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Para entender o caso Eduardo Jorge

Com novos dados

A excessiva politização da cobertura política produziu uma miscelânea nessa história de supostos dossiês divulgados pela mídia – particularmente pela Folha. É incrível o contorcionismo do jornal para dar voltas em cima de um episódio relativamente simples de ser contado.

Começaram com a história do livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr – que, de repente, sumiu do noticiário -, passaram para as conversas com o tal do Onézimo até chegar na declaração de renda de Eduardo Jorge.

São histórias totalmente distintas.

O livro do Amaury levanta histórias da privatização e dos sistemas off-shore supostamente utilizados para lavagem de dinheiro por pessoas próximas a José Serra. Pelas informações que circularam, termina em 2002. A do Onézimo, até agora, não passou de uma reunião que não resultou em nada de concreto.

Já a história do Eduardo Jorge é recente, do ano passado. Passa pelos órgãos oficiais de combate à lavagem de dinheiro – não por dossiês apócrifos. Não sei a razão do repórter Leonardo de Souza não divulgar a informação principal da história.

No ano passado, o COAF (Conselho de Controle das Atividades Financeiras) foi informada por um gerente do Banco do Brasil de uma movimentação extraordinária na conta de Eduardo Jorge – que havia sido indicado coordenador de campanha de José Serra. Houve movimentação de R$ 3,9 milhões – em três depósitos de R$ 1,3 milhão.

Pelas normas do COAF, todo gerente é obrigado a se informar sobre a origem de depósitos extraordinários e a comunicar ao órgão quando não houver explicações satisfatórias. Foi feito.

O passo seguinte foi o COAF solicitar ao Ministério Público Federal inquérito contra Eduardo Jorge por lavagem de dinheiro e crime contra o sistema financeiro. Isso foi feito pelo procurador Lauro Pinto Cardoso.

A notícia vazou para o Correio Braziliense. Eduardo Jorge se valeu do vazamento para denunciar o procurador ao CNJ (Conselho Nacional de Justiça) e solicitar o trancamento da ação. Não se entrou no mérito das acusações nem do crime do qual era acusado: obteve-se o trancamento exclusivamente demonstrando que houve vazamento do inquérito.

Ocorre que objetivamente ficou pendente uma acusação de crime de lavagem de dinheiro. O MP conseguiu destrancar a ação e partiu novamente para cima de Eduardo Jorge – a esta altura com Lauro, em sua ascensão na carreira, promovido a segundo homem do órgão.

A explicação de Eduardo Jorge é que o dinheiro tinha sido fruto de uma herança que recebeu com o falecimento do sogro, que tinha terras em Maricá. O MP constatou que o sogro morreu há 40 anos. E que não haveria terreno em Maricá valendo isso tudo.

Em sua defesa, Eduardo Jorge diz que o depósito de julho de 2007, no valor de R$ 1,47 milhão, foi feito em sua conta na condição de inventariante do espólio do sogro. Com o sogro morto, recebeu o depósito e em seguida depositou na conta vinculada da Justiça do Rio, de acordo com determinação do juiz do espólio. Em ambos os casos, foram contas abertas no Banco do Brasil. Sustenta que a própria decisão do CNJ, de interromper o inquérito, é sinal de que está sendo abusivo. O fato da movimentação ser no BB e, portanto, exposta a toda sorte de fiscalização, seria outra prova de sua legalidade

É questão que caberá ao inquérito apurar.

Enquanto o inquérito caminhava, o repórter Leonardo de Souza, da Folha, soltou matérias garantindo que as informações constam de um dossiê do PT. Na matéria, a única entrevista em on é com Eduardo Jorge. Do lado das investigações, sustenta-se que o suposto vazamento foi uma armação  visando repetir o trancamento do primeiro inquérito. Pode ter sido vazamento do PT; pode ter sido armação. O jornal não tem fé pública para sustentar a primeira tese sem apresentar mais elementos.

Além disso, deixou de lado a notícia efetiva: a de que o coordenador de campanha de José Serra foi apanhado pelo COAF com movimentações extraordinárias em sua conta corrente. E que está sendo alvo de um inquérito do MPF. Ao contrário das acusações de 2002, dá-se a matéria e a versão do acusado e até se conclui pela culpa ou inocência, mas com todos os elementos divulgados.

Se conseguirá provar ou não sua inocência, o processo dirá. Em outras épocas, com amplo beneplácito da Folha, Eduardo Jorge foi alvo de perseguição do MP, sem direito à defesa.

Mas a Folha jamais conseguirá explicar a dificuldade que está tendo para contar uma história relativamente simples.


Luis Nassif

Luis Nassif

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