A distopia e a oração do homem decadente, por Ricardo Mezavila

A distopia e a oração do homem decadente, por Ricardo Mezavila

O Brasil virou palco de ficção científica, parece que estamos vivendo uma cena daqueles filmes futuristas decadentes onde a Terra passa por caos climático, superpopulação, desigualdades, totalitarismo, fogo e fome. 

Atravessamos uma grave crise intelectual desde que a ignorância e o comportamento bárbaro e violento passaram a ser representados na presidência da república. 

Em Búzios e Manaus, comerciantes, turistas e a população foram às ruas exigir o direito de se exporem ao vírus que matou mais de duzentas mil pessoas e contaminou mais de sete milhões no país. 

Sob o efeito de alguma hipnose gerada por um processo semelhante à cesárea de um hipopótamo, gritavam palavras de ordem usadas em greves e manifestações por liberdade, como se estivessem realmente lutando por uma causa socialmente justa. 

O presidente, na sua cegueira civilizatória, disse que não se sente pressionado pela vacinação ter iniciado em outros países, enquanto no Brasil tudo está atrasado:“Não dou bola pra isso” –disse em passeio, sem máscara, pelas ruas de Brasília causando aglomeração. 

A deputada federal bolsonarista do PSL, Bia Kicis, representante desse comportamento, se manifestou no Twitter contra a prevenção do vírus: “Búzios deu o exemplo e agora novas cidades se levantam contra a tirania do fecha tudo. Agora foi a vez do povo de Manaus se levantar”. 

O deputado Eduardo Bolsonaro também exaltou a irresponsabilidade de comerciantes, turistas e população de Búzios e Manaus contrários aolockdown:“Todo poder emana do povo”,citando o parágrafo único do artigo primeiro da Constituição. 

Nas distopias, o colapso econômico, ambiental e social leva a novos paradigmas morais que afetam as camadas mais vulneráveis. As pandemias passam a ser bem-vindas, viram direito inalienável no combate a um mundo com gente demais, onde a demanda supera a oferta. 

Ao final deste ano distópico, de cima de sua estupidez e feliz com sua sandália de barbante; Segurando a cabeça de um homem que procurava comida na lixeira e rodeado por pessoas doentes e mortas, ohomem do futuro decadente, de Búzios a Manaus, vai começar assim a sua oração: “Este ano foi ótimo; No ano da morte, estou vivo; No ano da doença, estou saudável; No ano da escassez, não faltou pão na minha mesa”. 

Ricardo Mezavila, cientista político

Redação

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