Por quem as panelas batem, por Cleiton Leite Coutinho

As panelas seguem sendo batidas sem o menor sentido crítico ou objetivo de quem os faz.

Foto El Pais

Por quem as panelas batem, por Cleiton Leite Coutinho

Nos últimos dias assistimos  as panelas voltarem a bater, nos lembrando alguns anos atrás, quando essa mesma classe média resolveu ir as sacadas de seus apartamentos batendo em panelas como forma de demonstrar a insatisfação com o governo central.

O episódio naquele momento, já era digno de profunda reflexão, acerca do que realmente trazia tamanha insatisfação por parte dessa parcela da sociedade.

Isso em razão de no oportuno tais protestos serem apresentados sem uma pauta clara por parte da nossa pseudo elite.

Mais que isso, as panelas apontam um processo de despolitização, ignorância e intolerância, já que “os manifestantes”, não apresentam de forma minimamente qualificada a demanda suscitada e ainda vemos o protesto aparecer na forma de repulsa social arbitrária, que ao seu fim quer dizer: cala a boca! Não toleramos mais você! Chega!

Em um romance de 1940 do escritor norte-americano Ernest Hemingway, “Por quem os sinos dobram”, os ingredientes  que envolvem por vezes a irracionalidade em uma guerra, nos faz refletir o quanto à nossa democracia é frágil e como somos tentados à manipulação de massa, quando acreditamos nos interessar, chegando ao ponto de fazermos coro.

Depois de mais de 500 anos do descobrimento do Brasil e de quase quatro décadas da redemocratização do país, vemos que é possível um presidente ser eleito e sem qualquer processo de debate profundo, setores com força política elevada, que foram determinantes na sua eleição praticamente depor o mesmo do poder, utilizando as “regras institucionais”, para tanto.

Quando Collor foi impeachmado faltou maturidade e reflexão ao cerne do poder, que ao encontrar pela frente uma pífia desculpa, resolveu a insatisfação do péssimo governo.

É verdade que o Collor era um presidente forjado pelo sistema, sem legitimidade das bases populares e pouco importava sua queda, pois não representava mais nem mesmo os interesses do mercado que o havia inventado, para impedir o avanço do candidato popular que realmente tinha extrato social.

Tal fato serve ao atual governo, que repetida a fórmula manipuladora da elite, novamente golpeou a democracia, para impedir que o ex presidente Lula voltasse a governar o Brasil e temos como resultado prático um aprofundamento da recessão político econômica do país, jamais visto.

Já no impeachment de Dilma, não havia crime de responsabilidade, conforme   relatório técnico propositalmente ignorado pelos seus algozes e a mesma tinha passado pelo crivo das eleições presidenciais batendo os seus principais adversários em dois turnos de votação com mais de 54 milhões de votos que foram de igual forma ignorados por parte majoritária dos 534 deputados e por um punhado de senadores que compõe o sistema mais perverso e conservador do país.

Agora temos um presidente ilegitimo do prisma democrático, mesmo tendo aparentado seguir as regras democráticas, que se mostra incapaz de governar um só dia o país, como chefe de Estado.

Esse comportamento, a princípio simpático a classe média, pelas similaridades de arrogância, intolerância e pouca reflexão passou a se tornar o seu pior pesadelo quando descobriram o que realmente são.

Os batedores de panelas, raríssimas exceções, nada mais são que o estereótipo do atual presidente, que se vê acima do bem e do mal, que não acham que devem satisfação para ninguém e que são a solução para tudo e o resto não passa de entrave na vida deles.

Exatamente por isso, não posso concordar com as panelas baterem quando o setor dominante quer, mesmo que confesso aliviar a alma.

Não tenhamos dúvidas que parte da grande mídia, atendendo aos interesses invisíveis ao olho nu são o principal pilar de sustentação dos panelaços, razão pela qual, não podemos deixar de perguntar: para atender aos interesses de quem as panelas batem? Por quem as panelas batem?

As panelas seguem sendo batidas sem o menor sentido crítico ou objetivo de quem os faz.

Um país precisa ser alfabetizado. Mas, antecede a isso, que ele seja politizado, pois não existe pior analfabeto, que o analfabeto político, que bate panela sem saber por quem.

Cleiton Leite Coutinho. Advogado, Presidente do PT de São Bernardo, membro da ABJD e dirigente do SASP.

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