Armando Coelho Neto
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

O cavalo de Chico Buarque também falava inglês, por Armando Coelho

O ex-capitão não atingirá em número de pessoas vivas, os 700 mil mortos que dolosamente deixou morrer, durante a pandemia da Covid.

via 247

O cavalo de Chico Buarque também falava inglês

por Armando Coelho Neto

Essa é uma fala de ironias e coisas sérias. Não importa o que digam Datafolha ou Databoi. Os golpistas que sonhavam por um milhão de pessoas nas ruas em favor da anistia para os primatas a serviço do golpe frustrado, estão decepcionados. Aliás, o ex-capitão não atingirá em número de pessoas vivas, os 700 mil mortos que dolosamente deixou morrer, durante a pandemia da Covid.

No Rio de Janeiro, o ex-capitão reuniu em pessoas, o equivalente aos 21.447 lanches pagos com cartão corporativo na campanha eleitoral para Presidência da República. Ato concentrado em São Paulo, eventos menores contavam algo em torno de 300 pessoas, o equivalente ao número de militares que o acompanhavam durante as motociatas, segundo estimativa da Controladoria da União.

Em cidades pequenas, algumas tiveram pouco mais de cem pessoas, muito perto do número de imóveis adquiridos (em dinheiro vivo) pela família do ex-presidente, que totalizam 107. Já em Recife, com o cancelamento do ato, foram à orla de Boa Viagem quase 30 pessoas, muito abaixo dos quase 40 anos de cadeia que o ex-presidente pode pegar.

É. Nessas ocasiões, o cartão corporativo fez muita falta. Resultado, no ato em favor da anistia, na Praça Portugal, em Fortaleza, a deputada federal Mayra Pinheiro, não conseguiu reunir 0,01% dos seus 404 mil seguidores. Mas, a caravana fascista vai fluir pelo Nordeste, e a expectativa é que se consiga reunir 1.379 pessoas… Ops! Esse o número de decretos sigilosos do inelegível!

Em Rio Branco (AC), não teve movimento de rua, mas apoiadores do ex-presidente se reuniram num buffet bem frequentado pela burguesia local, com o mesmo bordão: pedir anistia aos envolvidos nos atos antidemocráticos ocorridos. Entretanto, os presentes não totalizaram sequer 257 pessoas, que é número de votos necessários para aprovar o projeto de anistia aos golpistas.

De volta à Av. Paulista, muitos ônibus de turismo fretados, prenhes de bolsonetes vindas de outras localidades. Frequência aquém da esperada, pastores picaretas presentes também sentiram o gostinho do desencanto. Junto com eles “governadores drosófilas”. Além do cupim de estatais, Tarcísio de Freitas, lá estavam Ronaldo Caiado (GO) Jorginho Melo (SC) Ratinho Júnior (PR) Mauro Mendes (MS) Romeu Zema (MG) e Wilson Lima (AM).

Para quem não sabe, drosófilas são aquelas mosquinhas que aparecem quando a banana, por exemplo, está apodrecendo. Qualquer semelhança com os urubus do texto passado, não é coincidência. Mas, há algo a se pensar.

As costumeiras imagens aéreas costumam mostrar os vazios e ou intervalos entre blocos aglomerados. Conforme o posicionamento da câmera, as imagens obtidas representam uma massa compacta, dando a impressão de que muito mais gente no local. Não há novidade nisso, qualquer um que queira valorizar um evento recorre a esse artifício e até aí tudo bem.

Entretanto, no exato momento em que o inelegível resolveu “falar inglês”, lá estava a massa compacta em sua frente. Jogo de cartas marcadas, já que os organizadores sabiam que aquela fala repercutiria. E repercutiu, não tardou quem lembrasse o episódio de Odorico Paraguaçu, de O Bem Amado, supostamente nos Estados Unidos dizendo “Bread bread chese chese” (pão pão queijo queijo).

A esquerda ajudou a divulgar uma imagem de sucesso de um evento fracassado, ao difundir à exaustão a presepada urdida pela engenharia golpista. Leia-se, caiu na esparrela de divulgar a imagem mais expressiva que os golpistas desejavam. E os jornais tiveram que explicar a alusão a um sorveteiro e um pipoqueiro injustamente presos, dando-lhes o mesmo status da mulher do batom.

O efeito batom, “Perdeu Mané” parece se refletir na pauta da anistia que, se aprovada, vai exigir muito mais dos ministros do Supremo Tribunal Federal. Do contrário, corre-se o risco de transformar eleitores em torcidas organizadas. Não existe paralelo entre uma anistia decorrente da luta contra a ditadura e a que se pretende, proposta por defensores da ditadura que se opõem à democracia.

Sim, não há mesmo o que se discutir quanto a presença de coitados, de abiscoitados em surto psicótico. Sem anistia! Afinal, há políticos, militares e financiadores até agora impunes. Na poesia, o cavalo de Chico Buarque falava inglês, e pela lei, “a gente era obrigado a ser feliz”. Mas com anistia não!

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo

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5 Comentários

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  1. E com lideranças políticas e até pastores progressistas replicando as gozações como se todo brasileiro lesse Shakespeare no original. É de lascar!

  2. Sim, mas e daí?

    Como diz Hélio Luz, ex deputado estadual e ex chefe de polícia civil do RJ (ah, esse sim!):

    Democracia para quem?

    Para os privilegiados de sempre.

    Quem se espreme em péssimo transporte público, vive de pouco mais de 3.000 de renda média, afogado em dívidas, sem esgoto, pouca água, e na fila do SUS não conhece esse slogan chamado democracia.

    Vive sob o terror da lei do cão dos “comandos de comandos, submundo de comandos, a cidade maravilha mutante, Rio 50°, purgatório da beleza e do caos”.

    10% de juros reais, seu Armando. 10%.

    Emprego por aqui é ocupação. Bico. Biscate.

    Esse país é uma M*RDA, seja no governo ou na oposição.

    Ah, mas o grito pela Anistia foi sufocado.

    Rerere.

    E 1979, foi o quê?

    O que o STF e a nossa sociedade disseram sobre 64?

    Quem foi punido?

    Pois é.

    Somos todos cavalos de Buarque.

    Todos.

    Basta o patrão “ficar maluco”, tarifar tudo e a gente se desespera.

    Esse governo de m*RDA recebeu brasileiros (não que merecessem tratamento melhor) algemados pela polícia de outro país em solo nacional!!!!!!

    Pode isso Arnaldo, quer dizer, Armando?????

    Vergonha alheia de ler.

    1. Quem sou eu, amigo, um escrevinhador oficioso desse GGN para mergulhar num questionamento tão sério. Fiz um recorte de realidade que não exclui suas inquietações, até por questão de espaço. Povo não come PIB e não lida com abstrações como democracia (pra quem?). Até outro dia EUA era democracia, lembra?
      Eu também estou cansado de Bandaid em ferida grande e crônica. Pior: meu cavalo fala português. Nossas visões não são tão díspares e não sinto vergonha do que vc disse. Grato por ampliar a conversa. Sinta-se acolhido.

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