio Guilherme, um brasileiro em Hollywood

Olympio Guilherme é um dos personagens mais interessantes e pouco conhecidos da história do Brasil.

Natural de Bragança Paulista, começou no jornalismo com Casper Líbero, em A Gazeta, em São Paulo. Muito bonito, foi a primeira grande paixão de Pagu, a musa dos modernistas.

Ouvi falar pela primeira vez dele através de Oswaldo Russomano, tio da minha primeira esposa. Tato, como era chamado, foi convidado pelo amigo Olympio Guilherme para administrar o Observatório Econômico, revista semanal de grande prestígio, de propriedade de Valentim Bouças, o brasileiro que trouxe a IBM para o Brasil, para imprimir os holleriths do setor público.

Há alguns anos, Antônio Sonsin, também bragantino, começou a levantar a vida de Olympio. Neste domingo à tarde, conversamos longamente sobre seu trabalho.

Sonsin interessou-se por Olympio a partir das conversas com Chico Ciência, historiador em Bragança Paulista. Em 1967, aos 17 anos, musiquei uma peça de Chico, que acabou vetada pela censura da época, resultando em uma passeata de protesto em Campinas e a apresentação da peça nas escadarias da PUC. Sonsin está de posse da peça e ficou de me mandar.

Em suas andanças, acabou descobrindo a única filha de Guilherme, atualmente morando em Londres, que herdou os arquivos do pai. Aliás, a família e os amigos só souberam de sua existência no seu velório quando e menina, de 14 anos, apareceu pranteando o pai.

Com vinte e poucos anos, Olympio foi para Hollywood, através de um concurso da Fox, para escolher uma mulher e um homem brasileiros, para lança-los em Holywood.

A mulher escolhida foi Lia Torá, uma beleza de mulher sobre a qual falaremos em outra oportunidade.

O concurso terminou sem um representante masculino. Incentivado por Pagu e pelos amigos, Olympio acabou se inscrevendo e foi escolhido.

Chegando em Hollywood, descobriu que caíra em uma peta. Na verdade, o concurso fora apenas para promover a Fox no Brasil. Mesmo assim, chegando em Hollywood, Olympio passou a se virar e produziu um filme em preto e branco sobre a fome – que campeava no país após a crise de 1929. O filme foi vetado porque interessava à indústria cinematográfica levantar o moral do país e consideraram o filme muito deprimente.

Quando morreu Rodolfo Valentino, o poeta Guilherme de Almeida invocou que ele seria o próximo Valentino. Não falava inglês, mas ainda estava na fase dos filmes mudos.

Enfim, Olympio Guilherme voltou para o país em fazer a América. Decidiu, então, estudar economia e acabou indo trabalhar com Valentim Bouças. Quando Valentim precisou voltar para os Estados Unidos, colocou-o para dirigir o Observador Econômico.

Na entrevista, Sonsin relata alguns feitos de Olympio Guilherme. Na revista, um de seus focas era Carlos Lacerda. Aliás, Tato me contava as broncas que Olympio costumava dar no foca.

Mas foi uma reportagem pedida a Carlos Lacerda – de descrever o Partido Comunista, ao qual ele era filiado – que resultou no seu rompimento com o PC e em seu mergulho na direita. No artigo, Lacerda desancava sem dó seu antigo partido.

Olympio também trabalhou no DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda de Getúlio), sendo o responsável pela área de rádio e música. Coube a ele combater os sambas que incensavam a malandragem.

Sonsin relata, em detalhes, o episódio em que Olympio leva um tiro na boca de Assis Chateaubriand. Ele corrige a versão de Fernando Moraes na biografia de Chatô e evita que eu cometa o mesmo erro na biografia de Walther Moreira Salles – que deve ter sido também a fonte de Fernando.

Enfim, na entrevista vocês terão um pouco do grande homem que foi Olympio Guilherme.

 

Luis Nassif

23 Comentários

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    1. Sobre o jornal…

      O jornal que faz a matéria, Bragança Jornal Diário, na época chamava-se Lyrio. 

      Esse jornal teve cançelado vários privilégios, pelo DIP.  Eles citam que o jornal fundado pelo patriarca da família foi perseguido. O jornal foi fundado na verdade por Oswaldo Russumano, então o melhor amigo de Olympio. Entranho… 

      O autor de Carmen, usou na integra uma artigo de uma revista carioca da época. Ruy Castro não se deu ao trabalho de pesquisar, apenas copiou. 

      O livro conta realmente o grande golpe publicitário da FOX, foram 3 anos de espectativas frustradas. Mas não com a conotação dada por Castro. 

  1. Sobre o livro

    Um trecho de um desabafo de Olympio Guilherme, na década de 1950 e que é oportuno lembrar nos dias de hoje: 

    “Poucos serão os países, como o Brasil, onde a propaganda anticomunista, orientada por Washington, tenha penetrado mais fundo e tenha conseguido hipnotizar completamente a massa e grande parte das elites.

    O resultado desse fenômeno de sugestão é que no Brasil, como, aliás quase toda a América Latina, são poucos os que possuem visão acertada da política internacional e dos acontecimentos econômicos que lhes são consequentes e complementares.”

     

    E um pequeno artigo dobre a Petrobras. 

    1. Acordos de Roboré, livro lançado em 1960

      Naquele tempo [antes do golpe de 64] havia uma elite pensante que tensionava com o udenismo…..hoje há o que mesmo senão o udenismo pré-64 no poder via golpe de Estado: um passado agora presente e apontando para o futuro: uma gente entreguista, golpista, lesa-pátria e verdadeiramente corrupta.,…

      Precisamos reinventar o movimento abolicionista para termos de volta nossos direitos e a sensação de que este pais e as riquezas que dele brotam pertencem ao seu povo e não a esta zelite zelote bizarra e parasita que não permite a continuidade da nossa democracia que, como sabemos, tal como uma Evita, jamais chega aos 40, 50, 70, 100 anos sem ser descontinuada por esse bando de facínoras que trazem no sangue o DNA a lógica Casa Grande vs Senzala, da qual não conseguem se libertar, aliás, nunca engoliram a abolição da escravatura.

      1922, a Semana que não terminou,,,,me desculpem entrar nesta seara..,…, mas é que notei um certo estado de espírito modernista no personagem Olympio Guilherme, ele pareceu-me não aceitar o estabelecido,… posso estar enganado, não conheço sua história, sendo portanto intuição minha

      Já tivemos uma elite que ousou pensar este pais

      http://indiqueumlivro.literatortura.com/2015/01/27/1922-a-semana-que-nao-terminou-de-marcos-augusto-goncalves/

      A dinâmica política da criação da Comissão Nacional de Energia Nuclear, 1956-1960

      http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1981-81222013000100007

      Como sempre, os EUA  de olho…

      http://www.lac.ox.ac.uk/sites/sias/files/documents/Conduru24.pdf

      O que são acordos de Roboré

      https://pt.wikipedia.org/wiki/Acordos_de_Robor%C3%A9

      Capa do Livro,  publicado em 1960

      Resultado de imagem para olympio guilherme e roboré

  2. http://memoria.bn.br/DocReade

    http://memoria.bn.br/DocReader/Hotpage/HotpageBN.aspx?bib=162531&pagfis=4185&url=http://memoria.bn.br/docreader#

     

    Mesmo com a depressao de 1929 os EUA não aceitavam que uma imagem negativa daquele pais e dos americanos fosse levada ao mundo e por isso censuraram o filme A Fome, de Olympio Guilherme. Ai me lembrei do viralatismo implicito no imaginário que a Lava Jato fez questão de construir sobre o Brasi nestes últimos 3 anos sobre o Brasil:  só corrupção. Hoje o Brasil só respira Lava Jato e carne podre. Tem jeito não! O golpe de Estado que no próximo 17 de abril faz 1 ano foi fruto dessa auto-imagem negativa de pais deprimido, arrassado e sem futuro. Hum….sem futuro ou, como diria Millor Ferandes, um pais de um triste passado como futuro eterno- mas de bom tamanho para os ratos que tomaram de assalto o poder a partir das tramóias  e ilegalidade praticadas por um juiz imaturo, rude e viralata como Sérgio Moro e seus comparsas como Dalanhóis, Fernandos, Globos, Gilmares, Moscardis Grillos e Instituições como o STF, TCU e Legislativo que mais se parecem a ORCRIM – Organizações Criminosas, essa gente que se ajuntou em torno da República de Curitiba para dar o golpe contra o povo brasileiro e o interesse nacional,..,,,aproveitaram-se de um discurso hipócrita e pseudo-moralista que levou às ruas multidões teleguiadas. É a reflexão que faço a partir do boicote ao filme Fome, de Olympio Guilherme…claro que se está aqui a defender – de pronto (para usar um termo do vocabulário pobre de Moro) –  o boicote a obras de arte ou afins, e sim a dizer do desprezo que essa  zelite zelote para com este pais que ousou fazer parte do concerto das nações mas que, por força de golpistas sem noção e que não pensam este pais, está sendo reduzido a pó.

     

     

  3. Sobre EUA, por Olympio Guilherme

    “Poucos serão os países, como o Brasil, onde a propaganda anticomunista, orientada por Washington, tenha penetrado mais fundo e tenha conseguido hipnotizar completamente a massa e grande parte das elites.

    O resultado desse fenômeno de sugestão é que no Brasil, como, aliás quase toda a América Latina, são poucos os que possuem visão acertada da política internacional e dos acontecimentos econômicos que lhes são consequentes e complementares.”

     

    Um trecho do livro, Hollywood, uma história do Brasil, que será lançado no proximo dia 18, oportuno para tempos atuais

  4. No tocante a Lacerda.

    No tocante a Lacerda, a história parece não ser bem esta – a do rompimento com o PC, embora a razão apresentada não seja excludente. Parente de Carlos Lacerda, um colega seu de respeito e prestigio aqui no Rio – e ai em SP, acho, também – que mantinha grande proximidade com ele por este laço familiar e afeto, conta outro motivo. Lacerda, na juventude, tinha algumas indefinições na sua vida. Uma delas, na época, um PC não aceitaria de jeito algum; principalmente para o presidende de sua JC. Houve um rumor, houve uma reunião e uma discussão sobre o assunto, com participação de Lacerda. A reunião terminou tarde e Lacerda terminou nas escadas da entrada da casa deste parente (no Meier ou Eng. Novo, se não me engano), aos prantos, como foi encontrado por seu primo e amigo ao sair para escola. Mas o motivo do rompimento seria este: Lacerda tinha uma dúvida – ou escolha – inaceitável para o PC na ocasião.

    1. Algumas indefinições…

      Já disseram por aqui que Lacerda, o campeão da moralidade pequeno burguesa, era bissexual, o que me surpreendeu. O maior indício apresentado era que encontrava alguns amigos suspeitos franceses e marroquinos em suas viagens ao Exterior. Disseram, mas, se for verdade, pode explicar o ódio que passou a ter dos comunistas.
      Contem tudo, porque uma indefinição tão séria não pode ser se queria ser advogado ou jornalista.

       

    2. Lacerda sobre as consequências do artigo:

      Após a expulsão do PCB, Lacerda passa um tempo em São Paulo, voltando um ano depois para o Rio:

      “Tive de abrir meu caminho a machadinha, como um mateiro no meio da selva, cortando os cipós, me espetando nos espinhos, para me livrar da solidão da selva a que fomos condenados’, escreveu ele, em novembro de 1939, para Olympio Guilherme, amigo que passou pelas mesmas agruras em virtude do artigo”.

      Ele permanece como colaborador da revista “Observador”  até 44

  5. Filha de Olympio Guilherme revela obra inédita do autor

    Queria em primeiro lugar agradecer ao Antonio Sonsin pela iniciativa em escrever uma história em romance sobre meu pai Olympio Guilherme.Sua iniciativa também me beneficiou  me entusiasmando a levar adiante a idéia de lançar o livro de Memórias que meu pai me deixou como herança e que nunca publiquei .

    Ele publicou mais de 1.600 artigos, escreveu 14 livros editados, foi economista, produziu e dirigiu o filme FOME pela Fox Films em Hollywood, foi conhecedor profundo da política internacional, trabalhou com Joaquim Rolla na organização do Quitandinha em Petrópolis, Rio de Janeiro como Economista, fundou e dirigiu a Revista “O Observador Econômico e Financeiro”, foi comentarista politico no Programa Panorama do Mundo de sua autoria na Rádio Globo, em 1955, e que se transformou em livro de três volumes

    Meu pai dedicou toda sua vida a um ideal quase inatingível em sua época- o ideal da liberdade, da cultura e do bem

    Suas iniciativas, porém, foram frustradas porque se exerceram na fase mais aguda da profunda transição política, social e econômica com que lutava a nação brasileira e por isso ele foi incompreendido, caluniado e censurado violentamente por suas idéias independentes.

    Há 44 anos atrás, morria Olympio Guiherme, então com 71 anos; homem cuja sabedoria, ultrapassava muito a sua época e que não se deixava acorrentar por padrões e cujo maior compromisso era com a verdade.

    Ao meu pai muito agradeço a inspiração de seus principios de vida e hoje meu filho Raphael Olympio Guilherme Moran segue seu caminho no estrelato do cinema, mas desta vez, começando na Inglaterra.

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