O fascismo é um câncer que mata, mas não morre, por Sebastião Nunes

Que esperam os fascistas, anos e anos, para emergir do pântano tenebroso e asqueros, e afinal e prontamente se colocarem a serviço de morticínios?

O fascismo é um câncer que mata, mas não morre

Por Sebastião Nunes

Acompanhando as buscas pelo local de sepultamento do poeta García Lorca, fuzilado pelos franquistas na noite de 17 de agosto de 1936, o jornalista espanhol Jesús Ruiz Mantilla escreveu em El País, na edição de 27 de outubro de 2015:“O filho do capitão Nestares, Fernando, também militar reformado com patente de general, atesta agora a pertinência da nova investigação. Esse homem, amigo dos arquivos e da história, foi conduzido por alguns dos supostos autores do crime até o exato local dos fatos. ‘Eram três’, afirma o general Nestares no arquivo provincial de Granada. Ou seja, constituíam metade do esquadrão, segundo algumas fontes. Porque Caballero, em seu livro ‘As 13 Últimas Horas na Vida de García Lorca’, apontou pelo menos seis pessoas em suas investigações.”

“Mas o militar não foi com todos eles ao local. ‘Foram os guardas de assalto que me levaram ao local onde diziam que os mataram. Um deles se chamava Antonio Benavides, e era alguém muito fanfarrão. Não haviam voltado a se ver desde a noite em que os fuzilaram. Ficaram contando suas vidas. Foram os mesmos que os trouxeram de Granada’, afirma Nestares.”

“Segundo ele, chegaram ao local do crime dois caminhões vindos de pontos diferentes. ‘Um trazia García Lorca e os ‘banderilleros’ anarquistas, Juan Arcoya Cabeças e Francisco Galadí. O outro transportava o senhor Dióscoro Galindo, professor republicano de Publiana, que também foi fuzilado. Trouxeram-no do seu povoado e sob o comando do Juan Luis Trescastros’.”

“Os demais membros do pelotão eram Mariano Ajenjo Moreno, Salvador Varo Leyva e os campeões de tiro Juan Jiménez Cascales e Fernando Correa Carrasco, armados com suas pistolas Astra modelo 902 calibre 7,65 mm e seus fuzis Mauser modelo 1893, todos eles cheios de munição. Uns eram recrutados por sua perícia nos disparos; outros, como Benavides, um tipo sangrento, um assassino natural, segundo Caballero, apareciam por vício.”

 

O RENASCIMENTO DO FASCISMO

Estamos, portanto, diante de um general reformado, “amigo dos arquivos e da história”, e de seis assassinos a serviço da ditadura franquista. Não fica claro se esses assassinos eram militares ou civis, apenas se mostra sua tendência natural ao crime.

Perícia nos disparos e vício de matar. Aí está dito tudo. Ou quase tudo.

Que esperam os fascistas, anos e anos, às vezes décadas e décadas, para emergir do pântano tenebroso e asqueroso de suas almas amaldiçoadas, e afinal e prontamente se colocarem a serviço de morticínios?

Esperam, se lemos bem o relato acima, que estejam maduras as condições para exercitarem, com gosto e sadismo, sua perícia e seu vício. É como se, durante esses tantos anos, hibernassem, ocultos nas tenebrosas cavernas do Mal, à espera do momento de retornarem à vida, à superfície e ao crime.

Foram esses, que são milhares e quem sabe milhões, que ressurgiram do nada, quase repentinamente, como uma legião de zumbis, marchando incansáveis em torno de Hitler, Mussolini, Franco, Salazar e Pinochet, livres de culpa, de punição e, sem dúvida alguma, de remorsos. São os mesmos que, no Brasil, engrossam as hordas de Jair Messias e seus filhos, do genocida Witzell e seus assassinos fardados, dos matadores de aluguel de todos os tempos e lugares, mas principalmente no Rio de Janeiro.

 

O OFÍCIO DE MATAR

Voltei ao ano de 1936, quase por acaso, porque a narrativa do jornalista Ruiz Mantilla me conduziu à morte de um poeta importante e aos nomes de seus assassinos, indivíduos que se perderam nas brumas do tempo. E também à presença de um general estudioso, que nada tem a ver com esses que estamos cansados de ver e ouvir.

Matar no Brasil sempre foi um ato banal e corriqueiro.

Os tristemente lembrados “coronéis”, donos de latifúndios ou currais eleitorais, quando não de ambos, ficaram famosos em nossa história pela herança macabra. Quase sempre ficaram impunes.

Repete-se hoje a tragédia, em que as palavras-chave continuam sendo sadismo, vício, perícia nos disparos e, incrivelmente, “assassino natural”, expressão que seria inconcebível, se não se tratasse da escória da espécie humana.

São essas as sementes que estão sendo plantadas por Bolsonaro e sua equipe de marginais, pois é de marginais que se trata, nascidos dos pântanos de ódio e rancor.

Sebastiao Nunes

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