O ‘swell’ Marina, por José Roberto de Toledo

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Jornal GGN – Artigo de José Roberto de Toledo, no Estadão de hoje, faz uma análise interessante: a onda em que Marina surfa, de opinião pública, já apresenta proporções havaianas. O analista se pergunta quão longe a onda vai chegar.

A falta de noção do tamanho da onda, por parte dos leitores, se dá por falhas na própria legislação eleitoral, que criou, com isso, um oligopólio informativo com relação a pesquisas, onde somente poucos atores têm acesso aos resultados. Pesquisas são encomendadas às centenas, e poucas podem chegar ao público, ficando nas mãos de um pequeno grupo.

Mas a ‘onda’ Marina vai além do impacto emocional com a morte de Campos, sendo mais um catalisador no sentimento difuso de insatisfação com a política e com o eterno embate PT x PSDB. Segundo a análise, esta grande onda tem origem na mesma tempestade que causou as turbulências de junho de 2013, mas ao bater na praia, ou na urna, pode ter efeitos contrários. Isso já aconteceu antes, e pode muito bem continuar.

Leia o artigo.

Do Estadão

O ‘swell’ Marina

José Roberto de Toledo

Há data e hora marcados para todo mundo ficar sabendo o que a turma diferenciada já vislumbrou desde suas coberturas: a candidatura de Marina Silva (PSB) está surfando uma onda de opinião pública de proporções havaianas. Será nesta terça-feira, às 18h, quando o Estadão.com divulgar a pesquisa Ibope que está em campo. O que ninguém sabe é quão longe a onda vai chegar.

Por força da legislação eleitoral, o eleitor indiferenciado só tem acesso às pequisas registradas pelos institutos. A divulgação dos números de pequisas não registradas e ds sondagens telefônicas diárias é punível com multa alta pela Justiça eleitoral – para jornal, jornalista e instituto.

A lei provocou um oligopólio informativo dos mais excludentes. Uma quantidade anormal de pesquisas foi encomendada mas não divulgada desde a morte de Eduardo Campos e assunção de Marina. Só candidatos, partidos e operadores de mercado financeiro já conhecem o resultado – e estão assombrados.

As mudanças são diárias e na mesma direção. Indicam uma tendência que vai além do impacto emocional provocado pela morte de Campos e de seus auxiliares. A tragédia foi o despertador do público para a eleição, mas não só. Também catalisou um sentimento difuso de insatisfação com a política, com a polarização PT x PSDB. Ambos correm risco de afogamento, mas os tucanos foram pegos primeiro, em local mais fundo.

O “swell” Marina tem origem na mesma tempestade que causou as turbulências de junho de 2013. Uma sensação coletiva de que é preciso mudar, mas não se sabe bem como nem o que. Ao se reconhecer no outro, a inquietude individual se espalha e se multiplica em muitas direções, com efeito potencialmente devastador quando chega à praia. A praia pode ser a urna.

Ou não. Em 2002, a onda Ciro Gomes quebrou antes do tempo e derrubou o presidenciável em sua prancha eleitoral. Dez anos depois, o fenômeno Celso Russomano parecia irrefreável rumo à cadeira de prefeito paulistano, mas se desfez tão rapidamente quanto surgiu. Ambos se autoimolaram. O cearense destratou um ouvinte numa entrevista; o outro sinalizou que quem mora longe deveria pagar mais caro pelo transporte público.

Pelo histórico, Marina é também o pior inimigo de Marina. Saiu do governo Lula ao não conseguir fazer o que queria. Saiu do PT quando não viu o futuro que almejava para si. Saiu do PV ao não alcançar o controle que pretendia. Mal entrou no PSB, já provocou saídas. Não é exatamente uma agregadora.

Mas é em momentos de insatisfação coletiva que personalidades disruptivas encontram a sua chance. A onda é de Marina, e os adversários não a enfrentarão de peito aberto. Subirão onde der e, olimpicamente, torcerão para que faça espuma logo.

Dilma Rousseff (PT) tem mais chance de escapar à correnteza do que Aécio Neves (PSDB), mas não está a salvo. Ela se equilibra no saldo de popularidade que, segundo o Ibope, mantém em ao menos 15 estados, mas com grande variância: do pico de 51 pontos no Piauí a rasos 5 pontos em Santa Catarina.

O lugar mais difícil para a presidente se manter no seco é o Sudeste. A popularidade de Dilma está soçobrando nos maiores colégios eleitorais: tem saldo negativo de 19 pontos em São Paulo, de 11 no Rio de Janeiro e de 1 em Minas Gerais.

Pergunte aos acreanos. Lula diz que Marina foi candidata a presidente em 2010 porque não se reelegeria senadora no Acre. Presidenciável, ela acabou em 3º lugar no próprio Estado. José Serra teve lá o seu melhor desempenho no país. No Acre, seria eleito presidente no primeiro turno. Ninguém é governado há mais tempo por petistas do que os acreanos: 16 anos. Lá, Marina e PT têm mais em comum do que em qualquer outro lugar.

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

16 Comentários

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  1. Sobe

    Segundo esse artigo, deveremos  ter um segunto turno PT versus Rede ou PSB, não se sabe qual prevalecera. Um partido ou um não partido? Eu até entendo a insatisfação com a presidente Dilma Rousseff (não concordo com a maioria delas), mas dai votar numa personalidade que não tem um norte, um rumo… Mais uma vez as pessoas indo na manada ou na onda, como prefere José Roberto de Toledo, de que essa alternativa pode ser uma nova via. Com o Itau dando as cartas, sera mais uma vez o Brasil nas mãos da banca. 

    1. Dilma Roussef está destruindo

      Dilma Roussef está destruindo o PT e parte substancial da esquerda brasileira…Marina Silva é consequência…

  2. quebra-ondas

    Será que a questão do jatinho não pode ser o quebra-ondas da Marina?

    Pessoalmente eu penso que não. Penso que a Marina é um fenômeno midiático, uma grife.

    Pode ser que dure até o primeiro turno, pode ser que não. Mas acho que não tem consistência para enfrentar um segundo turno.

    Se eu estiver enganado, cobrem-me depois.

    1. Consistência, consistência,

      Consistência, consistência, não tem nem para o primeiro turno. Mas com a boa ajuda do marketing e da imprensa, ela podera, como Collor, chegar la. Toc toc toc!

    2. Pois é, ruy, estava pensando

      Pois é, ruy, estava pensando nisso, ontem. Talvez, o novo momento político ( ou sei lá o que é isso ) não necessite de militantes como os que eram formados na nossa época; a formação deve ser outra. Foi, exatamente, a “consistência” da Marina que me chamou a atenção; vamos ser francos, Marina não tem consistência nem para estar em primeiro turno mas isso não é um problema… sua assessoria, tampouco é uma questão para os novos militantes… vontade de mudar não me parece nada diferente do que sempre moveu todas as militâncias em todos os tempos. A novidade, agora, parece estar no que um candidato apresenta ( ou não apresenta/representa ) que faça dele um ” não político”, como se isso existisse. Eu não quero votar mas se eu for votar vou votar num candidato que não é político, não tem partido, não tem propostas e não tem bases… Ou seja, vou votar numa pessoa qq e essa pessoa, sem qq estrutura ou suporte, por não ser um político ( todos ladrões corruptos e safados ) dará conta de enfrentar a estrutura que continua intacta mas é desconsiderada e salvar a Nação. Sequer, cogitam que uma pessoa que se apresenta nessas condições é mais política que qualquer político.

      De uma certa forma, foi o que aconteceu no judiciário; um magistrado que não atuava como magistrado era a grande sensação, inclusive, no judiciário, por muito tempo. Junte-se a isso, um legislativo que ” não nos representa” e temos aí, sem que qq discussão ou debate tenha sido feito, os três poderes reféns de grupos já estruturados; seus representantes máximos como meros marionetes nas mãos de titereiros experientes. Sempre foi assim? Sim mas começamos a mudar isso na America Latina inteira, com a eleição de governos populares. O que causou estranheza, já que a reação forte era esperada, foi de onde veio essa reação e estávamos fazendo essa discussão no FB, ontem.

      Todos nós passamos por colégio e universidade sob a sombra do acordo MEC-USAID ( agora MEC fora mas USAID aí ) e, fomos preparados para lidar com isso e, mesmo os que não estavam, podiam contar com grande parte dos mestres na orientação; podiemos, dessa forma, sair conseguindo separar o que precisávamos dali e o que nos foi ” implantado” para evitar que contribuíssemos com o desenvolvimento do país, cada um na sua área. Várias gerações passaram por isso e tiveram sucesso; o que aconteceu com essa é que é complicado. Não só não contaram com os mestres para fazer a triagem como, os próprios mestres, por inocência ou má-fé,  atrairam para si, a tarefa de fazer o trabalho que gerações inteiras tentaram destruir. Aí ficou fácil pq funciona como religião, o pastor fala e as ovelhas, acatam. Sem formação política em casa, a criança chega ” papel em branco” e dá no que estamos assistindo, ” contra tudo o que está aí” sem saber nem o que está aí e, pior, sem conseguir avaliar o que vem por aí.

      O problema não é deles; é nosso. Quem está no momento errado, somos nós. Essa turma foi treinada para o imediatismo; em junho qdo a gente perguntava o que esperavam colocar no lugar do governo que tentavam derrubar, a resposta era a mesma; não importa, desde que caia, desde que mude… eles podem não saber o que estão fazendo mas os elaboradores do projeto sabem muito bem. O que gerações anteriores conseguiram evitar, talvez , em função do estado de alerta dada a maior proximidade com a ditadura; a atual, entregou de bandeja, talvez pq tenham nascido já relaxados em plena democracia. Vamos ver o que acontece, afinal, o país que estão construindo é para eles mesmos.

      1. Excelente análise, como

        Excelente análise, como sempre, Cristiana. Estamos lidando com uma coisa que nunca imaginamos que aconteceria: a não política.

        Lutar por uma ideia, construir um partido, trabalhar politicamente, compor com diferentes, colocar o ser humano no centro de tudo o que se faz, parece que é um conjunto de ações totalmente fora do contexto, hoje. 

        Eu não sei o que se possa fazer e receio que vamos ser tragados por uma tsunami sem controle acabando com “tudo que está aí” e colocando algo monstruoso no lugar.

        O comando de campanha da Dilma tem que levar isso em consideração. A coisa é muito séria!

      2. Boa análise

        O PIG exagerou a mão ao desqualificar a política e os políticos. A moda anti-PT virou moda anti-políticos.

        É uma nova geração de “caras pintadas” de celular e Facebook. Não foi à toa que o movimento da Marina chama-se A Rede, justamente explorando esta onda de comunicação virtual entre jovens, cada vez mais descrentes da política e idiotizados pelo PIG.

    3. O quebra mola da Marina é a

      O quebra mola da Marina é a própria Marina. 

      Esta figura não fala coisa com coisa e tem um tom messiânico, se acha ungida pelos deuses para salvar o mundo.

      Tenho muito medo dessa gente, especialmente quando estão assessoradas por banqueiros.

    1. Caramba Cunha!

      Parabéns por conseguir citar um leitor do 247. Significa que você leu os comentários de algum posto do 247.

      Tarefa para quem tem muito estômago.

      Gosto do 247, é um dos locais de divulgação rápida do que acontece na política e na economia principalmente. Tanto é que foi o primeiro veículo a divulgar a morte do Eduardo Campos.

      Já, o campo de comentários do 247 é uma das coisas mais abjetas da internet. Impressionante o descaso do pessoal do 247 com isto.

       

      1. Concordo plenamente. O 247 é

        Concordo plenamente. O 247 é um jornal bastante interessante. Notícias de primeira hora. Acredito que estão aceitando no momento qualquer tipo de leitor. Impossível ler seus comentários.

  3. Onda criada pela própria

    Onda criada pela própria mídia. E quanto mais alta ela se torna, maior o desastre quando ela se quebra.

    Marina é tal qual Jânio e Collor, oportunistas que surfaram no artificial criado e, por incrível que pareça, dentro dos mesmos moldes, e ainda chamado de novo.

    A insatisfação com a política é sempre um movimento intencional para criar a ilusão de mudanças a partir de um nome e suas propostas.

    Assim surgiu a vassoura da limpeza ética, assim nasceu o caçador de marajás, assim nasceu aquela que tem  “a credibilidade, confiabilidade” como afirma o comentarista Gunter seguindo o mesmo roteiro elitista e recheado do mesmo moralismo presentes nas três candidaturas.

    O que se viu é sabido por todos.

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