Bolsonaro não pode ser “Trump dos Trópicos”, por Gregorio Duvivier

Jornal GGN – Enquanto repórteres norte-americanos investigavam Watergate nos Estados Unidos nos anos 70, o Brasil na mesma época torturava cidadãos e jornalistas desapareciam com ajuda do Estado. Quem vê a afinidade de Jair Bolsonaro e Donald Trump não deve perceber tal dimensão do quadro brasileiro, diz o humorista Gregório Duvivier.

Em artigo publicado no jornal The New York Times, Duvivier explica que Bolsonaro nunca escondeu seu amor pela ditadura militar e pelo coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra – “ele considera o coronel Ustra, que dirigia um centro de tortura nos anos 70, um “herói nacional””, diz, ressaltando que o presidente brasileiro “parece mais um cruzamento de Augusto Pinochet com Borat” embora goste de se intitular um Trump dos Trópicos.

Para além do amor à ditadura, Duvivier explica que o estado laico “não pegou debaixo do Equador”. O articulista explica a existência de uma bancada evangélica que não representa apenas um lobby cristão, e um exemplo do problema brasileiro com a laicidade é que Deus foi o nome mais citado durante o processo de impeachment de Dilma Rousseff.

Diante disso, Duvivier aborda aos norte-americanos o especial de Natal que o coletivo Porta dos Fundos – o qual ele é um dos fundadores – fez para o Netflix para falar sobre a juventude de Jesus e que, desde seu lançamento, tem sido alvo de ações e petições pedindo a retirada do conteúdo do ar.

A diferença apontada por Duvivier é que, com Bolsonaro no poder, os ataques tomaram outras formas, como a tentativa de incêndio da sede da produtora com coquetéis molotov de autoria reivindicada por um grupo chamado Comando de Insurgência Popular da Família Integralista Brasileira.

Acreditou-se que o movimento integralista tivesse morrido, mas ele ressurgiu com força no Brasil de Bolsonaro. “Embora nosso presidente não mereça a alcunha de Trump dos Trópicos (nem isso!), ele certamente foi muito ajudado pelo resultado das eleições americanas. Se os Estados Unidos elegeram um oligofrênico, porque o Brasil não poderia?”, diz.

Redação

Redação

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  • Ainda bem que ha resistência, muito através do humor, como Porta dos Fundos, Familia Passos e outros, à essa onda, orda reacionaria de cunho fascista. Quanto a questão religião, toda religião pode ser criticada e, alias, Jesus era judeu e nem havia catolocismo quando viveu. Uma criação ocidental anos depois de sua morte. Se é que Jesus existiu tal qual.

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