TV GGN 20h: O escandaloso acordo entre centrão-Bolsonaro-mercado

Confira o comentário diário de Luis Nassif a respeito das últimas notícias da economia e da política no Brasil nesta quarta-feira, 03 de fevereiro

O programa começa falando dos dados ainda não divulgados pelo Ministério da Saúde sobre a covid-19 no Brasil. “Hoje um hacker entrou de novo no site do Ministério da Saúde e passou um sabão”

“Tivemos a consolidação, talvez, do maior golpe já perpetrado contra o futuro do país”, diz Nassif, fazendo uma referência aos debates em torno da privatização da Eletrobras. “Todo ajuste em um país racional leva, em primeiro lugar, a relevância para o todo. Se tenho uma Eletrobras: qual o papel da Eletrobras? O que o mercado vende? ‘Se privatizar a Eletrobras ela vai ser mais rentável’. Rentável para quem? Para o dono da Eletrobras, para o acionista”.

“No setor público, a responsabilidade é outra: qual é a relevância da Eletrobras para garantia do modelo elétrico brasileiro, para o fornecimento de energia? Para impedir explosão de tarifas? É esse entorno que tem que ser discutido”.

“Aqui, você começou com a polarização política, aquela simplificação da discussão política visando impeachment, e você desmontou todos os fatores de equilíbrio do país”.

“Então, você tem um STF que autoriza privatização de subsidiárias de empresas estatais sem analisar qual é a relevância daquela subsidiária para o modelo de negócio”.

“Hoje, o que se conseguiu com a Lava-Jato permitindo o impeachment, permitindo a destruição de um partido político (o PT, e o PSDB junto). O que se conseguiu? Você entregou o país e hoje, o país foi formalmente entregue aos discípulos do Eduardo Cunha”.

“O acordo que foi feito no Palácio do Planalto entre o Jair Bolsonaro e esse pessoal, você vê nitidamente aquele negócio dos Piratas do Caribe – pega o navio, vários navios piratas e vamos dividir o butim”.

A partir daí, Nassif lista diversos pontos que Bolsonaro e os novos presidentes da Câmara e do Senado Federal negociaram – como o fim da lei da partilha do petróleo e gás e a privatização da Eletrobras, entre outros pontos.

“O que o mercado leva: o fim da lei de partilha de gás da Petrobras, modernização do setor elétrico (o que significa você pegar todo esse setor integrado, que é uma das joias do setor público brasileiro, e vai desmembrar pra todo lado)”. Sobre a PEC dos Fundos Públicos, “você tem um conjunto de fundos que garantem políticas sociais expressivas. Por essa PEC você vai esvaziar todos esses fundos e deixar disponível”

“E na outra ponta, você vai ter o atendimento das demandas daquela barra pesada que cerca Bolsonaro: novo estatuto do índio, nova lei de drogas, permissão da mineração em terras indígenas. E fora esses setores que são contidos por leis ambientais, você vai ter as milícias armadas: registro, posse e porte de arma de fogo (flexibilizando de vez), homeschooling – esse é um absurdo que o Barroso, esse ministro iluminista defende”.

“E você vem com a reforma administrativa: os 6 mil cargos comissionados vão passar para 90 mil, só no governo federal, mas você vai permitir a invasão de cargos comissionados em todas as instâncias de governo. Regularização fundiária e concessões florestais – “todos os invasores de terra vão ser contemplados”

“Então, você montou um pacto que pega os três grupos que compõem – você compõe com o núcleo mercado, com o núcleo evangélico (alguma pauta moral) E quem está na presidência da Câmara, com todas as ressalvas que se tinha Rodrigo Maia, é o principal assessor do Eduardo Cunha”

“Você vê que a perda de rumo é generalizada. E esse assalto final que está tendo ao Estado brasileiro, você desmonta o conceito de Nação. O ponto central é o desmonte de todas essas políticas”, ressalta Nassif.

Para discutir esse desmonte, Nassif entrevista o cientista político Cláudio Couto, da Fundação Getúlio Vargas. Sobre o Centrão ser novamente cabeça de governo, Couto diz que já era algo esperado. “O Centrão, na verdade, esteve com todos os governos desde o início da redemocratização, em maior ou menor medida”, pontua o cientista político.

“O Bolsonaro começou seu governo sem construir uma base de sustentação no Congresso. Ele falou que ia negociar com aquelas bancadas temáticas – bancada do boi, bancada da Bíblia, bancada da bala. Mas, na realidade, essas bancadas são muito frouxas. Inclusive, porque elas não têm no funcionamento interno do Congresso Nacional nenhum recurso institucional para operar”.

“Elas, na realidade, existem muito mais como uma referência muito vaga de certas opiniões compartilhadas, ou interesses compartilhados entre seus membros, do que propriamente funcionam como algo que poderia sustentar o governo”.

“O Bolsonaro passou dois anos levando bola nas costas do Congresso, e levando porque mereceu levar – afinal de contas não construiu essa coalizão, não tinha um plano de governo claro”.

“O que (Bolsonaro) aprovou, que era condizente com sua agenda – como a reforma da Previdência – era muito mais herança do governo Temer, capitaneada pelo Rodrigo Maia (…) E o governo, quando muito, não atrapalhou. Aí, quando Bolsonaro depois de sofrer várias derrotas (…) foi alvo de CPMI, investigação do Supremo, pessoal indo pra cima de sua família na Justiça Estadual do Rio de Janeiro com a rachadinha, o Queiroz sendo preso na casa do advogado da família Bolsonaro em Atibaia”.

“Enfim, foi tanta coisa que o Bolsonaro começou a ficar assustado e recuou (…) O fato é: o Bolsonaro, finalmente, depois de mais ou menos um ano e meio de governo, começa a conversar com o Centrão e. digamos, teve inegavelmente uma vitória com a eleição dos presidentes das duas Casas”

“De alguma maneira, a gente continua com um governo congressual, só que agora capitaneado pelo (Arthur) Lira, pelo menos no caso da Câmara”, ressalta Couto. “De uma certa forma, a gente tem uma coalizão em que, ao invés dos partidos do Centrão, de adesão, terem aderido ao Executivo, foi o Executivo que aderiu a essa coalizão legislativa, montada em torno do Lira, para ver se se socorre”

“O Centrão ninguém compra, só aluga. E aí, consequentemente, esses partidos do Centrão não serão necessariamente partidos que serão a grande coligação do Bolsonaro em 2022 se ele estiver mal das pernas. Eles vão correr para outro lugar”, pontua Claudio Couto.

Sobre a reforma administrativa, o comentarista Vinícius Amaral diz que a reforma não é só de interesse do governo e do mercado financeiro – “há muitos motivos para acreditar que a reforma administrativa é de todo interesse do Centrão. Isso acontece porque ela permite o aumento do espaço de barganhas políticas, e permitindo a ocupação de espaços que hoje estão fechados a ela”, diz o comentarista.

A referência de Amaral é a proposta de permitir que todos os cargos em comissão e todos os cargos de confiança possam ser ocupados por indicações políticas. “Com a reforma, haveria um aumento estratosférico da quantidade de cargos que poderiam ser ocupados politicamente. Apenas no governo federal, isso deve fazer com que o número de indicações políticas salte dos atuais (e já elevadíssimos) 6500 para inacreditáveis 93 mil postos”.

“Com relação aos grandes negócios da privatização, é evidente que você tendo um funcionalismo com estabilidade é muito mais difícil fazer negócio”, explica Nassif. “O cara não vai endossar, sabendo que está em jogo a estabilidade dele, a sua aposentadoria e o emprego”.

“Então, essa questão de você acabar com a estabilidade tem outro componente que é o esvaziamento do poder das corporações públicas”, diz Nassif. “Esse jogo vem desde 94”

Sobre as declarações do líder da bancada ruralista em torno da liberação de agrotóxicos, Nassif ressalta: “Toda regulação que foi construída em torno de 20 anos está indo para o vinagre. Isso é selvageria em estado puro”.

“É interessante como o estado puro da selvageria se incrustou em todos os poros da sociedade, e principalmente nos setores públicos, que deveriam ser resguardados de qualquer paixão”, diz Nassif. “Hoje, você tem alguns ministros do Supremo que estão lutando para limpar a biografia, inclusive defendendo um julgamento justo para o Lula, porque sabem que é a derradeira chance de não irem para o lixo da história”

Redação

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