Em defesa da legalidade democrática

Sugerido por Gui Oliveira

do Facebook, comunidade ‘Algo a Dizer’

Em defesa da legalidade democrática – contra o autoritarismo legislativo

Por Marcelo Barbosa e Kadu Machado

A nova jogada da direita midiática brasileira é explorar, com a sordidez de sempre, a morte trágica desse trabalhador da informação chamado Santiago Andrade.  Assoma o tempo de vale-tudo. A dor e luto da opinião pública – mais que justificados pela perda estúpida de uma vida- são canalizados para produzir o reforço de pelo menos três narrativas: a necessidade do “endurecimento” da legislação, a estigma dos movimentos sociais, e o veto  abstrato à “violência”. Pior de tudo, muita gente do campo democrático-popular faz coro com esse discurso. Com a memória fraca, esses setores esquecem a atuação da grande mídia no ataque aos direitos e garantias individuais que se constituiu o julgamento do chamado mensalão. Deixam de observar que a atual escalada de denúncias se insere no mesmo processo que, ao golpear as áreas mais mobilizadas da sociedade civil, terminará fatalmente por voltar-se ainda mais violento contra o governo do PT e seus aliados.

Nada ingênua, a operação discursiva veiculada pelos meios de comunicação visa, antes de tudo, promover a idéia de uma democracia sem conflitos, inteiramente consoante com a tradição autoritária brasileira. Não se sabe ao certo onde nossas elites buscaram essa fixação. Mas, certamente não foi nem na Europa e nem nos EUA, locais em que os protestos anti-globalização assumiram formas de enfrentamento bastante intenso. Seja como for, tanto ao Norte quanto ao Sul do Equador, uma democracia digna desse nome vai pressupor um papel ativo para os movimentos sociais. Vai demandar greves, ocupações e protestos, entre outros eventos. Isso porque a participação do povo na vida política, nesses casos, não pode se reduzir ao ato de votar. A afirmação do interesse coletivo sobre o interesse individual impõe a presença de antagonismos sem os quais uma sociedade se queda na pasmaceira – como aliás ocorreu sob o período da hegemonia neoliberal, com todo aplauso da mídia oligopolizada.

Condenar a “violência” no contexto oferecido pela grande mídia, significa nada menos que defender o direito do aparato policial do Estado de Classe – inteiramente autônomo em relação a orientação de alguns governos encabeçados pelas forças democrático-populares nos três níveis do poder republicano – de reprimir os setores de baixo do pirâmide social, em especial os negros e/ou moradores de periferia. Um prodígio de cinismo. Tanto mais quando se sabe que os mesmos meios de comunicação tão ativos em denunciar a “desvirtuamento” dos protestos atuais foram os mesmos que, nas históricas jornadas de junho de 2013 tentaram transformar, sem êxito, as mobilizações daquele período em móveis de desestabilização – utilizando táticas testadas fora do país – do governo legítimo da Presidenta Dilma. Pelo que se vê, os grandes potentados da informação neste país não tem nenhuma moral para criticar a atuação de setores da ultra-esquerda que assumem um proposta de enfrentamento da forças repressivas do Estado.

A legitimidade para fazer a crítica de tais métodos de enfrentamento incumbe aos setores comprometidos com a unidade e o avanço da experiência democrática no país. Não só àqueles situados à esquerda do espectro político. E, já passou do tempo de promover este acerto. O equívoco dos agrupamentos que propõe o confronto nas ruas – que transcende os partidários da tática black bloc – começa a tornar-se por demais visível. Agride a mais elementar análise da correlação de forças achar que há condições de confrontar com paus, pedras e rojões um aparato de segurança baseado na conurbação de interesses do Estado Patrimonialista Brasileiro – cuja face repressiva se apóia em forças policiais repita-se, inteiramente alheias às tentativas de controle por parte do governos de orientação de esquerda. Insistir neste método só pode trazer a fragilização das instituições, a criminalização dos movimentos e, no limite, a morte dos lutadores sociais que estão à frente das mobilizações.
Por último, uma pergunta procede: quem pode defender a legalidade com conseqüência? Por óbvio, nenhuma representação política nostálgica das ditaduras – devidamente reciclada pelo o neoliberalismo – e nem de seu braço nas comunicações, a grande mídia. Democratas execram legislações de exceção. Não justificam privilégios. Só mentes mal intencionadas se dedicam ao esforço legislativo de produzir monstrengos como a chamada Lei Contra o Vandalismo, entre outros experimentos autoritários. Não à toa, as elites sentem-se acuadas. O objeto de seu ódio – a desfigurada, porém progressista Constituição de 88 – vai ganhando apoio nas ruas. Os dispositivos da Carta, que asseguram o acesso à educação, saúde e transporte, entre outros itens aquecem, o coração da cada manifestante, em cada praça do país. Cabe aos governos progressistas, aos partidos democráticos e as organizações da sociedade civil assegurarem que o curso da democracia brasileira não seja desviado pelo caminho lamentável do autoritarismo legislativo.

Marcelo Barbosa é advogado, doutor em Literatura Comparada pela UERJ e diretor-coordenador do Instituto Casa Grande

Kadu Machado é jornalista e coordenador do Núcleo Celso Furtado, do PT-RJ

9 Comentários

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  1. Por um pé na bunda dos vândalos.

    O texto é um dos melhores que li sobre o tema neste blog. Mas ainda assim tem um vício de origem insanável.

    É verdade que a mídia acende uma vela a deus e a outra ao diabo, quando incita e depois “repudia” a violência, apenas para instaurar o clima apocalíptico.

    Também é verdade que não serão as forças da direita que poderão reivindicar uma mediação que supere a violência, porque a sua forma de agir é sufocar o conflito através de violência ainda maior e mais brutal, impondo um pax do medo e do terror.

    No entanto, até agora, não vi, ouvi ou li nada que o texto denuncia, ou seja, que há um consenso recente em setores democráticos-populares para o endurecimento das ferramentas de coerção ao vandalismo.

    Isto é tolice, e apenas uma forma de tentar contrabandear uma “culpa” que não é nossa.

    Este sentimento de reação é salutar e desejável, pois nos mantêm alertas justamente para evitar que fascistas mascarados sejam a porta de entrada dos estandartes do golpe, como aconteceu com os desestabilizadores infiltrados em 64.

    Sob o argumento de que não seria correto responder com mais dureza aos grupos de provocadores, que acabamos por entregar o discurso da normalidade democrática àqueles que desejavam conspurcá-la.

    É certo que não podemos permitir que sob a tese do combate abstrato da violência e de outras nossas paranoias, acabemos por repetir os erros da direita ou que possamos ceder espaço para que ela assuma o controle da agenda política que se anuncia, com toda sua riqueza e conflitos.

    Mas isto não significa inércia frente a ameaças daqueles que escolheram a violência como fim em si mesmo, abandonando sua característica instrumental, que em algumas vezes, torna-se tolerável e inevitável.

    Se houver necessidade de endurecimento contra estes merdinhas mascarados, não devemos hesitar, e não creio que, afinal, corramos tanto risco assim, ou será que duvidamos que sejamos diferentes dos reacionários?

    Caso comecemos a absolutizar as formas de enfrentamento, como se cada passo que dermos for considerado uma agressão a valores históricos, vamos acabar concordando, por exemplo, que a força necessária usada pelo governo venezuelano é igual a violência de seus opositores.

    Não temos que ter vergonha de defendermos endurecimento das regras, quando o próprio jogo está ameaçado.

     

    1. Para a puniçao dos excessos nao sao necessárias leis de exceçao

      As leis atuais já bastam para enfrentá-los. É à Direita que interessa um arsenal legal autoritário. O texto é perfeito, o melhor que já li aqui a esse respeito. Critica a exigência de mais repressao sem passar a mao na cabeça dos vândalos. 

      1. Confundindo focinho de porco com tomada.

        Senhora, Leia com bastante atenção o meu comentário.

        Eu não sou a favor do casuísmo legislativo ou o autoritarismo legislativo para conter excessos dos grupos fascistas.

        Mas a meu modo, prefiro que a sociedade pactue leis de exceção, se estas forem necessárias, a ter que passar a viver em um regime de exceção. Não hesitarei em defender tais leis se a Democracia que suamos e apanhamos para construir esteja sob ameaça, e de fato, tanto a senhora quanto eu, sabemos que ela sempre está.

        A diferença que os ingênuos e tolos parecem não compreender, é que não podemos hesitar e ter “culpa” em exacerbar os limites da Democracia para defendê-la destes animais mascarados e de outros, mascarados ou não.

        Eu não teria problemas em torturar os oficiais do Exército que foram até o RioCentro para evitar o atentado, se esta fosse a única alternativa eficaz, e caso fôssemos nós o governo.

        Assim como seria voluntário para pendurar alguns mascarados que estivessem dispostos a ultrapassar os limites do quebra-quebra para atos terroristas.

        Sem perder dois segundos de sono.

        Aí você perguntaria: “Mas qual a diferença?”. É justamente a luta para manter a Democracia e o Estado de Direito, enquanto eles querem um Estado sem Direitos.

        Por mais sutil que pareça, até porque os canalhas da direita adoram absolutizar tudo, a diferença entre usar a força para manter um sistema partidário, eleições, parlamento funcionando, e até este lixo chamado imprensa, é bem diferente de usar a violência como arma política para suprimir direitos e garantias fundamentais por todo tempo.

        Há uma enorme diferença, e as sociedades mais maduras institucionalmente, embora ainda tenha problemas, já se livraram deste recalque.

        Todas as sociedades, capitalistas ou as que se pretenderam socialistas, as mais e as menos democráticas, possuem instâncias e “núcleos duros” de ação contra inimigos do Estado.

        Pergunte aos alemães que defendem a Democracia o que eles fariam para evitar que um personagem como Hitler e seus acólitos voltassem à carga.

        Quando escrevem tolices como esta, os autores e quem concorda com eles acabam por fazer aquilo que a direita quer: nos igualar a eles, igualar nossos atos aos deles, para depois, sendo tudo igual, eles prevaleçam por mais “experiência” em manter a ordem.

        Eu não caio nesta, mas fique à vontade e tome cuidado de estar do lado certo…pois nunca se sabe.

        1. Repete a mesma ladainha, e diz q está dizendo outra coisa

          “Esgarçar os limites da democracia” = acabar com ela. Isso que vc acha que é tomada é mesmo focinho de porco. E passe bem, tá? Mulher dos mil nomes. 

  2. Fui censurado neste blog

    Oh Nassif,

    |Censura é uma coisa muito feia e autoritária. Porque meu comentário a este post não apareceu? Eu não quebrei nenhuma regra do blog, não publiquei palavras ofensivas, palavrões ou mesmo ataques pessoais sem justificativas,

    Então porque fui censurado/???

     

  3. mais do mesmo….

    “Não à toa, as elites sentem-se acuadas.”

     

    A elites, que sempre apoiaram a repressão violenta aos movimentos sociais,  ao verem seu espaço invadido,  é importante que se diga, sem violência e nem truculência, ao verem os equipamentos públicos que eram de seu quase exclusivo usufruto ( como as universidades federais por ex.), divididos com o povâo, … de repente, passam a apoiar as manifestações, e até mesmo consideram justo o vandalismo e a agressão, … tudo isso em nome de uma “democracia” que nunca foi defendida por eles nos governos de direita.

     

    O lamentável é que se continue dando espaço para esse tipo de discurso que emana da mentalidade preguiçosa e golpista de uma elite que se baseia sómente no poderio financeiro alcançado em gerações anteriores,….  Cada vez mais, vejo que a Marilena Chauí esta certa no seu diagnóstico…

    http://www.youtube.com/watch?v=3MX5b3EfMAw&feature=share

     

  4. Não é do feicebúque não …
    Cabe um pequeno reparo sobre a fonte. Como citei, o texto é do pessoal do “Algo a Dizer” sim. Mas não foi encontrado no facebook, onde não tenho conta: recebi por e-mail.

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