Queremos mais…

Mês de maio/2018, dentre as atividades que me são atribuídas, cadastrei presos do sistema
carcerário… fiquei procurando os 54% de negros que representam a nação brasileira… encontrei uns 90 a
95%…
Brancos, uns 4, 5, no máximo, 10%.
Mas…ontem fui à Universidade Federal de Pernambuco e fiquei procurando os mesmos 54% dos negros
que representam a nossa nação… encontrei uns 2 ou 3%…
Pensei…os outros podem estar entre os professores…não vi um único educador negro…
Então me virei e vi onde eles estavam…onde nós estávamos… limpando o chão do banheiro…cuidando
dos carros dos alunos…cortando a grama do campus… vigiando a segurança…dos brancos…
Isso é digno, lógico…pois, como diria a máxima, “melhor que tá roubando”…mas enquanto a referência
for essa…a estranheza continuará nos assombrando quando virmos uma negra, um negro dentista…
engenheira… cientista… juiz… reitora… médico…
Queremos mais…
Saio, desolado por comprovar o que os dados mantém…
Nas ruas que transito vejo um vácuo racial…nas avenidas movimentadas não vejo negros…só nos sinais,
pedindo…nos shopping centers, alguns (dependendo do shopping)…nas livrarias não encontro livros
escritos por negros…embora haja muitos no submundo existencial…invisíveis…tentando…tentando…e
sendo empurrados de volta para onde não querem que saiam…
Canceição Evaristo, ninguém conhece…nem sabe o que escreve…
Atores, atrizes, somente em subpapéis…ou em papéis que (re)produzem a realidade perversa…
Mulheres negras?…meu Deus!!…onde estão? Só as vejo catando lixo, domésticas…faxineiras…cortando
unhas…
Queremos mais…
Somos o produto do próprio Brasil…que nos prendeu por 350 anos…que nos soltou sem dizer para onde
iríamos…sem, pelo menos, nos mandar de volta para onde éramos rainhas e reis…
Agora, tenta abortar o que foi gestado aqui…seja matando 71% dos jovens negros do país…seja
encarcerando outros quase 70%…seja com inescrupulosas políticas públicas, que apenas nos colocam em
situação de escravos da modernidade…que nos colocam na transição de traficados a traficantes…de
marginalizados a marginais…de coisas a subumanos…
Queremos mais…
Queremos o país que nos roubou, que nos escravizou…que extinguiu nossos sonhos…e hoje nos
rejeita…queremos ficar aqui mesmo…mas não queremos ficar assim…
(Meu nome é Mázio Ribeiro de Souza; sou negro; meu pai nasceu em 1897, 9 anos após a “libertação”
dos escravizados; estou acima dos “27 anos, contrariando a estatística”).

Redação

2 Comentários

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  1. O racismo existe, mas…

    O racismo existe, mas é um erro de avaliação atribuir ao racismo a pouca oportunidade de negros em profissões mais qualificadas. Na maioria dos processos seletórios para ofertas qualifcadas, só há candidatos brancos. O que barra o ascenção social de negros são as escolas públicas ruins e a pobreza ancestral de ex-escravos, mas brancos pobres têm as mesmas dificuldades.

    Não se deve procurar chifre em cabeça de cavalo.

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