A previsibilidade do voto mudou de lado, por Gustavo Conde

A previsibilidade do voto mudou de lado

por Gustavo Conde

A imprensa experimentou o seu próprio veneno nesses dias que precedem a votação fatídica no STF. Eles – os jornalistas-golpistas-patrões-pelegos – fazem uso de um artifício sofisticado de pressão transversa: co-enunciam em seus jornais as reações à arbitrariedades do STF dos segmentos de esquerda, insinuando pressão descabida.

Daí, constituem outro discurso, cuja isca é sempre mordida pelos ministros daquele tribunal: a esquerda está pressionando e portanto, se vocês cederem às pressões, vocês serão taxados por nós como fracos.

O caso, parceiro, é que esse tipo de feitiço agora virou contra o feiticeiro. Na vertigem das declarações precipitadas de todos os lados, a direita queimou etapas e entregou o serviço. O jejum do pastorzinho, o tuíte do comandante da Vila nada boa e o endosso e apoio do Bolsonaro a tudo isso tomou forma de pressão e o STF agora vai ter que reagir a esta pressão – e não à outra – para não ser considerado fraco.

Sinuca de bico para Folha, Estadão e O Globo. Experimentaram seus próprios venenos manipuladores que, por sua vez, de tão batidos, ganharam status de processo normal de debate público e discurso. Ou: o feitiço das pressões manipuladas se “naturalizou” na lógica discursiva e passou a fazer parte da linguagem pública que orienta o conjunto dos enunciados políticos.

O STF terá que responder a Villas Boas, a Dallagnol e aos editoriais dos século 19 que invadiram as segundas páginas dos cadernos da editoria de poder hoje. A própria imprensa mordeu uma isca que eles mesmos fundamentaram na caça insana ao PT e aos governos democráticos que não trocam favores de publicidade.

É divertido assistir isso.

Destaque-se a inteligência das mídias alternativas a esta altura do campeonato. Elas tomaram o papel da imprensa adesista e mandaram ver na profusão de textos e análises que versaram exatamente sobre esse regime de pressões, descréditos e respostas previsíveis de votos de ministros, bem como na desova de tuítes e jejuns, contrangedores de tão tolos, do ponto de vista retórico.

O problema – para a imprensa adesista – é que a previsibilidade do voto agora mudou de lado. Pelo menos, nesse instante do golpe.

 

Redação

Redação

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  • Deveria ser assim, mas não dá para confiar no stf
    De fato se STF julgar que a Constituição não vale (rasgar o transitado em julgado escrito na CF), abre caminho para um golpe militar e até dá o motivo: cinicamente podem dizer que nem o STF segue a Constituição, então dá-se um golpe para "restabalecer a ordem", revoga de vez a CF 88 (sonho de consumo do mercado financeiro) dizendo que já não é cumprida e não satisfaz os "anseios dos manifestoches" e faz outra de cima para baixo escrito pelo departamento jurídico do banco Itaú, da Shell e da Chevron, revisada por Washington. Mas não confio em nada e nem em brios deste stf. Assimilou todas as pressões golpistas até hoje. Pelo visto, Gilmar cantou a pedra para agradar gregos e troianos: disse que o HC nada tem a ver com elegibilidade. Já adiantou que Lula continua inelegível qualquer que seja o resultado do HC, batendo continência ao general Lessa da reserva (que não disse que daria golpe se Lula não fosse preso e sim caso fosse candidato). Mas creio que isso não basta para o mercado (o financiador do golpe), a Globo e o departamento de estado dos EUA. Eles querem Lula fora dos palanques para nenhum candidato lulista vencer e muito menos aumentar a bancada no Congresso. Querem tutelar as eleições para só terem candidatos chapa-branca do mercado e do golpe.

  • Amadores da Direita

    Moreira o Gato Angorá disse uma certa vez disse que aqui não havia amadores! Mas tem sim, são amadores ao extremo,  até Reinaldo Azevedo percebeu isso, e por sua vez caiu fora na caçada insana ao Lula e ao PT. A direita vai tomar uma sova no Supremo,  pois o colegiado em sua grande  maioria  vai deixar claro o que diz a CF. Portanto, a Lava-jato Moro e TRF4 são apenas braço de uma classe conservadora com opiniões políticas.   Ou seja,  não adianta espernear todos os movimentos fascistas como MBL ou Vem Pra Rua. A Globo, Mídia, Dallagnol e agora Villas Boas  morderam a isca.  

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