A oportunidade para Dilma desenhar o novo tempo

Dilma Rousseff terá seis meses para garantir a governabilidade. Tem-se um país cindido, uma ansiedade nacional pelo novo – sem saber direito o que vem a ser -, as demandas empresariais e dos consumidores

Será o período crítico em que conviverá com falta de resultados na política econômica, com a marcação implacável dos grupos de mídia, com a falta de perspectivas da oposição (já que 2018 ainda estará distante), tudo confluindo para o ponto de ebulição da Operação Lava-Jato.

A reeleição traz um risco e uma oportunidade – dependendo da maneira da presidente planejar o segundo mandato. Se não conseguir reverter as expectativas, se passar a impressão de que tudo será como antes, Dilma não completará a travessia.

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Qual é a medida fundamental, a chamada ideia fundadora capaz de sinalizar os novos tempos?

Há um conjunto de práticas anacrônicas que assombram o país, como ectoplasmas nunca exorcizados, amarrando o país ao passado. Práticas anacrônicas no Banco Central, na reforma fiscal, na falta de visão sistêmica das políticas públicas, no licenciamento ambiental, na metodologia dos órgãos fiscalizadores.

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Não basta tentar atacar uma ou duas práticas anacrônicas, nem sair dando tiro a torto e a direito à base do poder da vontade pessoal. Tem que se convocar o país para uma cruzada em favor dos novos tempos.

E também não basta apenas a conclamação. Tem que se ter o modelo, o duto sendo construído para canalizar as aspirações dos diversos segmentos sociais, do empresariado aos movimentos sociais, das ONGs aos sindicatos para a construção conjunta de políticas públicas.

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Um caminho para esse tiro inicial seria montar um pré-governo daqui até o final do ano, um pouco espelhado no que foi feito por Fernando Collor no Bolo de Noiva, antes da sua posse.

Na época, foram convocadas lideranças de vários setores. Das reuniões brotaram ideias relevantes, como a criação da Fundação Nacional da Qualidade,  as primeira experiências de qualidade nas estatais e a criação do novo Sebrae.

Hoje em dia, a pauta é muito mais extensa, mas muito mais extensa é a vontade de participação e o manancial de ideias que brotam de todos os lados, das associações empresariais, dos movimentos sociais à nova economia.

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Define-se um conjunto de temas centrais – do combate à burocracia às formas de participação social, por exemplo – e convocam-se  lideranças da sociedade civil para uma imersão de alguns dias nos temas propostos.

Não haveria compromisso de acatar nenhuma proposta, mas a abertura para extrair das discussões as melhores propostas e torná-las exequíveis. E não seria um conchavo restritivo, mas o embrião de um acordo nacional em alto nível, que convoque lideranças civis de todos os naipes.

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A partir dessas discussões, Dilma poderá extrair um plano de ação consistente a ser apresentado no primeiro dia do seu governo, projetos com começo, meio e fim e formas modernas de acompanhamento por parte da opinião pública.

Principalmente, sinalizaria para uma nova etapa na democracia social brasileira, em que a construção de políticas públicas com a sociedade deixaria de ser retórica de campanha para se transformar na nova praxis.

Luis Nassif

Luis Nassif

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    • REUNIÃO, UNIÃO

      Definitivamente, é hora de cessar as animosidades, seja de cunho pós-eleitoral, como se a campanha ainda estivesse nas ruas, ou se tivéssemos que perpertuar indefinidamente a batalha ideológica. Assim o país não anda. Alguém ganhou as eleições. Agora tem que governar. Ponto.

      Querer criar um contra-ponto pra promoção da instabilidade de governança do Brasil é um risco, e um baita descompromisso com a democracia, pelo menos eleitoral e de livre manifestação de pensamento, que muitos deram a vida e a sanidade mental para consegui-la. 

      É hora do diálogo, da REUNIÃO, da UNIÃO.

      É hora, também, em nível responsável e republicano, que a oposição não se furtando ao diálogo, exerça o contraditório, não a tentativa de golpe indiretamente exercida através dos seus adeptos midiáticos e manobras congressuais.

      Repito: é hora de REUNIÃO, de UNIÃO, e que o Governo/PT/DILMA entenda, também, que a sociedade precisa ser ouvida, precisa ser reunida, necessita ter norte, anseia por mudanças e por esperança de novos rumos para o Brasil.

      VIVA O BRASIL! VIVA O POVO BRASILEIRO!

  • Cidadão,

    Com o crédito nas mãos dos bancos privados e com os juros que cobram, não há investimentos nem consumo que prosperem. Imaginar o que Aecim e Armínio fariam é de arrepiar. 

  • Como Assim?

    "Dilma não completará a travessia". Se as coisas não ocorrerem conforme a cartilha dos perdedores corre-se o risco deles virarem a mesa?

    A primeira coisa que a Dilma precisa é de um time de Ministros de primeiríssima linha. A começar pelo Ministro da Justiça. Cá entre nós, os seus ministrecos do governo anterior não ajudaram em nada.

    • Danou-se

      Acabei de ler no IG:

      "Tudo sobre o novo ministério passa por Aloysio Mercadante".

      Se depender desta nulidade petista começa mal.

      • Em termos

        Mercadnte é sim um bom quadro

        Mas sobre o Ministro da Justiça, concordo integralmente.

        Tem que ter um cara com grande respeitabilidade e coragem de ir pra briga se for preciso

        • Lamento, mas acho que foi bom só "prás negas dele"

          Lamento não concordar ou não conhecer estas qualidades do Mercadante que o fazem um "bom quadro". Só recentemente passou por 3 Ministérios e não deixou nenhuma marca relevante. Só foi revante para os votantes paulistas, mas, infelizmente, esta parte do eleitorado está sob suspeita. O governo precisa de assumidades, verdadeiros virtuoses nos Ministérios, quadros como Fernando Haddad.

          Basta uma passada rápida pelos nomes do Ministério para ver que nulidade foi o governo passado neste aspecto.

          Se o Congresso declina de ser a representação da cidadania, é lá, nos Ministérios, que deveriam estar todos os comitês populares para discutir os avanços a serem implementados.

          • Não confio no Mercadante.

            Não confio no Mercadante. Infelizmente ele faz parte dos quadros petistas que sempre me parecem jogam com a oposição. Não vejo muita diferença do Mercadante para o Paulo Bernardo, Vaccarezza, Zé Cardozo, etc. 

  • Dilma 2.0

    Mais um belo texto de Luis Nassif. Gostaria apenas de acrescentar que Dilma deveria confiar em seu vice, Michel Temer, e dar-lhe poder para conduzir a reforma política. Não sairá reforma política do PT nem do PSDB. Somente a reforma de consenso, no caso, do PMDB/PT/PSDB com eduardos cunha e tudo,... Lembro que no começo do governo FHC, Nassif escreveu que seu maior inimigo seria o próprio ego: poderia ser um grande presidente de um pequeno país ou um pequeno presidente de um grande país,... Grande profeta este Nassif. Espero que Dilma seja leitora do blog...

    • Compactuo 100%!

      Além de exaltar o companheirismo do Vice Presidente que está sempre ao lado de Dilma sem polêmicas e/ou escândalos. 

      • Michel Temer

        eh uma forma de somar o PMDB e nao acredito muito nele como articulador mais no meio da campanha me surpreendeu.

        Seria um bom cabeca de chave?

  • Qual é a medida fundamental

    Qual é a medida fundamental, a chamada ideia fundadora capaz de sinalizar os novos tempos?

    fácil.

    Abaixar os Juros da Selic. Ponto.

     

  • Correção de rumo

    Dilma talvez tenha entendido que seu maior erro foi se encastelar no Planalto. O resultado das últimas eleições demonstraram a importância do diálogo com a sociedade. No próximo governo, posturas centralizadoras serão inviáveis tendo em vista a conjuntura desfavorável no Congresso Nacional e na economia Mundial.

    Repartir responsabilidades é a melhor forma de evitar desgastes do governo. Caso a presidente tome decisões equivocadas individualmente toda a artilharia da oposição e da mídia golpista será concentrada nela. Assim é importante colocar todos os setores interessados no progresso do país em movimento e com participação efetiva.

    Com isso, Dilma diminuirá sua fragilidade e aumentará sua força diante de um Congresso Nacional mais fisiológico.

    • Repartir responsabilidades

      seria tambem somar ideias e acertos. Descentralizar soma dinamica entre grupos, cidades e estados. 

  • Dilma reloaded

    Confio na presidente. Acho ela capaz e ciente dos seus compromissos e desafios neste segundo mandato. É mulher com entendimento de Brasil e, com certeza, saberá escutar mas também tomar decisões que ache mais apropriadas.

    Vamos dar um voto de confiança a ela. Parece que tá todo mundo desconfiado. Calma lá!

  • o diálogo participativo   

    o diálogo participativo    foi proposto

    e ousodizer que ele já é´inerente a esse governo

    progressista e democrático nestes últimos doze anos.

    a ver no que dá...

    ou dão...

    a política é um dom.

    mas uns querem mais que outros.

    lembra do famigerado centrão,

    do é dando que se recebe?

    macularam o espírito franciscano.

    parece que continuam querendo seus mimos.

    duro é enfrentar a empáfia desses retrógrados,

    certamente a obscuridade misteriosa a

    ser desvendada e revelada nesse próximo período.

    ou essa turma reacionária continua com

    seus achaques para amealhar mais privilégios que garantam

    sua vocação patrimonialista,

    ou desvela-se republicanamente em benefício do país.

    haver....

     

  • O anacronismo é sistêmico,

    O anacronismo é sistêmico, vide legislativo na derrubada do decreto 8243, todos os políticos em campanha repetem a toada da participação popular para embalar os eleitores, depois nós dançamos sozinhos no salão. O judiciário inovando e retrocedendo nas suas decisões, a segurança jurídica tornou-se um mistério, ninguém consegue prever resultados, cada juiz uma sentença. No atual estágio da nossa democracia, a governabilidade exige um constante jogo de perde- ganha. A nossa própria sociedade está demonstrando um comportamento tão arcaico em pleno século XXI. O projeto de médio e longo prazo é que precisa enxergar além destas cortinas esfumaçadas produzidas pelas políticas reativas do aqui e agora.

  • O Brasil é refém dos bancos

    Selic alta inibe investimentos com capital próprio.

    Selic alta + spread altíssimo inibe tomada de crédito para investimento e consumo.

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