Gilberto Maringoni
Gilberto Maringoni de Oliveira é um jornalista, cartunista e professor universitário brasileiro. É professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, tendo lecionado também na Faculdade Cásper Líbero e na Universidade Federal de São Paulo.
[email protected]

Há método no caos, por Gilberto Maringoni

Foto iG – Último Segundo

Há método no caos

por Gilberto Maringoni

Bolsonaro fez um movimento de claro confusionismo na nomeação do ministro da Educação. Primeiro, colocou na mesa um membro do Instituto Ayrton Sena, ex-reitor de Universidade federal e – ao que parece – não alinhado às teses de mordaça e intimidação aos professores. Sua bancada da Bíblia estrilou e o ex-capitão recuou.

Passo seguinte, entra em cena um procurador siderado, misto de fiscal de costumes e preposto de Olavo de Carvalho, entrincheirado na sanha da escola sem partido. Tudo indica ser um bolsominion sem focinheira e apóstolo do fundamentalismo evangélico. Estudantes, professores e pesquisadores entram em polvorosa.

Ao fim do dia, vem o escolhido: um colombiano, professor de Universidade federal, coordenador da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (Eceme) e próximo de Álvaro Uribe, belicoso mandatário de extrema-direita na Colômbia. Um reacionário certificado.

UFA!

Sabe-se lá do que o tipo é capaz. O certo é que não é o godzilla fascista da segunda opção. Escapamos do pior, reagimos todos. Só que não.

Há cálculo nesse ziguezague e nas informações aparentemente desencontradas. Na bagunça aparente, domina-se a agenda e vigora um jogo de tensões constantes, antes das decisões serem apresentadas.

Num governo que tem tudo para ser diversionista, criador de espasmos midiáticos e balões de ensaio sem fim, precisamos mirar no essencial, que nem sempre está à vista do público.

O essencial é o radical programa neoliberal, privatista, concentrador de renda, entreguista e excludente pilotado por Paulo Guedes.

O mais será um dramático espetáculo diversionista e autoritário que teremos de enfrentar nos próximos anos.

 

Gilberto Maringoni

Gilberto Maringoni de Oliveira é um jornalista, cartunista e professor universitário brasileiro. É professor de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, tendo lecionado também na Faculdade Cásper Líbero e na Universidade Federal de São Paulo.

12 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. caos
    quando eu tinha uns sete anos eu adorava dar umas bombadas de flit (hoje é spray de baygon) quando aparecia uma barata. mas não era para matar (hoje é abater). era para ela ficar rodando desorientada e, o que é pior, aguardando levar outra bombada.
    tem também as estórias de kung fu nas quais os bandidos atacam o mocinho, um de cada vez.
    é issobaí que este ensaio de governo está fazendo. aliás, isso não é novidade.
    mas como essa troupe diz que veio para melhorar os índices de segurança, emprego, crescimento, essas coisas, vai ser cobrada aos seis meses depois de instalada.
    aí, my friend, como já estamos craques em dar golpe, outro virá. pode ser autogolpe, pode ser emparedamento do bozo pelos milicos ou pode ser qualquer coisa que nos remeta a um longo período de caos, tipo venezuela.

  2. Exato, a essência do

    Exato, a essência do desgoverno é a entrega do Estado às corporações, ao mercado selvagem. Mas o entorno é o capitalismo cultural fechando o cerco. O espetáculo diversionista destina-se a manter o circo de pé.

  3. método no caos
    Não podemos nos deixar envolver pelas confusões bem montadas de pauta política da extrema direita, mas temos que propor sempre as questões que são relevantes para o foco progressista e democrático. Sobre educação, por exemplo, interessa discutir salário de professor, infra estrutura e condições materiais para escolas, formação democrática e social dos professores, etc.

  4. método no caos
    Não podemos nos deixar envolver pelas confusões bem montadas de pauta política da extrema direita, mas temos que propor sempre as questões que são relevantes para o foco progressista e democrático. Sobre educação, por exemplo, interessa discutir salário de professor, infra estrutura e condições materiais para escolas, formação democrática e social dos professores, etc.

  5. Usar a força do oponente contra ele mesmo

    Não acho que tenha sido proposital porque o resultado foi negativo, com desgaste da imagem do novo desgoverno aqui e lá fora. Acho que o maior problema é a cobertura jornalística, até a da mídia progressista, que trata o Vergonhoso como um imperador, como se esse fdp pudesse fazer o que bem entende – ele é chefe de apenas um dos poderes, e já se viu que não terá vida fácil no Congresso. 

    Portanto, o problema não é o que os bolsominions fazem – eles vivem de criar factóides – mas a maneira como a mídia progressista, que é a que nos interessa, está fazendo a cobertura. 

    Acho que deve, primeiro, diminuir o tom de fatalismo, como se estivéssemos indefesos. Não estamos. 

    E depois, fazer a cobertura dos assuntos com objetividade, de maneira a demonstrar em perspectiva o absurdo do que está sendo proposto. 

    É normal que estejamos desorientados. Mas é bom aproveitar o final do ano para desacelerar e criar uma estratégia comum de comunicação entre os blogues progressistas, dar mais espaço e destaque para as oposições e para os bastidores das decisões do novo desgoverno. 

    O desgaste inicial se deveu ao contraponto entre o que foi anunciado e o conhecimento comum mínimo da população sobre os assuntos. E assim deve continuar, com o fortalecimento desse conhecimento comum sobre os principais assuntos, de modo a desmobilizar a estratégia pronta do adversário de tudo reduzir a disputa pseudo-ideológica de aplicativo, feita à base de muita desinformação, desconhecimento e preconceito. A questão dos médicos cubanos foi exemplar de como deve ser a cobertura. As contradições e reais interesses do desgoverno devem ser trazidos à opinião pública de modo a fomentar o debate dos reais  problemas a serem enfrentados. Se ficarmos reativos ou reféns do discurso de propaganda da gangue substituta será como aconteceu no início do trumpismo nos USA, com a cobertura contrária sendo revertida em aprovação do fascista de lá. Quando os problemas e as contradições foram tratados por si, com foco mais plural nos assuntos e envolvidos – pessoas e interesses -, a popularidade dele caiu, suas decisões se tornaram erráticas, os democratas conseguiram, mesmo sem mudanças significativas no partido, recuperar a Câmara. Ou seja, é tirar o foco do personalismo dos principais personagens – vira fofoca de celebridade – e trazer para os assuntos, pessoas e relações de maneira mais objetiva, fria e abrangente. É assim que tem funcionado nos lugares em que a doença neofascista atacou primeiro. 

    Para educar o povo e esclarecer os riscos da situação, a melhor estratégia é não aceitar provocação e fazer exposição permanente da rede de interesses que sustenta o plano USeiro para a segunda temporada do Golpe – a primeira também teve esse furor, gasto de energia às vezes desnecessário, mas o que funcionou para interromper reformas e revelar o verdadeiro caráter do desgoverno foi o combate programático. A autodestruição eles se encarregarão de fazer – talvez a maior oposição que terão será interna, nas disputas entre os diversos grupos, concorrentes e famintos de poder, que estão no trem da orgia que tomará o Vale das Sombras – rebatizei o Planalto – em Brasília. E esta é uma boa pauta para a mídia progressista – foi feito também nos USA e orientou a cobertura independente -, montar o mapa das decisões para entender as forças e pessoas que estão no controle do novo desgoverno – o Nassif é muito bom nisso, mas as peças até agora tem sido esparsas demais para entender o que ocorre no conjunto. 

    É preciso tapar o nariz, olhar para o lado – não consigo olhar as fotos dessas pessoas, todas têm uma expressão de psicopatia que fere a minha sensibilidade, rs – encher os ouvidos de boa música e tentar lidar com a maior objetividade possível com essa gangue – o resto, a sua destruição, é questão de tempo e será obra deles próprios. 

    (desculpem pela redação ruim, repetitiva e pouco inspirada, em excesso; hoje o dia está nublado no meu coração, rs). 

     

    Sampa/SP, 23/11/2018 – 15:44 (alterado às 15:51). 

     

    1. O comentario é bom

      Eh duro mesmo ver as caras desses pessoas que fazem parte desse governo sabendo o que eles valem. E nossos corações, talvez por motivos diversos, estão nublados. No que concerne a vida politica e social do Pais, você tem razão em dizer que devemos também ter as nossas estratégias e seguir com atenção a novela que vem por ai.  

      Se me permite, te abraço. 

      1. Aquecer nossos corações

        Puxa, claro que permito. Muito obrigada pela atenção, e se me permite, retribuo a gentileza.  

        Demorei a responder porque saí de casa para desanuviar as ideias e o coração. 

        Armada com meus botons de Liberdade para Lula e Liberdade para Lula/Abaixo o Golpe de Estado, na blusa e na mochila. 

        Na volta, numa lanchonete, sintonizada na Globélica, vi a imagem de Lula e de Dilma, certamente não eram boas notícias. E ao final o sorriso cínico da porta-voz dos Marinho confirmou que se tratava de mais uma perseguição que vai ocupar o horário podre da emissora. O coração nublado ficou mais pesado, e fiz o caminho até o metrô a pé já descrente de que esse país tem jeito e a certeza de que a luta será longa e difícil. Dentro do metrô, já acostumada a reações aos meus botons, me surpreendi quando uma moça jovem, sem aparência de militante ou ativista, me chamou a atenção para apontar o botom da blusa e fazer sinal de positivo – que alívio! -; numa rápida conversa, em que lhe falei da nova farsa, ela disse que precisamos reagir logo porque estão nos engolfando – palavra usada por ela. Concordei, fiquei menos pesada pela sensação de que somos muitos e estamos espalhados por aí, disfarçados, rs – em São Paulo até a esquerda anda repetindo mantras antipetistas, tá dose – e aqui estou!

        Aproveito para pedir a quem puder que perca o medo de ser constrangido ou afrontado ou confrontado e saia com suas expressões de apoio a LulaLivre na roupa e onde mais puder. 

        Temos que confrontar o comodismo com a prisão injusta e criminosa do nosso líder e companheiro, que está preso por lutar por esse país. E ao ostentar silenciosamente nossa posição, podemos mobilizar as pessoas sem alarde – já percebi que provocamos em quem observa a necessidade de lidar com o assunto, muitos já vi que ficam incomodados não com a mensagem mas constrangidos eles próprios, desviando o olhar, olhando para o chão com feição de reflexão (sei a diferença porque os contrários fazem questão de sinalizar sua posição com meneios de cabeça ou histericamente mesmo, o que é raro mas já aconteceu; e faço questão de observar longamente quem reage ao botom, em todas as situações), como se suas consciências lhes dissessem que sabem ser uma injustiça que por algum motivo é um assunto tabu, do qual não se fala ou no qual não se pensa. 

        Mas se nós nos calarmos, a farsa poderá continuar sem freios. Estamos aceitando passivamente a invisibilização de Lula, seu silenciamento. Ele disse que aqui fora cada um de nós seria ele, não disse? E o que estamos fazendo?  Normalizando o arbítrio. 

        Sejamos os freios. Espalhemos a causa de LulaLivre por todo o país – estou pensando em fazer uma faixa grande para por na laje e providenciar uma camiseta. 

        Temos que lutar por ele tanto quanto ele lutou por este país – e quem não é petista ou lulista ou esquerdista, que o faça por uma questão de justiça!

        Devemos fazer o debate que a imprensa abafou. Eles têm o dinheiro, os meios de comunicação e as instituições. 

        Nós temos nossos corpos – que vestem, falam, olham, sorriem, olham feio, mantêm a cabeça erguida e podem criar uma corrente visível de solidariedade e de apoio ao que defendemos. Ter medo de quê? Do debate? Pois é de debate em público que estamos precisando. 

        Desculpe usar a resposta a você como um desabafo, mas saiu assim, espontaneamente. Vou repetir esse apelo em outros comentários, rs. 

        Abraço fraterno e um beijo da resistência cansada de SP, onde não há amor – ou está congelado pela selva de pedra? 

         

        Não existe amor em SP – Criolo 

         

        [video:https://www.youtube.com/watch?v=f35HluEYpDs%5D

         

        https://www.youtube.com/watch?v=f35HluEYpDs

         

         

        Sampa/SP, 23/11/2018 – 23:48 (alterado às 00:18 de 24/11/2018 – o clipe não aparece!). 

  6. Até que enfim, um diagnóstico conciso e certeiro.

    Gilberto Maringoni, em poucas linhas, fez o que centenas, talvez milhares, dos que se dizem “blogueiros” ou “ativistas” “progressistas” não têm feito desde 2013, quando para mim já era nítido o lançamento das sementes do golpe de Estado em terreno fértil, sob o comando do Deep State estaduidense e finança transnacional.

    Embora Maringoni não tenha usado a terminologia, trata-se da guerra híbrida total e 4ª geração, inspirada nos 11 princípios de Paul Joseph Goebbels, porém atualizdos para a era digital das redes socias internético-planetárias.

  7. POBRE EDUCAÇÃO

    Boa tarde a todos e todas.

    Olha, o Gilberto tem razão quando afirma que essa questão da educação (e cultura, e saúde) são secundárias. O eixo que orienta os novos eleitos é a economia, ou seja, como transferir o patrimônio público para a elite nacional e norte-americana; como diminuir os impostos pagos pelos ricos, como arrasar de uma vez por todas os últimos direitos para o povão.

    Essa desgraça de escola sem partido, o ramerão evanvélico etc. servem para mobilizar os apoiadores do esfaqueado e seus asseclas. O ponto central é a questão econômica, bem apontada pelo Gilberto.

    Todavia, gostaria de dizer que concordo com o que a Cristiane escreveu. Precisamos — depois da derrota — juntar os cacos, verificar quais foram os erros cometidos pelos setores progressistas (PT e toda a esquerda) e organizar a resistência e o enfrentamento. Como escreveu Lênin: OUSAR LUTAR, OUSAR VENCER. Se baixarmos a cabeça e aceitarmos como um rebanho o que vem lá do Vale das Sombras, como diz a Cristiane, é melhor desistir de vez.

     

     

    Um abraço e vamos à luta.

  8. Nosso Povo MERECE tudo isso

    Nosso Povo MERECE tudo isso !!!

    Não foi enganado em nenhum momento !!!

    Todo momento foi deixado claro para ele no que ele estava votando !!! Privatização, estado mínimo e governo para Ricos !!!

    Bolsonaro foi claro e explícito o tempo todo !!!

    Um povo que comemora a prisão de Lula e Idolatra Bolsonaro ainda está tendo pouco !!!

    Um bando de fachos desvairados !!!

    Esse é o povo Brasileiro !!!!

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador