Economia: o triunfo da responsabilidade
por Aldo Fornazieri
Analistas de mercado, economistas e lideranças políticas foram surpreendidos na semana passada com o anúncio de que o PIB cresceu 1,4% no segundo bimestre. As projeções esperavam um crescimento em torno de 1%. O consumo das famílias e o crescimento de investimentos em serviços e na indústria foram os principais responsáveis pelo bom desempenho da economia. O resultado deve ser tanto mais comemorado quando ele vem junto com uma forte queda do desemprego, pelo controle da inflação e pelo aumento do consumo.
A conjugação dos fatores positivos não teria ocorrido sem a condução insistente do Ministério da Fazenda, Haddad à frente, de buscar o equilíbrio fiscal sem prejudicar os programas sociais do governo. Junto com a correta condução da política fiscal pela Fazenda, o Banco Central também acertou ao não permitir que a inflação se elevasse, prejudicando os ganhos dos salários dos trabalhadores.
Não foi fácil: Haddad, ao longo desses meses do governo Lula 3, vinha sofrendo duros ataques em pinça conduzidos pela direita política e por setores de partidos de esquerda, incluindo setores de cúpula do PT. Agora, com os surpreendentes resultados, os críticos sumiram. Suas teses econômicas equivocadas esboroaram. Viam uma correlação causal entre responsabilidade fiscal e monetária com baixo crescimento e alto desemprego. A realidade os desmentiu.
Em economia é possível estabelecer correlações sobre quase todos os indicadores. Mas nem todas as correlações são causais. O PIB brasileiro cresce num contexto de ajuste fiscal e de aperto monetário. O resultado combinado desses dois princípios criaram credibilidade na condução da política econômica, fator que fez os investimentos diretos do setor privado e dos investidores externos voltarem. Claro que ainda se está longe do desejado, mas a persistência da condução responsável da política econômica poderá melhorar o nível de investimentos produtivos.
A política fiscal do Ministério da Fazenda fugiu de duas armadilhas. De um lado, driblou a pressão do mercado financeiro que queria um ajuste com corte de programas sociais. Ajustes nos cadastros foram feitos, permitindo moralização e ganhos de recursos financeiros. De outro, enfrentou as pressões dos inconsequentes que queriam da gastança irresponsável em nome de um crescimento idílico. Desde a crise financeira de 2008, as evidências mostram que altos déficit fiscais atolam as economias na estagnação, entre outros males.
Não é a gastança do dinheiro público que faz a economia crescer, mas a responsabilidade fiscal em equilíbrio com a responsabilidade social. Essa responsabilidade foi buscada pela Fazenda na medida em que parte significativa do ajuste está sendo conseguida pela inclusão de setores das elites no sistema de pagamento de impostos. Elites privilegiadas que não pagavam e que, em parte, ainda não pagam gerando privilégios e desigualdades.
Ações junto ao STF para bloquear bombas fiscais também foram cruciais para viabilizar o ajuste, assim como algumas reformas microeconômicas, a exemplo da melhoria das condições de crédito, fator que ajudou a impulsionar o crescimento da indústria em setores importantes. Pode-se dizer, sem temor de dúvida, que a política de austeridade fiscal de Haddad e de Lula é antípoda à política de irresponsabilidade geral de Paulo Guedes e de Bolsonaro, que arrombaram as contas públicas para comprar o Congresso e tentar ganhar as eleições. O apoio que a Faria Lima dá ao bolsonarismo é o cúmulo da hipocrisia: cobram austeridade do governo Lula e apoiaram o governo Bolsonaro que patrocinou o descalabro fiscal.
É estranho que setores de esquerda, que dizem defender igualdade, classificam a política de Haddad de austericídio e de fiscalismo, e defendem políticas que causam desconfiança e descontrole, cuja maior consequência é o empobrecimento dos trabalhadores. Os sensatos sabem, inclusive, que a gastança termina por elevar os juros e levar mais dinheiro para os bancos e os rentistas. Boa parte dos parlamentares dos partidos de esquerda se enredaram numa teia de equívocos ao quererem manter a desoneração de setores da economia que nadam em privilégios e ineficiência. No chamado imposto das “blusinhas” foi o mesmo discurso dos inconsequentes.
Tivesse a Fazenda e Lula cedido a esses discursos irresponsáveis, o cenário da economia seria hoje de baixo crescimento, inflação alta e elevado desemprego. Seria uma dilmização do governo Lula, com um cenário assemelhado ao de 2015-2016. O governo, neste momento, estaria caminhando para uma derrota em 2026. A Argentina está afundada e ainda continuará por bastante tempo num doloroso calvário imposto por políticos irresponsáveis, que causaram a pobreza e a miséria do povo.
É certo que ainda existem muitos desafios para encetar a economia no caminho de um crescimento sustentável do ponto de vista das necessidades sociais e da responsabilidade fiscal. Desafios como o aumento da produtividade, o aumento dos investimentos, a qualificação da mão de obra, o combate aos privilégios do setor públicos, novos ajustes na Previdência, a melhoria da qualidade do gasto, a transição da indústria para um padrão tecnológico e digital, a desprivatização do orçamento e por aí vai.
O que importa, neste momento, é que a economia está assentada numa base sólida e confiável. Essa condição estabelece os parâmetros para a disputa presidencial de 2026. Mas é preciso ter claro que não há uma tradução automática do bom andar da economia em dividendos políticos.
O grande desafio do governo consiste em trabalhar esse aspecto, traduzindo o bom momento da economia em dividendos políticos. Os discursos políticos de Lula e dos ministros e as estratégias de comunicação são decisivos para que o governo avance politicamente, entrelaçando as sinergias da economia, da política e do social. Chegar em boas condições econômicas e políticas de competitividade em 2026 é decisivo para evitar os sobressaltos de um retrocesso indesejável.
Aldo Fornazieri – Professor da Escola de Sociologia e Política e autor de Liderança e Poder.
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A imprensa fez um drama con Silvio por questões erradas da oarte do ministro uma coisa de cunho pessoal entre pessoas de diferente sexo e no caso do político q meteu a mão na bunda da Michele bolso?Perdeu mandato?Separou?Com Lula sempre há preconceito,dpis pesos e duas medidas até Ricardo Sales ten mais visualização na internet q o Lula !!!
Esse crescimento econômico não deveria estar sendo comemorado pela esquerda. Lula manteve intacta a Reforma Trabalhista do usurpador Michel Temer. Portanto, os lucros maiores entesourados pelas empresas agora não irão se refletir de maneira positiva na massa salarial. Boa parte dos operários que produziram esses lucros foram contratados a título precário, mediante contratos temporários ou como autônomos sem direitos trabalhistas. O sindicalismo está morto e não conseguirá arrancar muita coisa dos empregadores durante negociações coletivas. Só os barões das finanças e os empresários podem realmente comemorar o novo ciclo de crescimento “downsizing” trabalhista neoliberal preservado pelo terceiro e último governo Lula.
Crescimento econômico vegetativo, quase inercial.
Ler um chamado intelectual de esquerda defender responsabilidade fiscal, como premissa para se ter “responsabilidade social” é um acinte.
Não, pedro bó, o que faz a economia crescer, de forma perene, é distribuição de renda, de preferência aquela oriunda da reformulação tributária, transformando estruturas regressivas em progressivas.
É o consumo que move o capitalismo!
Quando o estado se torna indutor de algum crescimento, como é o caso, onerado com subsídios e incentivos fiscais, e compras de bens e serviços, logo depois vem a derrocada, com maior pressão dos donos do dinheiro.
A única forma legítima de investimento estatal é em gastos militares (tecnologia e armas), empresas estatais estratégicas, aumento de investimentos em saúde, educação, segurança e saneamento, e tais gastos não podem ser financiados (muito menos limitados) pelo mercado, mas pelos impostos, e em último caso, com emissão de moeda.
Esse voo de galinha não dura um ciclo de governo, a curva de concentração de renda continua escalando, e o professor vem falar e equilíbrio, e tece loas ao calabouço fiscal e seu carcereiro, Haddad.
O texto parece uma declaração de amor à fábrica de bacon, assinada pelos porcos!
Olha, se é para ler isso, prefiro original a cópias mal feitas: Volta Guedes!