Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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Curta “Fake News Fairytale”: quando notícias falsas viram contos de fadas, por Wilson Ferreira

por Wilson Ferreira

“Políticos são como mágicos, acenando com as mãos, fingindo que o truque está acontecendo em outro lugar. Enquanto isso, eles nos distraem, escondendo aquilo que está acontecendo diante de nossos olhos.” Essa é a conclusão de “Fake News Fairytale” (2018), um curta sobre como se articulam as noções de verdade, ficção, realidade e ilusão nas fake news, abordadas pela diretora Kate Stonehill como narrativas análogas a contos de fadas. Em um divertido documentário que simula ser um “mockumentary”, baseia-se num caso real: a repentina fama que a pequena cidade de Veles, no interior da Macedônica, ganhou como o centro da “corrida do ouro” das fake news: adolescentes que ganharam muito dinheiro com anúncios em website que publicavam notícias falsas repercutidas nas redes sociais a partir de perfis falsos. E ajudando a vitória de Trump nos EUA. Sem emprego ou futuro, jovens viram a chance de ganhar dinheiro rápido. Essa é a matéria-prima da atual ultradireita nacionalista. 

Eles foram chamados de “Veles Boys”. A milhares de quilômetros de distância do cenário da disputa eleitoral à presidência dos EUA, diversos jovens de uma cidadezinha chamada Veles, no interior da Macedônia, montaram sites usando publicadores simples como o WordPress. Neles instalaram diversos de espaços para banners do Google AdSense, e passaram a publicar informações absurdas sobre eventos e políticos dos EUA. Encheram os bolsos com o dinheiro proveniente da publicidade digital – uma média de 20 mil euros por mês, no tempo que durou a campanha eleitoral norte-americana.

Essa espécie de corrida do ouro digital é o tema do curta Fake News Fairytale, um documentário híbrido – embora baseado em fatos reais, lida com a própria narrativa como um conto de fadas, destacando o protagonista como um ator que interpretaria um personagem real da pequena cidade. Um mockumentary hiper-real? 

Com um olhar de humor cínico e metalinguístico, a diretora Kate Stonehill conseguiu transformar num conto de fadas pós-moderno a reportagem que ela tinha terminado de ler na revista Wired: como é possível adolescentes do interior da Macedônia, disparando bizarros clikbaits, tiveram a possibilidade de interferir na cena política de uma nação do outro lado do planeta.

Filmado simultaneamente com câmeras VHS, Super 8 e dispositivos digitais, Fake News Fairytale cria uma ambiguidade proposital sobre a autoria do filme – parece ser um mix de takes caseiros dos próprios adolescentes macedônios, imagens de produtores locais e planos da própria diretora. A narração voz over em macedônio acentua ainda mais a ambiguidade.  

 

 

O Curta

Fake News Fairytale abre com uma epígrafe de um aforismo de Donald Trump: “Isso não é reality show. Isso é a realidade”. Sob uma trilha de contos de fadas, vemos adolescentes andando pela cidade com máscaras de Trump, Obama, Hillary Clinton e outros personagens da política dos EUA.

“Era uma vez uma cidade chamada Veles, no coração da Macedônia…”, começa o curta como uma típica narrativa de contos de fadas. Ficamos sabendo que Veles no passado era um centro comercial e industrial, além de eixo de conexões ferroviárias e por estradas entre Europa, Oriente Médio e Norte da África. 

Mas isso foi na antiga Iugoslávia. Depois que o país caiu em pedaços com o fim do comunismo, fábricas fecharam e os empregos acabaram. E as novas gerações se viram sem futuro ou alternativas.

O curta então acompanha a história de Sashko – “como isso é um conto de fadas, Sashko é interpretado por um ator”, diz ironicamente o narrador macedônio. 

Então, Sashko ouviu rumores que repercutiam em toda a pequena cidade: pessoas estavam ganhando muito dinheiro com websites. Como? Virando as noites publicando notícias. “Tenho muitos clientes que estão fazendo isso!”, exclama o barbeiro de Sashko.

Então, nosso herói começa a fazer pesquisas no Google sobre como atrair visitantes a um website e assistir vídeos e tutoriais como criar manchetes sedutoras para atrair mais clicks. Sashko aprende rápido: publica manchetes sobre como a trilha de milhões de dólares de grupos terroristas vão direto para Obama; ou como terroristas estão se infiltrando na Europa no meio dos refugiados.

Através do famoso “Control+C e Control+V” começa a colar os “contos de fadas” dos sites de notícias conservadores em seu próprio website com manchetes bem atraentes e sensacionalistas – é interessante a aproximação que o curta faz entre Fake News, contos de fadas e as notícias. 

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Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

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