O fundamentalismo e a pandemia sem controle, por Eliara Santana

O fundamentalismo e a pandemia sem controle

por Eliara Santana

Vi agora uma notícia de que, no fim de semana, o pastor Valdomiro e a bispa Francileia lotaram uma igreja, na zona Leste de São Paulo. Surfando na onda liberou geral do ministro Kassio ComKá Nunes Marques, com certeza, várias outras estiveram igualmente lotadas. Não estou falando de celebrações na Austrália, país que pôde festejar a Páscoa sem nenhum novo caso de Covid. Estou falando do Brasil, o triste país ocupado por negacionistas que já acumula mais de 330 mil mortos na pandemia e vai certamente bater a casa dos cinco mil mortos por dia, já há projeções que falam em mais de 500 mil mortos até julho.

Diante desse quadro, o que justifica a decisão de um ministro do STF em permitir o funcionamento de igrejas e templos, locais de sabida aglomeração? Os defensores argumentam que serão tomadas todas as medidas de controle. Quais? Medir a temperatura no pulso com um termômetro que deveria ser usado na testa? Usar máscara no queixo? Passar álcool em gel e abraçar o vizinho na hora do cumprimento na igreja?

Qualquer pessoa que circula minimamente pelas ruas e por locais públicos (padaria, supermercado, farmácia) no Brasil sabe que o brasileiro (rico, pobre, gregos e baianos) não tem o menor rigor com medidas de proteção – a máscara fica no queixo; na padaria, as pessoas tiram  a máscara para pedir o pão à atendente; no supermercado, as pessoas tiram a máscara quando ninguém está olhando; distanciamento social em fila é de 30 centímetros; as pessoas tiram a máscara para dar e pedir informação; as pessoas correm em pistas de caminhada sem máscara… e por aí vai. Nunca houve por aqui uma campanha pesada de conscientização. Com tudo isso, alguém com um mínimo de bom senso espera mesmo que vai haver distanciamento e medidas de controle em cultos e celebrações nas igrejas e nos templos? Locais onde as pessoas se sentam bem perto, se tocam, se cumprimentam, cantam alto.

A decisão desse ministro ComKá, além de insana, é cruelmente atroz, porque coloca mais vulneráveis pessoas que já estão vulneráveis e que buscam nas igrejas o conforto e a proteção que não encontram no Estado, no governo. Buscando a cura, vão encontrar a morte, talvez num processo longo e doloroso, sem leito em UTI, sem remédio para entubação, sem poder ver os parentes.

Essa decisão do Kassio ComKá requer um posicionamento da CNBB, da OAB, das instituições que ainda funcionam no país e da sociedade. Não é possível que isso ocorra assim, como se fosse normal lotar igrejas no PIOR momento da pandemia. O fundamentalismo está corroendo nosso país.

Redação

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