Xadrez das falsas expectativas para a economia, por Luis Nassif

Para medir a economia, o que conta efetivamente é a economia real, produção e massa salarial.

Continua o esforço para gerar expectativas positivas na economia.

Peça 1 – os indicadores fiscais

Vamos começar pelos números básicos da arrecadação: a receita total, o aumento real (em relação a 2018) e as receitas não-recorrentes (aquelas que são exclusivas do ano).

Nessas receitas atípicas entram novos parcelamentos de tributos e uma alta no Imposto de Renda Pessoa Jurídica e no Contribuição Social sobre Lucro Líquido influenciado especialmente pela queima de ativos das subsidiárias de estatais, como a TAG, BR Distribuidora e outras. Cada venda significava lucro imediato para a controladora, com correspondente pagamento de impostos, pelos lucros dos bancos e no mercado de ações.

Em 2018 também houve Receitas Atípicas. Excluindo nos dois casos, as receitas administradas (recorrentes) tiveram alta de 1,71%, mas em nenhum caso influenciada por fatores ligados à recuperação da economia.

No recorte por setores da economia, as entidades financeiras ampliaram o pagamento de tributos em 8,2% acima da inflação entre 2018 e 2019. As atividades de extração mineral registraram alta real de 59,7%, provavelmente devido à recuperação da Vale.

Elevação real de 3,27% na venda de bens, especialmente de automóveis e motos. Nos dois casos, fenômeno diretamente ligado às locadoras de veículos, com vendas impulsionadas pela uberização do mercado de trabalho.

De concreto, apenas a alta no mercado imoboliário, mas em cima de uma base extremamente deprimida, depois da bolha que estourou em 2014.

Peça 2 – o desempenho real da indústria

Para medir a economia, o que conta efetivamente é a economia real, produção e massa salarial.

Segundo dados do IBGE até novembro de 2019, o comportamento da indústria foi sofrível, e desastroso em relação a 2014.

Peça 3 – o mercado de trabalho

O quadro é mais desanimador. O nível de ocupação tem pouco se movido, assim como o nível de desocupação e a renda média, que se mantém abaixo do 1º trimestre de 2015. E, devido às mudanças trabalhistas, a arrecadação da Previdência tem caído de forma dramática.

 

 

 Peça 4 – a indústria automobilística

A produção permanece abaixo de 2014, mesmo com o impulso dado pela uberização.

Peça 5 – o falso sucesso internacional

A tentativa de bater bumbo com o Fórum Econômico Mundial não resistiu aos fatos. Recorreu-se ao “ouvidômetro” contra os fatos.

Interesse do investidor

Por exemplo, o Ministro da Economia Paulo Guedes afirmou que “ouviu dos investidores maior otimismo com o Brasil

A pesquisa realizada pela empresa de consultoria Pricewaterhouse Coopers (PwC) entre 1.581 líderes empresariais em todo mundo, mostra que o Brasil passou de 6º lugar em 2019 para 9% lugar em 2010, no item relevância nos negócios globais. Nos anos de ouro, estava entre os quatro melhores, ao lado da China, Estados Unidos e

em todo o mundo também foi decepcionante: quando indagados sobre qual país desempenharia um papel importante nos negócios globais, o Brasil passou de 6º no ano passado para 9º lugar em 2020. Durante anos, o Brasil esteve no topo da lista, ao lado da China, dos EUA e da Alemanha.

Maioria dos empresários espera melhoria em 2020

Segundo a PwC, 78% dos CEOs disseram esperar que o faturamento aumente este ano. Mas através do crescimento orgânico, isto é, sem nenhum aumento na capacidade instalada. Ou seja, é uma torcida, não uma aposta no crescimento.

País que mais irá crescer em 2020

Trata-se de uso seletivo das estatísticas. O PIB do Brasil deve crescer 1,2% em 2019. Se o FMI prevê 2,2% em 2020, a alta será de 83%. Qual a relevância do insignificante em relação ao inexpressivo? Nenhuma. A medida relevante é o crescimento absoluto. O FMI prevê um crescimento de 2,2% para o Brasil em 2020. É abaixo da estimativa para a economia mundial, de 3,3%, e apenas metade do crescimento do grupo de países emergentes. Leve em conta que países que enfrentaram grande recessão teriam muito mais facilidade para crescer acima dos países com economia estabilizada, se praticasse políticas econômicas consistentes. O Brasil não praticou.

Luis Nassif

15 Comentários

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  1. Esta “queda dramática” da arrecadação da previdência é motivo para deixar aqueles que recebem acima do salário mínimo de barbas de molho.
    Esta gente é extremamente má e acredito que a tesoura não tardará.

  2. Caro Nassif.
    Nas tuas excelentes análises econômicas sempre sinto falta e um conceito básico que alinhava todas as questões, a PRODUTIVIDADE, comecei a escrever um texto sobre isto e numa destas falhas de digitação consegui perder muito tempo que tinha utilizado, mas quando tiver mais paciência retornarei de forma concreta ao assunto.
    No texto que estava elaborando, em que divido o capital em capital fixo e variável mostrando as formas de ganho de competitividade, a divisão é uma base do pensamento marxista, porém para infelicidade de quem é contra e felicidade de que é pró, é a única forma de explicar corretamente o nó que se meteu o capitalismo moderno. Quando tiver mais disposição farei um texto com exemplos numéricos e com conceitos “modernos” e caros aos keynesianos e neokeynesianos, de produtividade marginal, que demonstra o caminho errado que estamos perseguindo.

  3. EM DAVOS, PAULO GUEDES VENDE ILUSÕES E RETORNA COMO SANTO, CHEIO DE PROMESSAS: A IRRACIONALIDADE ECONÔMICA NEOLIBERAL
    Texto do Meu facebook.
    O prometido crescimento econômico que resultaria das “reformas” trabalhistas e previdenciária não ocorreu nem ocorrerá. Os terraplanistas econômicos de Bolsonaro, como de praxe, rejeitam a ciência e se apegam a um dogma: a ideia de que é a confiança do mercado (empresariado) que estimula a Formação Bruta de Capital Fixo, nome técnico para crescimento do investimento produtivo. Para elevar esta confiança, é preciso sanear as contas públicas por meio da privatização de empresas, redução de investimentos públicos e corte de direitos e salários. Porém, como todo dogma, este discurso é fruto de um distúrbio irracional, distanciado da realidade. Em país nenhum a economia e a sociedade se desenvolvem seguindo este receituário. A lógica é exatamente o contrário: fortalecer os ativos do Estado (empresas públicas, arrecadação), direitos, salários e elevar os investimentos públicos. É esta a única fórmula que leva ao crescimento econômico e o crescimento é a única fórmula que alimenta a confiança empresarial para investir. Por isso, em Davos, Paulo Guedes vende ilusões e retorna como santo, cheio de promessas (vazias).

  4. Misture um sistema de desinformação e deformação de opinião pública (que envolve sentimentos) com um povo historicamente manso (amedrontado?) e crente e temos resultados como:
    1) O governo FHC, que destruiu a capacidade de desenvolvimento nacional, quebrou o Brasil 3 vezes, acabou com as reservas e entregou uma inflação de 12,34% a Lula é evangelizado como o “salvador da economia” (sempre lembrando que o Plano Real foi do governo Itamar e FHC sequer o geriu, saindo do governo ~1 mês após o seu início para surfar na onda da candidatura a presidente).
    2) O governo Lula, que apresentou resultados sócio-econômicos fantásticos (a lista é enorme), SEM PRIVATARIA NEM DESTRUIÇÂO DE DIREITOS (ao contrário, ampliou), com aprovação recorde no FIM do governo (geralmente baixo por mero desgaste), reconhecido, respeitado, celebrado e premiado internacionalmente, inclusive por reis e líderes de direita (como George W.Bush e Condoleeza Rice) e esquerda, instituições do peso de um Royal Institute of International Affairs (UK Chatam House – Rainha Elizabeth) ou Sci Po (França, Sciences Politiques), dezenas de títulos Honoris Causa de universidade pelomundo, medidas no contrafluxo da crise internacional desde 29, bem sucedidas e reconhecidas pela midia internacional (Financial Times, The Economist, The Guardian, The New York Times),etc. etc. etc., é evangelizado como o “causador de todos os problemas que temos hoje”, depois de ano e meio de segundo mandato impedido de Dilma (que encerrou seu primeiro mandato com PLENO EMPREGO), 2 e meio anos de destruição de Temer (o pior avaliado da história?).
    3) Daí conseguiram “convencer” (drogar, intoxicar, zumbizar?) mais da metade dos eleitores de que a “solução” seria um “messias”, um “mito” sociopata, que tornou seu mandato parlamentar de 28 anos em NADA além de um “excelente emprego” e posição para apoiar milicianos. Pior: que o Brasil está em “plena recuperação”. A própria crença alavancada incansavelmente pela míRdia (a mesma que omitia ou depreciava os sucessos progressistas) ajuda nesta farsa, que NÃO tem sustentação nem de médio prazo.
    E como milhares de crentes em enormes igrejas-auditório de coleta, para ajudar nas “altas despesas do Espírito Santo”, continuaremos cada vez piores como país.
    Sim pois o que sobrará dele, depois desta longa “sessão” evangélica “será nada!” (êpa!).
    Ou melhor: um “Espírito Santo” com muitos iates e jatinhos…
    E um povo cada vez mais miserável, crente e desinformado.

    1. Embora tenha terminado o 1º mandato com baixa taxa de desemprego, o governo Dilma nomeou um banqueiro paspalho como Joaquim Levy para o então ministério da fazenda.
      Isso não foi um tiro no pé, foi na cabeça!

    2. De Bo Sahl tu não tens nadinha, mas, como diz aqui um outro comentarista, o que não falta neste país é gente que tem até satisfação por ser boçal, para azar nosso.

  5. Ora, os CEOs, TODOS eles, fizeram cursinhos de “management”. Logo, FAZ PARTE da etiqueta dizer que “vamos ganhar”, “vamos crescer”… Não é isso que aprendem nas escolinhas de negócios?

    …”Valentes”….”Guerreiros”….

    Só que… não tem demanda: aí, “a culpa é da ‘esquerda'”, do “PT”….

    E tome mais do mesmo: cartilha econômica dos 90s, e cartilha política dos 60s….

    Já era!

  6. Meu termômetro é a rua.
    É visível o crescimento de lojas com atividades encerradas (placas de “aluga-se” é o que mais se vê).
    Difícil acreditar no “agora vai”…

  7. Ótimo texto, sempre consistente e baseado em números oficiais (enquanto não sejam maquiados, o que não demorará pelo andar da carruagem). Nassif, sugiro rever o item sobre interesse do investidor estrangeiro, uns dois erros (embora não comprometam o entendimento da ideia).

  8. Análise correta, como sempre.
    Qual seria a lógica econômica para tal direcionamento da economia?
    Meu palpite: Desvalorização dos capitais nacionais, principalmente daqueles novos capitalista incipientes, criados pela ampliação do mercado nos governos petistas. Os grandes, efetivos dono do país, estão tratando de eliminar a ameaça possível a sua proeminência: novos concorrentes num mercado em expansão. Duas coisas em que os capitalistas brasileiros são péssimos, concorrência e visão de futuro. Melhor matar logo, devem pensar. Embora pequeno, nosso mercado.

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