Críticas ao secretário do Tesouro sinalizam mudanças na política econômica

Do Estadão

JOÃO VILLAVERDE / BRASÍLIA
Após ser criticado publicamente por Lula, secretário do Tesouro vira alvo de pressão política para sinalizar mudança no governo

A “chamada” pública que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu no secretário do Tesouro, Arno Augustin, engrossou um movimento de assessores e interlocutores do Palácio do Planalto para sinalizar ao mercado a entrada em operação neste ano do “Dilma 2, já!” – uma versão nova da política econômica.

O secretário foi alçado a bode expiatório do baixo crescimento econômico e da crise de confiança dos investidores em relação à economia. A ideia de sua saída, defendida nos bastidores, serviria para um choque de confiança junto ao empresariado, antecipando a indicação de um nome mais palatável ao setor privado em eventual segundo mandato de Dilma Rousseff.

Criticado pelas manobras contábeis realizadas nos últimos dias de 2012 para fechar as contas fiscais daquele ano, Augustin completa neste mês sete anos à frente da Secretaria do Tesouro Nacional. O recorde de permanência no cargo é criticado dentro e fora do governo.

Um ex-integrante da equipe econômica disse ao Estado que há um desejo “crescente” no PT de substituir Augustin durante a campanha presidencial. A lógica é: se o secretário tem sido uma causa constante de ruído do governo junto ao setor privado e ao mercado financeiro, em especial, sua substituição sinalizaria imediatamente uma mudança de rumo, “ainda que leve”, como ponderou a fonte, que se estenderia ao longo dos próximos quatro anos.

Na sexta-feira, o ex-presidente Lula teceu críticas públicas à política econômica do governo diante de uma plateia de empresários. Augustin, que estava presente, foi cobrado pelo petista por um esforço maior junto aos bancos públicos para estimular o crédito. O secretário do Tesouro foi equiparado a um tesoureiro de sindicato, que segura o dinheiro no cofre. Desde a afirmação de Lula, Arno não se pronunciou sobre o caso.

O desempenho da economia tem provocado críticas fortes e enfraquecido o governo às vésperas da eleição. Para o mercado financeiro não há dúvidas de que o secretário do Tesouro personifica a política econômica de Dilma. Ao longo dos oito anos de mandato de Lula, essa “personificação” foi dividida entre Antônio Palocci, Henrique Meirelles e Guido Mantega.

Soldado. No governo, no entanto, o quadro permanece inalterado. Augustin é considerado um dos mais leais “soldados” de Dilma. O termo militar, inclusive, tem se disseminado pela Esplanada dos Ministérios e o Palácio do Planalto para denominar o chefe do Tesouro.

Augustin e Dilma, estiveram juntos nos anos 1990, quando ocuparam as secretarias da Fazenda e de Minas e Energia, respectivamente, durante o governo Olívio Dutra no Rio Grande do Sul. Já dentro da instituição que comanda há sete anos, o Tesouro, a situação é delicada. Depois de enfrentar uma rebelião do corpo técnico, revelada pelo Estado em dezembro, Augustin tem concentrado ainda mais poder: alguns subsecretários e coordenadores recuam no momento de assinar autorizações e decisões, com temor de serem responsabilizados por órgãos de controle.

Entre técnicos de carreira do Tesouro, Augustin é visto como “o cara do PT”, e isto porque, diferentemente de seus antecessores, não tem base no mercado financeiro. Petista da corrente Democracia Socialista (DS), foi elevado ao núcleo duro do governo desde o início da gestão Dilma41, em 2011.

Decisões. Augustin participou da formulação da controversa Medida Provisória (MP) 579. Ela antecipou a renovação das concessões de gerações e transmissão de energia elétrica, que reduziu a conta de luz dos consumidores no ano passado, mas ampliou em pelo menos R$ 20 bilhões a fatura para o contribuinte. Ele também participou de todas as reuniões técnicas com a Casa Civil para definição das concessões de infraestrutura ao setor privado.

Em sua defesa, fontes afirmam que Augustin foi “o operador dos programas federais”. Lula disse que o governo deveria combater o mau humor na economia, que cresce pouco há quatro anos, com mais recursos públicos irrigando o crédito às famílias e empresas. A tática foi empregada pelo próprio Lula para combater a crise internacional, entre 2008 e 2010. “Arno sempre autorizou os repasses bilionários ao BNDES, e as capitalizações da Caixa, então é injusto dizer que ele segura os recursos”, afirmou um economista do governo.

 

Redação

Redação

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  • Notícia do Estadão, dando

    Notícia do Estadão, dando conta que Lula 'criticou' a política econômica de Dilma por não ser mais fovorável ao mercado. k k k k k k k k k k

  • Na frigideira

    O motivo a matéria deixa bem claro

    "Entre técnicos de carreira do Tesouro, Augustin é visto como "o cara do PT", e isto porque, diferentemente de seus antecessores, não tem base no mercado financeiro."

  • Nao vi "critica"

    Nao vi "critica" nenhuma!

    Qual eh a desse item?!?!?!  Colocar culpa publicamente em Lula pela substituicao desse cara por alguem "mais palatavel ao setor privado" que o estadao quer????

  • O problema não é Arno!

     "Arno sempre autorizou os repasses bilionários ao BNDES, e as capitalizações da Caixa, então é injusto dizer que ele segura os recursos", afirmou um economista do governo."

    Exatamente! A culpa pelo descalabro na economia é a gastança de Arno, não uma suposta barreira à gastança.

  • cara, presidente lula falou

    cara, presidente lula falou em alto e bom som que o cara é retranqueiro, falou também que a inflação está alta... será que petista tem problema de cognição?

  • Segurar o dinheiro no cofre

    Entra governo, sai governo, um dos modos mais esquisitos que conheço de segurar dinheiro no cofre é o dos precatórios.

     

    A justiça julga que alguém tem direito a receber uma grana do Estado - mas isto entra como um "a pagar" para um futuro que quase nunca chega.

     

    Um outro modo fdp de segurar dinheiro no cofre de governos é com retenção de devolução de imposto de renda. Em certos casos inacreditáveis, a Receita reconhece que a devolução é devida, mas diz que não tem como proceder à devolução porque os parâmetros precisam ser acertados entre quem reteve e ela própria, Receita, além da justiça. Conheço casos assim, de processos que se arrastam há 12 anos, sem perspectiva de solução próxima.

     

    E certos "reforços" ao superavit primário, dos quais pouco se reclama? Deve ter ocorrido também neste ano, pois é frequente o uso de depósito judicial para reforçar superavit primário. O Estadão tem informado a respeito disto ano a ano: em 2009, por exemplo,  diz o jornal que a Caixa repassou "depósitos judiciais" no valor de R$ 5 bilhões para o Tesouro Nacional.  Isto quer dizer, de modo explícito e claro, que é ótimo para governos que a justiça brasileira ande a passo de cágado.

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