O porrete e o vira-lata, por Mauro Santayana

Enviado por Vital

Do blog do Mauro Santayana

O porrete e o vira-lata

por Mauro Santayana

No momento em que se levantam, novamente, as vozes do neoliberalismo tupiniquim, exigindo uma rápida abertura comercial do Brasil para o exterior, e o PMDB inclui, em seu documento Uma Ponte para o Futuro, a necessidade do Brasil estabelecer acordos comerciais com a Europa e os EUA, lembrando a iminência e a imposição “histórica” do Acordo Transpacífico, e em que mídia tradicional segue com sua insistência em defender como modelo a ridícula Aliança do Pacífico, a União Européia – depois de enrolar, durante anos, nas negociações com o Mercosul – parece que vai simplesmente “congelar” as negociações entre os dois blocos nesta sexta-feira.

A razão é clara.

Por mais que se esforcem os vira-latas tupiniquins, fazendo tudo que os gringos querem, oferecendo quase 90% de liberação de produtos, os protecionistas europeus simplesmente se recusam a concorrer com o Mercosul na área agrícola – justamente onde somos mais competitivos.
E, além disso, como se não bastasse, a UE como um todo, para dificultar, hipocritamente, ainda mais o fechamento de um acordo, exige o equivalente a uma rendição total da nossa parte:

A liberação de quase 100% dos produtos e livre acesso, para suas empresas, como se nacionais fossem, a setores como serviços de engenharia e advocacia e ao gigantesco mercado de compras governamentais brasileiro, de dezenas de bilhões de dólares.
O recado é óbvio:
Não adianta ficar ganindo e mendigando com olhar pidão, para ter atenção ou uma migalha, porque não vamos ceder um centímetro, e, mesmo que vocês façam tudo, tudo o que queremos, poderão não ganhar nada em troca, está claro?
Como lembramos outro dia, grandes potências impõem acordos comerciais, e os pequenos países os assinam.
Nações que não tem uma indústria tão desenvolvida como a nossa, como a Argentina, ou outras, que, com salários miseráveis, se transformaram em mera linha de maquila, tendo prejuízos no comércio exterior, apesar de trabalharem como burros de carga montando produtos destinados a terceiros mercados, como o México (vide O México e a América do Sul), não tem outra saída a não ser se associar a outros países (esse é o projeto do Brasil para a América do Sul, por meio do Mercosul e da UNASUL) ou assinar acordos comerciais desvantajosos, para se integrar, subalternamente, à economia mundial.
Países maiores, com grandes mercados consumidores reais ou potenciais, como a China, preferem fechar suas economias durante anos, dedicando-se a desenvolver seu mercado interno, a indústria e a tecnologia, abrindo seletivamente seu território a empresas estrangeiras e cobrando um alto preço para quem quisesse ter acesso a ele, para depois se impor, comercialmente, ao mundo.
A pergunta é a seguinte:
Vamos nos atrelar, como um mero vagão de commodities, ao trem puxado pela Europa e os Estados Unidos, onde sempre seremos tratados, apesar de nossos eventuais progressos, como um povo de segunda classe, ou, em nossa condição de oitava economia do planeta, vamos tentar estabelecer um projeto próprio e soberano, de longo prazo, como fazem outras potências intermediárias do nosso tipo, como a China, a Rússia e a Índia, que, aliás, não têm – nenhuma delas – acordos de livre comércio com a Europa ou os EUA?
Tentar emular, abjetamente os outros, e lamber o sapato alheio é fácil.
Difícil é trabalhar para erguer – assumindo a missão e o sacrifício – no quinto maior território do mundo – uma nação justa, forte, e independente, e legá-la, como fizeram em outros países que muitos no Brasil admiram e “copiam”, como um estandarte de honra e de prosperidade, para os nossos filhos.

 

Redação

Redação

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  • Odeio quem menospreza os vira-latas

    Se não me engano o tal complexo do vira-latas foi criação do Nélson Rodrigues. Um brutal preconceito de classe. Um sujeito branco da elite desprezando os mais amáveis dos cães, provavelmente por serem mestiços e em geral sem-teto.

    Um Vira-latas faz tudo que os cães de raça fazem, podem não ter a mordida forte de monstros como os pitbulls, a inteligência do border collie, a elegância dos galgos ou as indiossincrasias dos lulus de madame, mas são resilientes e porque não dizer: paus para toda obra. Sobrevivem em locais onde a matilha com pedigree perece.

    A elite tupiniquim é formada por bichons frisés, poodles, malteses e outras bolinhas de pelo. Animaizinhos de companhia. Perto deles os Vira-latas são os trezentos de Esparta. Quando possuem um território morrem para defendê-lo. São aparentemente subservientes, mas agem conforme os seus interesses e não os dos humanos.

    Comparem um Vira-latas com um labrador. Vejam quem é o esperto. Podem escolher raças aleatórias classificadas como puras. Todos que convivem com os cães notam que o Vira-latas sempre possuem um algo a mais.

    Os brasileiros entreguistas não têm complexo de vira-latas, mas síndrome de lulu de madame. Agradam subservientemente em troca de petiscos, honrando assim a sua genealogia quatrocentona.

     

     

    • vira-latas

      Por uma vez concordo com os comentários deste frequentador do assíduo do blog. Conservador, quando não abertamente reacionário, desta vez ele levanta uma questão sobre a qual sempre achei que os progressistas deveriam refletir. Nossa elite é vira-lata quando lambe a bota dos estrangeiros por se considerar "inferior" ou é na verdade composta pela fina flor de bichos de estimação de madame que vivem na Casa Grande? Pois é na opinião dessa gente que o vira-lata é "inferior", sem ter o pedigree das "raças" seletas dos seus. Mas os cães que vivem nas ruas, abandonados por "donos" que alguma vez tiveram e que deveriam cuidar deles, me lembram menos a subservência das nossas elites que a resiliência e a força de resistência do nosso povo, secularmente abandonado pelos governantes da hora, e que ainda assim sobrevive, como os cães de rua que resistem à morte a que já foram condenados graças ao seu infatigável trabalho de tentar encontrar algum meio de subsistência, qualquer que seja, mesmo que arrancado de uma lata de lixo. É essa qualidade do vira-lata que acredito deveria ser louvada, até porque não se menciona nunca a origem de sua carência que o faz mendigar um pouco de atenção e uma migalha de comida - o abandono e a indiferença a que desde sempre foi condenado pela gente granfina, tal como os pobres deste país por suas elites. E é por essa qualidade que o associo ao nosso povo, tão mestiço,"sem raça definida", e tão abandonado por quem deveria ser por ele responsável quanto o pobre cão de rua.  Que justiça seja feita ao vira-lata! Que se louve a coragem e a luta do nosso povo "vira-lata". Abaixo o pedigree dos poodles de madame e dos ferozes pitbulls dos nossos predadores de elite. Não sei se Rebolla concordaria com essa minha leitura, mas é por ela que, por uma vez, concordo com ele...

    • rs... essa retórica ficou

      rs... essa retórica ficou gozada, Jorge, mas o que o pessoal chama de complexo de vira-lata não está relacionado à pose, à impostura, ao mise-en-scène, e sim à postura real de alguns cidadãos brasileiros em relação a paises estrangeiros.

      Há poucas coisas tão ralé quanto preterir a si mesmo e à própria pátria em favorecimento de outro país, outra gente. Fica aquela coisa meio "telespectador do Manhattan Conexion": pobre esnobando outros pobres porque foi na festa dos ricos, rs...

      Ainda bem que esses posers são poucos...

  • Creio que há políticos bem

    Creio que há políticos bem intencionados e também mal intencionados com esta abertura do país. Vide o Japão por exemplo, uma economia mais fechada que se desenvolveu valorizando o mercado interno. Mas se temos um político financiado por empresas estrangeiras ou multinacionais, logicamente irá exigir a abertura do mercado interno para que as multinancionais tomem conta e destruam a economia interna. Se tivermos um presidente egoista para com os desejos do povo e daqueles que o apoiaram nas eleições, provavelmente venderá o país. Não há um controle sobre isso... quando a mídia é ardilosa e sabe eleger seus candidatos. Infelizmente aqueles que são egoista são mais ardilosos na busca do seu objetivo egoista, do que aqueles que são altruistas e pensam no bem de todos. Isto sempre foi assim... Raramente um candidato se elege em busca do benefício de todos, na grande maioria das vezes é para benefício individual... e quando se elegem a benefício de todos, muitas vezes se deixam levar pela vaidade e acabam trabalhando para benefício de poucos. Esse ainda é problema humano e ainda difícil de ser combatido, o egoísmo que o faz pensar nos seus interesses e desejos em virtude dos interesses e desejos alheios, muitas vezes comprometendo até as necessidades mais básica dos outros.

  • Sabemos bem de que espécie de vira-latas ele está falando

    Creio que o autor só se referiu aos vira-latas em sentido figurado; Há os vira-latas corajosos, que enfrentam quem quer seja para defender um companheiro e há os que lambem os pés e as mãos do primeiro que encontram, em troca de uma migalha ou um afago, e ouso dizer que estou certo de que o jornalista reportou-se - metaforicamente - ao segundo grupo e não ao primeiro.   

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