Da prisão, Dirceu escreve carta de despedida a Fidel

Ex-ministro agradece apoio de ex-presidente cubano e elogia sua trajetória 
 
 
Jornal GGN – Em uma carta emocionada, José Dirceu se despede de Fidel Castro. Preso no Complexo Médico Penal desde agosto de 2015 e recentemente condenado a 23 anos de três meses de prisão, maior pena da Lava Jato dada pelo juiz Sérgio Moro até o momento, Dirceu rememora na carta quando conheceu o líder cubano, há mais de 40 anos, quando chegou a Cuba como um dos presos políticos trocados pelo embaixador americano Charles Burke Elbrick, sequestrado em 1969.
 
Dirceu conta que Fidel recebeu os presos políticos “jovial, alegre e emocionado”.
 
“Chegávamos a Cuba vindos do México, para onde fomos ao sair das prisões da ditadura brasileira trocados pelo embaixador norte-americano. Foi o primeiro de muitos encontros durante minha vida em Cuba e, depois, como petista, deputado, ministro e, por fim, ex-ministro e de novo perseguido e exilado dentro do meu próprio país.”
 
O ex-ministro elogiou o ex-presidente cubano, destacando que ele esteve presente em importantes lutas de independência e contra ditaduras nos anos 60, 70 e 80 na América Latina e África. “Enfrentou e não se rendeu à maior potência do mundo, os Estados Unidos da América”, destacou.
 
O político pontuou que nunca lhe faltou da parte de Fidel “solidariedade e apoio”, completando que esse apoio se manifestou com plenitude já fora do governo, em meio as perseguições políticas do Mensalão e Lava Jato.
 
“Sempre quando eu mais necessitava – de novo banido e caluniado nos anos do mensalão e também depois da minha condenação e prisão em 2013. Anos de infâmia, quando Fidel e Cuba continuaram solidários”.
 
Dirceu concluiu assinando como “Daniel”, nome que usou quando exilado em Cuba, e pelo qual foi chamado até o último encontro que teve com o revolucionário. 
 
Leia na íntegra
 
José Dirceu se despede de Fidel
 
Acabo de saber da morte de Fidel. São 9h15 da manhã de sábado. Ontem, dia de visitas aqui no Complexo Médico Penal, eu pedia para que transmitissem a amigos meus cumprimentos pelos seus 90 anos celebrados em 13 de agosto, o que não pude fazê-lo pessoalmente por estar preso.
 
Coincidentemente, hoje, recebo a triste e infelizmente esperada notícia, já que Fidel vivera e sobrevivera a uma longa enfermidade. Não só lutou contra ela e resistiu, mas passou por essa longa jornada sempre trabalhando e lutando, escrevendo e estudando, pesquisando e recebendo os companheiros de luta de todo o mundo.
 
Fidel era um sobrevivente de inúmeros atentados e tentativas de assassinato, hoje comprovadas pelos próprios documentos oficiais do governo dos Estados Unidos – da luta estudantil, do ataque a Moncada, do desembarque do “Granma”, da guerrilha e, depois, vencendo a batalha de Girón e enfrentando a longa luta para consolidar a revolução nos anos 60/70.
 
Um líder revolucionário e estadista, colocou Cuba e seu povo na história do século 20. Participou e foi protagonista, mesmo governando uma ilha de 100 mil km² e 10 milhões de habitantes, de todos os grandes acontecimentos mundiais e esteve presente em todas as grandes lutas de independência e contra as ditaduras nas décadas de 60, 70 e 80, na América Latina e na África.
 
Enfrentou e não se rendeu à maior potência do mundo, os Estados Unidos da América.
 
Como ninguém, encarou a aspiração do povo cubano e latino-americano à independência e à soberania, seguindo a herança do pai de Cuba, José Martí, e dos grandes da América Latina, como Bolívar. Foi um símbolo de esperança e fonte de inspiração para os pobres, deserdados, explorados e oprimidos de todo o mundo.
 
Tive, já em 1969, ao chegar a Cuba, a surpresa de encontrá-lo pela primeira vez. Jovial, alegre e emocionado, foi nos dar as boas-vindas e nos prestar solidariedade. Chegávamos a Cuba vindos do México, para onde fomos ao sair das prisões da ditadura brasileira trocados pelo embaixador norte-americano. Foi o primeiro de muitos encontros durante minha vida em Cuba e, depois, como petista, deputado, ministro e, por fim, ex-ministro e de novo perseguido e exilado dentro do meu próprio país.

Nunca me faltou com a solidariedade e apoio – ele e Cuba – e se manifestou em sua plenitude, não quando eu estava no governo, e sim sempre quando eu mais necessitava – de novo banido e caluniado nos anos do mensalão e também depois da minha condenação e prisão em 2013. Anos de infâmia, quando Fidel e Cuba continuaram solidários.

Ao tomar posse como ministro, em 2003, agradeci em meu discurso a solidariedade do povo cubano e seu líder Fidel Castro durante a ditadura. Hoje rendo minha humilde homenagem ao comandante e ao herói do povo de Cuba. Presto minhas condolências ao povo e ao governo de Cuba e me despeço de Fidel sem poder estar em Havana para fazê-lo pessoalmente, assinando com o nome que recebi quando os perigos e as ameaças da ditadura e seu tutor, os Estados Unidos, nos obrigavam a usar pseudônimos.

Daniel

                     https://jornalggn.com.br/assine

15 Comentários

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  1. Depois dessa carta a Fidel

    Depois dessa carta a Fidel Castro, é capaz de José Dirceu pegar mais uns 100 anos de cadeia. Sabem como é né, estamos falando de grandes líderes mundiais, Fidel e Zé Dirceu, e isso mexe com os abstratos fantoches incompetentes opacos sem brio puxas sacos golpistas apátridas bastardos louquinhos para se derreterem todinhos e aparecerem como verdadeiras vedetes que são, como dragqueens debaixo de holofotes na parada gay!

    1. depois….

      Fidel, diferentemente de você não consegui aqui implantar uma ditadura comunista, enquanto fantoches iludidos bradavam que lutavámos por democracia. Do fundo da minha cela junto com minha mediocridade espero o fim do período de tamanho pesadelo idiota que impus ao meu país. Jose Dirceu, o pária.  

  2. Muitos dos autores do

    Muitos dos autores do holocausto não tiveram pena tão alta, aqueles contra os quais não haviam provas foram absolvidos, já ZD foi condenado com base no disse me disse de delator, e o fizeram para receber gordos premios bem como para ganhar a liberdade para desfrutar o que roubaram, ZD não tendo nada o Moro confiscou a casa da mãe dele, uma idosa na casa dos 90 anos de idade, o que o ódio de classe e o complexo viralata não é capaz de fazer com aqueles que ousaram atuar como arquitetos de um pais que chegou a ser a 5a. economia do planeta mas que uma elite bizrra resolveu detonar porque queriam o poder de volta,….para coroar a perseguição e sepultar a Lava Jato, o que já anunciaram jogando a culpa no Congresso que resiste em tornal legal o abuso de autoridade, se bem que nem precisa, pois com lei ou sem lei, sempre abusarão de quem ouse enfrentar o esquema Casa Grande vs Senzala que perdura há séculos

    1. Tente responder minha pergunta para comentário de JB Costa

       

      Spin D de deriva (domingo, 04/12/2016 às 16:50),

      Deixo aqui o link para o post “Sergio Moro confisca casa de mãe de Dirceu no aniversário de 96 anos” de sexta-feira, 20/05/2016 às 15:23, aqui no blog de Luis Nassif, com texto do Jornal GGN, e que é o seguinte:

      https://jornalggn.com.br/noticia/sergio-moro-confisca-casa-de-mae-de-dirceu-no-aniversario-de-96-anos

      Eu não conhecia um post anterior com praticamente o mesmo assunto como se pode ver no post “Moro decreta sequestro de imóvel onde mora mãe de José Dirceu” de sexta-feira, 15/04/2016 às 09:10, também aqui no blog de Luis Nassif e também com texto por conta do Jornal GGN e que se encontra no seguinte endereço:

      https://jornalggn.com.br/noticia/moro-decreta-sequestro-de-imovel-onde-mora-mae-de-jose-dirceu

      Pois bem, o post “Sergio Moro confisca casa de mãe de Dirceu no aniversário de 96 anos” foi uma completa surpresa para mim. Eu nem sabia que a justiça já havia feito quase todo o percurso um mês antes. Então foi de surpresa que eu formulei, no título que eu dou para comentário que eu envio segunda-feira, 23/05/2016 às 03:10, para JB Costa, junto ao comentário dele enviado sexta-feira, 20/05/2016 às 19:04, a seguinte pergunta:

      “E se for intenção de Dirceu provar que a justiça não é justa?”

      Eu posso a desdobrar para você e perguntar: “será que José Dirceu sai desse empreendimento vitorioso”? Ou essa outra pergunta: “Será que José Dirceu teve que corromper alguém para provar que a justiça não é justa ou ele vai mostrar isso sem precisar corromper ninguém?”

      Eu penso que essa é a realidade da nossa justiça e que José Dirceu poderá demonstrar isso sem precisar corromper ninguém no Poder Judiciário. Agora não vejo nisso nenhum demérito para o Poder Judiciário no Brasil, pois essa é uma realidade mundo afora e mais exacerbado é o comportamento iníquo da justiça quanto mais desigual for o país.

      Clever Mendes de Oliveira

      BH, 03/12/2016

  3. O Zé recorreu a ONU

    O Zé na ONU, vai levar junto do Moro, o Barbosão que hoje pode estar tranquilo em seu AP em  Miami, dando pitacos nos amigos e fans que deixou em Brasília…

  4. ETERNA CONSAGRAÇÃO HISTÓRICA

    Máxima reverência à memória do eterno Comandante Fidel Castro Ruz, símbolo maior da militância política voltada para a defesa coerente das causas do povo.

    Fidel Castro, que diante de um farsesco tribunal de exceção afirmou com firmeza profética “Condenem-me, senhores. Não importa. A História me absolverá”, pôde partir deste mundo com a certeza inabalável de que, muito mais do que apenas absolvê-lo, a História consagra sua biografia como um belíssimo exemplo da edificante fusão de coerência, perseverança e dedicação aos ideais de justiça social.

    O Comandante Fidel foi, acima de tudo, um homem movido pelo imenso ao amor ao povo de sua pátria, a idolatrada ilha de Cuba, Pérola do Caribe. Nascido em uma rica família de latifundiários, renunciou ao conforto da origem abastada e, como admirável estrategista e cientista político, Fidel foi o motor da vitória histórica do povo cubano, que transformou um país castigado por ditaduras sangrentas e corrupção endêmica numa nação reconhecida por sua excelência humanística.

    A República Popular de Cuba ainda sofre com muitas debilidades econômicas, que são a decorrência inescapável do criminoso bloqueio imposto pelo imperialismo há mais de meio século, mas ainda assim é uma referência mundial em programas de solidariedade e assistência social, em especial nas áreas de saúde, educação e cultura.

    Hoje, quando os milhões de militantes e admiradores do Movimento 26 de Julho, marco principal da Revolução Cubana, lamentam a irreparável perda do grande líder da permanente defesa das causas populares, não cabe chorar, mas sim reverenciar a bela lição de vida do eterno Comandante.

    Fidel soube enfrentar a dura realidade de um país assolado por um autoritarismo cruel, violento e assassino, e foi capaz de reconstruir uma sociedade que foi o playground do capitalismo selvagem, e era caracterizada pela espoliação, repressão e dissolução, para transformá-la no símbolo internacional da solidariedade e da reestruturação.

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