Vermelho e ideologia

Em janeiro de 2013 a presidenta Dilma Rousseff foi intensamente criticada por usar um vestido vermelho. A oposição chegou a representá-la por causa da cor da indumentária http://politica.estadao.com.br/noticias/eleicoes,roupa-vermelha-de-dilma-vira-alvo-do-psdb-imp-,991096.

Em 2014 a polêmica se transferiu para a cor vermelha da ciclovia construída por Fernando Haddad http://g1.globo.com/sao-paulo/eleicoes/2014/noticia/2014/09/justica-eleitoral-diz-que-vermelho-em-ciclofaixas-nao-e-propaganda-do-pt.html . Como não tem projeto de governo nem esperança de ganhar eleições, o PSDB parece ter se tornado vítima de uma fixação neurótica pela cor vermelha.

O vermelho tem grande valor simbólico:

“Cor do foto e do sangue; como eles,  possui um significado simbólico ambivalente; no sentido positivo: cor da vida, do amor, do calor, da paixão fervorosa e da fecundidade: no sentido negativo: cor da guerra, do poder destruidor do fogo, do derramamento de sangue e do ódio. Na Antiguidade era muito difundida a crença de que o vermelho protegia contra os perigos. Assim pintavam-se animais, árvores e objetos em geral de vermelho, para protegê-los de influências malignas ou torná-los fecundados.  No Egito, o vermelho, a cor do deserto ardente, simbolizava o Mal, tudo o que destrói; por isso, o escriba utilizava um líquido vermelho para escrever nos papiros as palavras más; por ser cor da coroa do Baixo Egito, o vermelho tinha, entretanto, um significado positivo. Em Roma, as noiva usavam um véu vermelho-fogo, o flâmeo, uma referência ao amor e à fecundidade. Além disso, o vermelho era para os romanos, como símbolo do poder, a cor do imperador, da nobreza e dos generais. Também os altos jurisconsultos usavam a cor vermelha: por exemplo, na Idade Média, o verdugo, por ser senhor da vida e da morte, usava um traje vermelho (que é ainda hoje, em muitos países, a cor dos juízes, sobretudo dos mais graduados). Os cardeais usam o vermelho como referência ao sangue dos mártires. Mas também Satanás, o senhor do Inferno, e a meretriz de Babilônia se vestem de vermelho: expressão da violência consumidora do fogo do Inferno ou dos desejos e paixões irrefreáveis. Na alquimia, o vermelho em geral era considerado a cor da pedra filosofal, vista como a pedra que carrega o signo da luz solar. Por ser cor vistosa, o vermelho prenuncia a partida, a nova vida e a ternura, sendo além disso a cor dos estandartes das revoluções, e atualmente, em especial do socialismo e do comunismo.” (Dicionário de Símbolos, Herder Lexikon, Cultrix, São Paulo, 2009, p. 203/204)

No Brasil, o vermelho tem também outro significado. Quando esta parte do Novo Mundo foi descoberta e invadida por colonos portugueses o tecido vermelho só era produzido numa ilha grega, razão pela qual era muito raro e caro. O pigmento obtido da casca do pau-brasil quebrou este monopólio, popularizou a utilização do vermelho (cor reservada à aristocracia desde os tempos romanos) e enriqueceu os antepassados de muitos tucanos que hoje detestam a cor do vestido de Dilma Rousseff e a ciclovia de Haddad. Os indígenas do Brasil utilizavam e ainda utilizam muito o pigmento vermelho do urucum para pintar o corpo. Eles também dão grande valor simbólico a esta cor.  

Impossível não notar a ironia. Alguns dos tucanos mais raivosos são os legítimos herdeiros dos aristocratas coloniais que enriqueceram explorando o pau-brasil, madeira de cuja casca era obtido um pigmento vermelho. A importância econômica deste insumo raramente é lembrada.

Outra ironia é, sem dúvida, a ligação entre os tucanos e o atual candidato republicano à presidência dos EUA. Donald Trump é sempre visto com uma gravata vermelha. Mas nenhum tucano o criticou por causa de suas escolhas pictóricas. Cá o vermelho de Dilma e Haddad é ruim. Nos EUA o vermelho de Trump é bom. Nem mesmo Johann Wolfgang von Goethe seria capaz de entender a teoria das cores dos tucanos.

Como não gosto de perder uma oportunidade de rir dos tucanos postei o seguinte Twitter:

Fábio de Oliveira Ribeiro

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