Miriam Leitão no Muro de Berlim, por André Araújo

Por André Araújo

Miriam Leitão é um ícone do jornalismo econômico brasileiro, ganhadora do Prêmio Maria Moors Cabot, um dos mais importantes do jornalismo dos EUA, Miriam é uma fervorosa partidária do neoliberalismo desde os tempos heroicos das grandes privatizações. Na juventude foi de ultra esquerda e a evolução de esquerdistas para o neoliberalismo doutrinário deixa as sequelas da conversão. Hoje no seu comentário radiofônico da CBN se superou.

Disse que a Lava Jato deveria prosseguir não importa o que custasse para a economia, que os operadores da Lava Jato não deveriam se importar com a economia, deveriam ir em frente porque depois o pais ficaria melhor, à coté Sardenberg aplaudindo, bem pensante como é, não enxerga um palmo alem do sapato e não consegue sair do pensar pedestre.

É uma loucura. É o mesmo que um general dizer à sua tropa que deveriam conquistar uma posição não importa quantos soldados morressem. Nenhum exército do mundo civilizado tem tal doutrina hoje em dia. O custo de ganhar a batalha é tão importante quanto a vitória. O mesmo se aplica à Lava Jato. Os custos colaterais tem que ser colocados na balança.

Combater a corrupção é uma batalha, mas é preciso medir as perdas, o custo não pode ser ilimitado, a ponto de destruir sistemas e estruturas fundamentais do País que são insubstituíveis para o desenvolvimento futuro.

Não são apenas os efeitos diretos sobre empresas e executivos. O clima de terrorismo contagia o ambiente de novas iniciativas pela aumento exponencial do nível de risco de ser empreendedor. Poucas empresas no mundo são limpas como água benta, entre as firmas bandidas e a Cúria Metropolitana há um grande meio de campo de empresas normais mas que todo dia resvalam com áreas de risco regulatório, fiscal, de relações de consumo, cartel, operações de câmbio.

Se a vulnerabilidade do empresário é elevada a grau máximo, muitos desistirão de empreender. Ao mesmo tempo que o empreendedor pode ser punido com extrema facilidade todos veem que, em certas corporações de Estado, funcionários que cometem graves deslizes são punidos apenas com uma aposentadoria com salário e vantagens integrais.

O processo de a pretexto de se combater corrupção destruir grandes empresas e agora um grande banco pode não fazer sentido porque a perda para o País será mil vezes do que valia a corrupção. Digo destruição porque a prisão do principal executivo de uma grande empresa ou banco ao atingir pelo trauma a credibilidade da instituição pode levá-la à quebra.

Nos EUA na crise de 2008, onde os malfeitos foram infinitamente maiores do que os que ocorreram no Brasil, não se prendeu nenhum banqueiro ou executivo de grande empresa, ao contrário, o Tesouro emprestou 700 bilhões de dólares para salvá-los e não há nenhuma dúvida que executivos cometeram mega fraudes e crimes financeiros.

Não entra em jogo a moral ou a ética e sim a política de realidade econômica do País, do capital técnico, humano e de experiência representado por essas empresas. Elas são parte do patrimônio nacional no sentido macro, porque estão dentro do País e nele dão empregos diretos e inderetos, mantém rede de fornecedores que fazem girar a economia, são contribuintes diretos e indiretos, mantém cidades e atividades especializadas, projetam o País no exterior.

Entre Justiça e Estado, prevalece o Estado acima da Justiça. Nenhum Estado se deixa destruir em nome da Justiça.

Quando terminou a Segunda Guerra, o Secretário do Tesouro dos EUA, Henry Morgenthau, revoltado com a destruição que o nazismo produziu na Europa, propôs ao Presidente Truman que se obrigasse a Alemanha a ser uma País exclusivamente agrícola e pastoril, para que nunca mais tivesse os meios de travar outra guerra. Morgenthau era movido por um sentimento de justiça e vingança, era judeu e estava traumatizado pelo o que se sabia do holocausto.

Mas Truman representava a realpolitik dos interesses americanos no seu sentido mais lato de precisar no futuro da aliança da Alemanha para enfrentar o novo inimigo que despontava, a União Soviética. O Plano Morgentahu foi arquivado, a Alemanha foi reindustrializada com dinheiro americano, a despeito dos crimes de guerra, a recuperação alemã era mais importante para os EUA do que puni-la por seus pecados. Dez anos depois do fim da guerra, um general alemão que serviu a Hitler, Hans Spiedel, era o comandante das forças terrestres da OTAN com quartel general em Paris.

Nenhum Estado comete suícidio mas talvez estejamos inovando. Miriam Leitão está errada. A busca da Justiça não pode prevalecer sobre os interesses da economia que são os interesses do Estado, superiores ao da Justiça. Sua fala de hoje representa um erro imenso de avaliação da realidade objetiva, é melhor ter uma economia tendo nela alguns corruptos do que não ter economia nenhuma. O País melhor que ela vaticina pode ser um país sem corruptos e sem empresários.

O abalo sobre o BTG é uma consequência.  A queda de 40% das suas ações é uma prova cabal disso. A queda só foi amenizada porque o próprio banco entrou recomprando suas ações.Não vem ao caso se seu executivo chefe é um tipo execrável. O BTG tem como seu principal negócio administrar dinheiro de fundos estrangeiros, a prisão de seu emblemático CEO terá os desdobramentos esperados, não só sobre o próprio BTG, afetará outros bancos brasileiros por contaminação inevitável, nunca um banco vai à lona sozinho, ele sempre arrasta outros.

Nota zero para o jornalismo cego da Globo que, ao fim, vai atingir a própria organização Globo que vive da economia funcionando com todos os seus erros, pecados, maldades e desvios, no cemitério não há anunciantes.

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

Andre Motta Araujo

Advogado, foi dirigente do Sindicato Nacional da Indústria Elétrica, presidente da Emplasa-Empresa de Planejamento Urbano do Estado de S. Paulo

View Comments

  • Incrível!

    Nessa o André Araújo se superou.

    Disse exatamente tudo o que precisava ser dito a esse respeito, com uma dose cavalar de realidade, bom senso e pragmatismo.

    Já favoritei!

  • Eu e minhas dúvidas.
    Que não se pare o país é obvio. Infelizmente há os que querem ver o povo comer merda, literalmente. Mas me permito questionar: não prender grandes executivos ou donos de empresas com o argumento que o país necessita deles? Punição apenas pecuniária? Desculpe a expressão, mas fuder o país e depois só pagar uma multa? Pensando bem são vidas que estão indo pro buraco - devido a bancarrota de empresas - e basta uma multa?

    • Se a prisão deles traz danos

      Se a prisão deles traz danos ao Pais porque afeta a sobrevivencia de suas empresas não se deve prender, procure-se uma correção que não afete o ativo que representa a empresa para o Pais. Não se corta o pé por causa de uma unha encravada.

  • CRIMES / EMPRESAS / INVESTIGAÇÃO

            O que deveria acontecer com as Organizações Globo e os crimes praticados por seus proprietários ou representantes legais. Há muitos anos li o Advogado Afanasio Jazadji, advogado de partes contra a Globo, informando que a aquisição da TV foi criminosa.

             É impressionante a capacidade de destruição das pessoas vingativas, ressentidas.

             O Senador Delcidio foi gerente de setores da Petrobrás no Governo FHC e seus subordinados Paulo Roberto Costa e Cerveró cometeram crimes.

             O pecuarista José Bumlai foi sócio de Galvão Bueno, do dono da BAnd Jhonny Saad e de um ex-prefeito de Santos, mas o péssimo Jornalismo da Globo só dá como amigo do Lula.

  • Além do citado, os cemitérios podem trazer

    interessantes reflexões, não é? :

     

    Nenhum cliente volta para reclamar do serviço.

    Nenhuma doença se alastra entre os clientes - todos estão curados de todos os males que os afligiram, quando vivos.

    Praticamente ninguém reivindica as áreas, apenas se pede "carona" em algum túmulo. 

    A Receita Federal não incomoda ninguém por lá. O INSS fica feliz. 

    Praticamente não "rola dinheiro" na área; talvez uma das poucas excessões são os túmulos de Daniel Ludwig e do Trajano Antunes, pois, quando ambos estavam vivos e com mais de 80 anos de idade, o primeiro vendeu para o segundo o tal "Projeto Jari".

    Nessa transação, o Trajano Antunes podia pagar o Ludwig em 30 anos. 

    Talvez seja a única movimentação financeira "inter-túmulos". 

    Pena que a direção global não entenda isso. 

     

  • André, o objetivo é tornar barato os ativos ainda nas mãos dos..

    André, o objetivo é tornar barato os ativos ainda nas mãos dos brasileiros. Se eu fosse um Setubal, ou qualquer outro grande capitalista brasileiro já ia procurando a rota de fuga, pois os ativos brasileiros ficarão muito convenientes para o capital internacional, que participa de todas estas negociatas mas fica totalmente imune a qualquer julgamento.

    Todos falam que o PSDB é imune a ações da Lava Jato e seus desdobramentos, mas é tudo uma questão de tempo, primeiro o PT, depois o PSDB, PP e outros, para no fim ficarmos com qualquer coisa na liderança do país.

    Parece simples, a desordem econômica no país, algo que venho falando há mais de um ano, é o objetivo de tudo, só vou achar graça quando a FOX ou o grupo Sony estiverem interessados no patrimônio da Globo.

    • Se os bons ativos ficarem

      Se os bons ativos ficarem baratos é bom também para o Setubal e outros que estão com balha na agulha.

      O Capitalismo hoje é global e internacional.

  • Sem surpresa
    Ouvia os comentarios da Mirian na hora do almoço e me aborrecia invariavelmente. Desisti.

    Não por serem conservadores - liberais - mas por serem negativistas, mesquinhos e mal formulados.

    Ela pode ganhar os premios que quiserem dar mas para mim é uma jornalista bem limitada, ruim mesmo. O mesmo para Sardenberg.

  • vencedora

    Dona Miriam diariamente luta uma batalha. Não as da sua juventude esquerdista.

    E até agora ela tem se mostrado uma vencedora.

    A sua luta não é patriótica, nada tem a ver com o Brasil, nem ao menos é partidária.

    A batalha trata tão somente da manutenção do seu emprego, da posição social, e da satisfação ao seu ego "Bozó" (trabalha na grobo).  

    Enquanto ela continuar servindo aos propósitos do patrão, o seu "pirão" está garantido.

  • A hipocrisia quer o prêmio do poder

    A questão é mais simples: eles não querem qualquer entrave à estratégia de retomada do poder. O Judiciário é uma ferramenta eficaz; a Economia sofre, mas toda essa beligerância, na verdade, possui escopo limitado e, proscrito o PT e seus integrantes, como o velho PCB, todos os estamentos voltam ao "lugar certo", com as elites gozando de impunidade e privilégios e o povo quietinho em "se lugar". Essa gente é de dar nojo e um primor de hipocrisia: não se importam com o rompimento de quaisquer ordens democráticas e constitucionais para chegar a seus objetivos, e pior: dizem que seus abusos estão firmemente respaldados em... democracia e normais legais! Nada disso se vê no Brasil de hoje. A ferocidade atinge níveis que estão no limite do fundamentalismo do tipo jihadista.

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