Bolsonaro, a Amazônia e as “revoluções dentro e contra a ordem”

Diuturnamente, o discurso e o governo de Bolsonaro ofendem a consciência nacional. Ferem os mais altos interesses populares e nacionais

Bolsonaro, a Amazônia e as “revoluções dentro e contra a ordem”
Por Roberto Bitencourt da Silva

Em locais, circunstâncias e eventos relativamente reservados, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) manifestou posições políticas que sinalizam graves riscos ameaçadores à Amazônia brasileira, sob a orientação predatória, lesa pátria e colonizada do seu governo.

Bolsonaro já alegou que o seu mandato é dos ruralistas e, recentemente, incentivou a adoção de iniciativas criminosas, àqueles, em função do que entende constituir demasias da legislação de proteção ambiental diante de eventuais intenções de exploração econômica.

Ademais, são conhecidos os seus impropérios contra as reservas indígenas, que “atrapalham o progresso”, assim como a sua recorrente apologia a um controle sobre a Amazônia, que demandaria soberania compartilhada com os Estados Unidos.

Convenhamos, os discursos do presidente ultrarreacionário e hiperentreguista são empolgados por um nítido viés de classe, orientado pelos interesses de importantes frações do capital agropecuário e minerador, nacional e estrangeiro.

Revelam, ainda, toda uma saliente veia desumana e de desprezo pelas raízes do Brasil, depreciando os nossos povos originários indígenas. Igualmente, uma acintosa e deplorável percepção política subordinada e colonizada aos EUA é moeda corrente.

Tudo dito de maneira franca e desinibida, ainda que de forma fragmentada e dispersa. Porém, como ontem visto, em cadeia nacional de rádio e televisão, ao tentar proporcionar alguma satisfação pública sobre a devastação amazônica, o presidente se conteve.

Mentiu e se desmentiu, mas não explorou qualquer daquelas ideias ditas com contumaz fanfarra e despudor. Trata-se de uma inibição política em defender abertamente o que pensa e faz com o Brasil, o que tem em vista para as nossas riquezas e a nossa gente? É provável.

Diuturnamente, o discurso e o governo de Bolsonaro ofendem a consciência nacional. Ferem os mais altos interesses populares e nacionais. São abomináveis. A tônica do seu discurso convencional é refratário à dignidade nacional. Pela discrição demonstrada em cadeia nacional, o próprio abjeto, tresloucado e autoritário presidente parece possuir alguma ideia a esse respeito.

Nas atuais condições de aberta e cruel guerra de classes promovida pelo grande capital, pelas camadas dominantes, domésticas e gringas, cujo projeto neocolonial tem sido implementado a ferro e fogo, há pouco, por Michel Temer (PMDB) e, agora, por Bolsonaro – novo títere do conglomerado do poder no país –, a questão social articula-se, forçosamente, com a esquecida questão nacional.

Isto é, apelos e aspirações por direitos sociais, coletivos e econômicos de bem-estar da gigantesca maioria da nossa gente brasileira requerem combinação com preocupações e iniciativas políticas e mobilizatórias que levem em conta o combate às privatizações, às desnacionalizações, que têm, décadas a fio, entregue e transferido os centros de decisão econômica, cultural, tecnológica e política do Brasil para o exterior.

Não há democracia possível com economia desnacionalizada. Não há garantias de direitos e bem-estar social sob um regime econômico colonial. Colônia casa com escravidão e ditadura.

Um país moldado e condicionado acintosamente por imperativos estrangeiros, sobretudo pelo imperialismo estadunidense, tão bem representado na Presidência de Bolsonaro. Eis o que temos. Desse modo, considerando também a emergência e gravidade dos problemas e desafios brasileiros, é plausível argumentar que o terreno político tem se tornado abertamente favorável à mobilização e ao proselitismo de bandeiras, propostas e valores nacionalistas e socialistas. De resto, faltam organizações e, sobretudo, líderes políticos.

Na eventualidade do tão necessário (res)surgimento desse perfil de atores políticos em nosso País, recuperando traços das esquerdas nacionalistas e socializantes do pré-1964, que se aproxime das sensibilidades e do cotidiano das amplas camadas populares e médias trabalhadoras, exercendo influência sobre as suas escolhas e tomada de decisões políticas, mais cedo do que tarde não somente Bolsonaro será varrido do mapa.

Como, também, será varrido o miserável projeto neocolonial preconizado pelas oligarquias e burguesias apátridas, projeto que nos chumba no subdesenvolvimento e na hiperdependência tecnológica, retirando-nos qualquer possibilidade de exercício de soberania. Projeto tão lesivo, que impõe ameça à própria preservação da nossa fecunda biodiversidade e integração territorial.

Para usar a terminologia sociológica do professor Florestan Fernandes, na concretização de um contraponto nacionalista, anti-imperialista e socialista nesse País, primeiro faríamos a “revolução dentro da ordem”, retirando dos postos de mando político agentes vende pátria como Bolsonaro.

Depois, se poderia abrir a senda da “revolução contra a ordem”, isto é, a quebra da supremacia das classes dominantes apátridas e o reordenamento das estruturas da sociedade brasileira, alterando o sistema de poder e de classes sociais, rompendo ainda com a subalternidade e a posição periférica do País na divisão internacional do trabalho.

Há tempos, no Brasil, as tarefas da construção e da defesa nacional recaem sobre os ombros das classes médias e trabalhadoras populares. Hoje, essas elevadas responsabilidades são por demais evidentes. E tornam-se incontornáveis.

Roberto Bitencourt da Silva – cientista político e historiador.

Redação

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