A minha despedida de Luís Roberto Barroso

É a última vez que critico o Ministro Luís Roberto Barroso, e por uma razão bastante objetiva.

Até então, minha indignação com ele era devido ao fato de aparentar ser uma referência em direitos civilizatórios (termo, aliás, que ele gosta de utilizar). Quem tem essa dimensão, tem que ter uma responsabilidade correspondente.

Mas, à medida em que o tempo passa, fica claro meu erro de avaliação: o Ministro Luís Roberto Barroso é apenas um Ayres Brito ao creme brulle.

Os grandes humanistas – os agentes “civilizatórios”, como gosta de apregoar Barroso – sempre conseguiram enxergar o outro como expressão de toda a humanidade. Seriam capazes de se indignar com reformas que condenam idosos pobres à morte antecipada, que tiram direitos de pessoas com deficiência, que abrem mão da universalização da educação, que reduzem o acesso dos mais pobres à universidade.

Por outro lado, os verdadeiros estadistas enxergam nas políticas públicas o modo de garantir a coesão social, criar um país próspero e justo, através do aproveitamento das potencialidades de toda a população, com a universalização de oportunidades.

O humanismo seletivo, que não consegue olhar além do seu meio social, é próprio do humanismo de boutique, que trata os grandes valores civilizatórios apenas como um modismo, o deslumbramento de brilhar em um salão, desfilando como “moderno”, do mesmo modo que anunciam o último filme da moda, ou passam dicas sobre o último livro da temporada.

Minhas desculpas, então, ao Ministro Barroso, por exigir dele algo que estava a léguas de distância de sua verdadeira dimensão como homem público. Barroso está despedido de minha relação de implicâncias. Entre outros motivos por não passar de um intelectual do eixo Rio-Miami.

Luis Nassif

Luis Nassif

View Comments

      • Saturno brincando com o ensino público

        Saturno brincando de humanismo

         

        Seções CRISE NO RIO DE JANEIRO

        Ex-aluno da UERJ, ministro do STF quer debate sobre financiamento

        Barroso defende em artigo que se pense em novas fórmulas para sustentar as universidades públicas

        OtrosLoginLoginImprimirRio de Janeiro 23 JAN 2017 - 15:51 BRST

        A Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) gaba-se de ter entre seus ex-alunos figuras ilustres como o ex-diretor do Inca (Instituto do Câncer), Marcos Moraes, o ex-ministro do Tribunal Supremo, Joaquim Barbosa, e um dos atuais ministros Luiz Fux, mas um deles trouxe à tona às vozes de quem defende a privatização do ensino superior no Brasil. O ministro do STF Luís Roberto Barrosoconvidou, em um artigo publicado no jornal O Globo no final de semana passado, a pensar em novas fórmulas para sustentar as universidades públicas. O artigo surge em um momento em que a UERJ enfrenta sua mais dura crise e acusa o Governo de "forçar" seu fechamento.

        Ministro do STF Roberto Barroso NELSON JR STF

        MAIS INFORMAÇÕES

        Crivella toma posse no Rio e marca o lema dos novos prefeitos: “É proibido gastar”“Ou almoço ou jantar”, a escolha dos servidores públicos do RioRio de Janeiro, da euforia à depressão

        “A crise da UERJ revela não apenas a falência do Estado do Rio, mas também de um modelo de financiamento da universidade do Brasil” afirmava Barroso. “Precisamos conceber uma universidade pública nos seus propósitos, mas autossuficiente no seu financiamento”, explicava Barroso, inspirado no modelo norte-americano, capaz de atrair filantropia e doações dos ex-alunos. “O Orçamento público tem que ser, prioritariamente, para ensino fundamental é médio”, continuava.

        A opinião de Barroso causou polêmica e foi atacado nas redes sociais por alunos e professores. Tampouco caiu bem na reitoria. “Se há um projeto deliberado de desmonte da Universidade pública a gente não sabe, mas hoje voltou a discussão de como o Estado deve financiar o ensino superior. Mas devemos ter em conta que no Brasil, o ensino superior já e na sua maioria privatizado. É fundamental garantir que a camada de população mais pobre tenha acesso. Se acabarmos com as poucas instituições de ensino públicas, só teremos ricos nas faculdades”, lamenta o reitor de pós-graduação e pesquisa, Egberto Gaspar de Moura.

        ADVERTISING

        “Com a crise começaram a se ouvir questionamentos sobre se vale a pena manter a universidade neste formato, sem cobrança ao aluno. A imagem que a UERJ pode passar é de que é um lugar para pessoas privilegiadas, mas se passasse a cobrar mensalidade, muita gente não conseguiria continuar estudando aqui. Não sou a favor da privatização dos recursos da UERJ, mas sim acho que devemos aproveitar essa crise repensar nossa relação com a sociedade, demonstrar quanto somos importantes”, afirma Maurício Santoro, chefe de departamento de Relações Internacionais da UERJ e professor também de outras instituições privadas.

         

      • Nem contra isso ele se

        Nem contra isso ele se levantou.  No Brasil a ingratidão virou regra. Nos EUA a pessoa paga uma grana preta para estudar nas melhores universidades,  quando alcança sucesso na carreira sempre retorna as universidades com vultosas doações em espécie  ou de outra forma.  Aqui o cara só ou finge que não é com ele.

  • Alguém para admirar ?!

    Quando ele assumiu no STF também tive a ilusão de que era alguém para se admirar. Principalmente naquele âmbito. "Oba!! Até que enfim etc e tal... " . Foi mais um engano, mais uma decepção, como se viu a seguir, que serviu para encher o "pote de até aqui de mágoa".

  • Enxergar o outro como expressão de todos

    Ainda que sem direito vou comentar.

    Nunca vi alguem definir humanismo com tanta propriedade.

    Chega a ser comovente.

    Parabens!!!

  • IMBECIL BEM TREINADO

    Este é outro que faz parte da minha lista dos imbecis que foram muito, mais muito bem treinados.

  • Nassif é um dos poucos

    Nassif é um dos poucos jornalistas de primeiro time que se desculpam com o seu leitor por uma avaliação errada sobre uma personalidade pública. Me lembro de três = Serra, Aécio e agora Luis Roberto. 

    Muito legal agora a arte que ilustra os posts. O GoArt é um coletivo ou tem um artista responsável? 

  • O Borroso tem uma vantagem -

    O Borroso tem uma vantagem - e importante - sobre o Ayres = que eu sabe, Borroso não é metido a poeta (rs). Aliás, é um páreo duro saber quem é o 'melhor' pueta = Brito ou Temer. É pior do que ouvir baile funk durante toda a noite. Aliás, no inferno de sartre na peça entre 4 paredes, se eu fosse diretor, colocava, no climax, alguém recitando poemas desses dois poetas rss

  • Falsário ideológico

    Valeu Nassif !

    Penso o mesmo. Achei que ao enfrentar o Batmam Barbosa ele seria minha identidade no STF. Porra nehuma , quer receber o seu no fim do mês e que se danem os outros que o pagam, nós os otátios .

    Podia salvar o país, mas preferiu entar para a história como um covarde ideológico- que precisa ser instigado para agir. Babacas, ele, o Teori, Carmém Lucia, o falastrão prepotemde M.A. Melo, e aquele que ficou puto com o Lula ter chamado o STF de omisso em gravação não autorizada e que depois amarelou para o Moreira do Temer. Amarelou e TODOS, TODOS tem medo do Gilmar Mendes, que manda e desmanda  no país ....e estes ficam a ver por não serem instigados.

    O Brasil não merece estes  CONSTITUCIONALISTAS, argh !

  • Barroso e Alice no país das maravilhas...
    Assim como o nobre articulista, milhares de brasileiros se decepcionaram com o pop star Barroso. Possuidor de uma retórica fácil, um discurso "marketoso", mas com atuação deprimente e covarde.
    Dizem as más línguas, estar o supremo ministro refém de suas preferências de alcova, que são distantes da ortodoxia. Com a rede de espionagem montada para destruir reputações desde Carlinhos Cachoeira e "caneta", além da NSA e congêneres agindo livremente em terras brasilis, ou se afina ou vai para o saco.

    • "Refém de suas preferências

      "Refém de suas preferências de alcova"???

      Não é que eu sempre desconfiei disso? Nada contra (nem a favor), pois é de foro íntimo...

Recent Posts

Choques políticos em série refletem bagunça institucional, por Antonio Machado

O chamado ativismo judicial provoca rusgas institucionais desde o tempo do mensalão, antecedendo os ataques…

13 horas ago

Lei de Alienação Parental: revogar ou não revogar, eis a questão

Denúncias de alienação descredibilizam acusações de violência contra menores e podem expor a criança aos…

14 horas ago

Papa Francisco recebe Dilma Rousseff no Vaticano

Os dois conversaram sobre o combate à desigualdade e à fome. Para Dilma, o papa…

17 horas ago

Exposição à poluição aumenta o risco de doenças cardíacas em moradores de São Paulo

Os pesquisadores constataram que pessoas que sofrem de hipertensão sofrem ainda mais riscos, especialmente as…

17 horas ago

Vídeo mostra a ação da polícia durante abordagem de Tiago Batan

Caso ganhou repercussão no interior de SP; jovem faleceu após ser baleado na região do…

18 horas ago

Roberto Campos Neto e o terrorismo monetário

É papel do Banco Central administrar as expectativas de mercado, mas o que o presidente…

19 horas ago