De quem é a culpa desta tragédia?, por Walter Falceta

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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De quem é a culpa desta tragédia?

por Walter Falceta

Parte da história do Brasil (e do mundo) está virando cinzas. Na verdade, é o resultado das políticas neoliberais que desprezam tudo que é público.

O Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, foi destruído por um incêndio. O Museu do Ipiranga está fechado, em ruínas. 

Agora, as chamas consomem o Museu Nacional e 200 anos de esforços de pesquisa e catalogação científica.

Uma vergonha para o nosso país, que destrói parte da história do Egito, da África negra, das culturas mediterrâneas e dos povos indígenas brasileiros.

É o triste resultado das políticas criminosas de parte dos conservadores brasileiros, sempre empenhados em sucatear o patrimônio público.
A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que administra o museu, é vítima deste processo de desmonte do Estado. 

Vilipendiada, desrespeitada e empobrecida, é símbolo deste momento triste, em que vigora a Nova Ditadura. 

Há tempos, professores, pesquisadores e até visitantes suplicavam por apoio para a preservação do edifício do Museu Nacional e de seu riquíssimo acervo.

Consertos emergenciais eram realizados por meio de “vaquinhas”. Uma delas foi para remontar a reprodução do Maxakalisaurus (o Dinoprata), dinossauro que habitou as terras onde hoje se assenta o Brasil.

Neste tempo de pesquisadores humilhados, a única educação que recebe investimento é aquela que forma mão de obra adestrada, abobada e acrítica para as megacorporações.

Neste ano, o usurpador que ocupa o Planalto destinou R$ 1 bilhão para o Rio de Janeiro.

Nenhum centavo deste lote maldito foi destinado às universidades e às instituições culturais.

A aplicação serviu apenas para armar as tropas que assassinam a população humilde nos morros e periferias.

A direita oportunista se assanha neste momento, afirmando que o museu foi incendiado pelo poder público, supostamente sempre corrupto.

Trata-se de uma inverdade politiqueira. Museus públicos são muito bem geridos mundo afora. Museus privados também, assim como aqueles que dependem de parcerias entre os dois setores.

O que os propagandistas neoliberais escondem é que, sim, instituições privadas do gênero estão no centro de escândalos de corrupção.

Basta olhar para o passado recentíssimo. Hong Ra-hee, diretora do Leeum, Samsung Museum of Art in Seoul, renunciou ao cargo depois de um rumoroso caso de fraudes envolvendo sua família.

Foi a segunda renúncia da executiva, aliás, que já havia feito o mesmo depois que seu marido, Lee Kun-hee, chairman do Samsung Group, se envolveu em outro escândalo de corrupção.

No ano passado, Thomas P. Campbell, diretor do badalado Metropolitan Museum of Art, teve que abandonar o cargo, acusado de gastar mais do que devia e podia, empregar pessoal em funções estranhas aos interesses do museu, além de cometer uma série de outras irregularidades em sua gestão.

A cultura de trapaças se estendeu ao reduto da família por trás do Museu Guggenheim, de Nova York, quando eclodiu um escândalo envolvendo Mark Walter, CEO do Guggenheim Partners, uma empresa de investimentos avaliada em US$ 290 bilhões. Ele tem gasto de maneira irregular, comprando uma mansão para uma protegida ou um time de beisebol.

Vê-se, portanto, que a gestão privada não livra qualquer instituição do fantasma da corrupção, mesmo que gerida segundo os mais rigorosos padrões de “compliance”.

Vale ainda outra referência informativa aos fanáticos neoliberais. A definição do Orçamento da União não depende somente do Executivo federal, mas também do Congresso, que frequentemente reduz gastos de uma ou outra pasta.

Foi o que ocorreu, por exemplo, com o Orçamento de 2016, último aprovado no governo Dilma Rousseff, já dobrado pelas doutrinas de mercado que marcaram a gestão do segundo mandato. Na época, o facão do Congresso conservador e golpista cortou fundo – mais uma vez – na área da Cultura. 

A proposta de Lei Orçamentária Anual do governo era de R$ 657 milhões anuais para esses gastos. Durante a tramitação, o Congresso cortou R$ 28 milhões. Na época, já com o contingenciamento, o secretário-executivo do MinC, João Brant, advertiu: “é um desastre para o MinC”. 

Pobre Brasil. A culpa é sua, que se deixa enganar. A culpa é sua que dá ouvidos aos oportunistas. A culpa é sua, que se omite.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

4 Comentários

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  1. A culpa é também da mídia ignorante e que despromove

    Além de só criticar (exceto algumas exceções regionais), nas dezenas de reportagens que vi, TODAS fazem referência ao sinistrado museu como “fundado por D.João VI em 1818”. Isto só mostra o descaso da própria mídia que sequer procura se informar.

    Ou será que ninguém sabe que o prédio do museu foi nada mais nada menos que o palácio imperial de D.João VI (a única sede de uma monarquia europía fora da Europa), D.Pedro I e D.Pedro II, até 1889, quando da “proclamação” (pra variar, por golpe) da República?

    O Museu Nacional foi sim fundado em 1818 por D.João VI, mas em outro lugar (prédio), transferido para o então palácio de S.Cristóvão apenas em 1892.

    Ou será que esta mídia golpista, desinformante e deisinformada pensa que os imperadores do Brasil moravam num museu ou no Leblon?

    Esta ignorância e descaso com nossa História, demonstrada também pela mídia, que inclusive a deturpa e destrói, é certamente parte da tragédia que se abateu sobre nosso mais importante museu.

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