@GCasaroes, pelo Twitter
1) Uma política externa populista, antes de tudo, não se confunde com populismo diplomático, que seria o emprego estratégico da política externa, seja por parte do presidente ou do chanceler (lembram de @joseserra ?), para se conectar à massa ou para finalidades eleitoreiras.
2) E nem todo líder populista faz populismo com a política externa. Ações pragmáticas guiaram a diplomacia de Getulio Vargas, de Perón (em menor grau), de @LulaOficial @narendramodi @matteosalvinimi @netanyahu, e por aí vai
3) Mais que expediente pontual, a política externa populista é uma construção ampla, que submete objetivos, princípios e estratégias de à dinâmica própria do populismo. @jairbolsonaro, para quem a política externa é meramente extensão das suas narrativas ideológicas.
4) A política externa populista se baseia em 3 pilares:
– Soluções simples para problemas complexos;
– Recurso direto às massas;
– Construção permanente da disputa amigo/inimigo (ou nós/eles)
Para tanto, dispensa os mediadores institucionais: @ItamaratyGovBr
5) A 1ª característica é visível desde a campanha. P/reconquistar a credibilidade nacional, o governo tem que se alinhar a @realDonaldTrump. Reproduzir sua agenda internacional (hostilidade c/, amizade c/, etc) é a chave do sucesso. Sem filtros, ressalvas ou concessões
6) O recurso às massas se traduz na ideia de que a pol. ext. reflete os valores do povo. Sem mediações, sem “deep state”, sem a influência nociva das elites globalistas ou do marxismo cultural. A diplomacia bolsonarista se arvora de ser a voz de um povo que ela mesma não define.
7) O recurso permanente às massas é importante para manter a base mobilizada. Isso se dá por meios específicos:
– Fala-se permanentemente de Deus/Cristianismo/Ocidente;
– Criam-se espantalhos externos (China, Macron, Maduro, ONU);
– Estimulam-se teorias conspiratórias nível zap
8) O recurso a Deus é a base do nacionalismo religioso de Bolsonaro (“o é cristão e minorias têm que se curvar às maiorias”) e vem sendo repetido, indiscriminadamente, por @ernestofaraujo Atende aos templários olavistas, às lideranças evangélicas e a conservadores em geral.
9) Os espantalhos são os de sempre: comunistas, globalistas e derivados. Nas redes, governistas batem em alvos óbvios com “mitadas” sem fundamento factual e/ou lógico.
A ideia é criar a sensação permanente de que há uma conspiração global contra o mito, oprimido pelo sistema. @ernestofaraujo delega as tiradas mais agressivas para seus colegas/chefes olavistas (@BolsonaroSP, ministros, deputados, @opropriolavo), que bombam no zap da família.
10) Como é a voz institucional do MRE, @ernestofaraujo
delega as tiradas mais agressivas para seus colegas/chefes olavistas (@BolsonaroSP
, ministros, deputados, @opropriolavo), que bombam no zap da família.
Mas às vezes deixa escapar umas pérolas de negacionismo conspiratório…
11) Isso nos traz à última característica da política externa populista. Ela só funciona a partir de uma lógica binária, à la Carl Schmitt, que estabelece quem é amigo e quem é inimigo.
Venho dizendo há algum tempo que isso é parte da estratégia “metapolítica” (17?) do olavismo.
12) Nessa dinâmica, as afinidades eletivas fizeram Bolsonaro se aproximar de líderes populistas, conservadores, nacionalistas religiosos… e de perfil autoritário.
O objetivo é vencer a guerra cultural contra globalistas e socialistas. Não há diálogo, cooperacão ou conciliação.
13) Da mesma forma, o Brasil hostiliza tudo o que supostamente faz parte da trama conspiratória. Muda votos na ONU, agride líderes progressistas, denuncia totalitarismo @ForodeSaoPaulo @georgesoros.
Quem quer que discorde, vira inimigo. Simples assim.
14) Além da óbvia ascendência de Olavo de Carvalho, tanto no método quanto no conteúdo da paranoia conspiratória, é importante destacar a influência de Steve Bannon na formulação dessa política externa populista. Ele é uma das inspirações dos declaradas dos decisores brasileiros.
15) A pandemia de #Covid19 expõe, com clareza, os traços da política externa populista. A insistência na hidroxicloroquina como o remédio milagroso é a típica solução simples para um problema complexo. Tudo parte da premissa de que mimetizar Trump é sempre a melhor estratégia.
16) O apelo direto às massas se manifesta tanto na retórica bolsonarista de “salvar empregos” quanto na distorção deslavada da realidade para legitimar as posições aberrantes de Bolsonaro no combate à pandemia.
17) Por fim, a cantilena do nós x eles continua, seja com a patifaria do “vírus chinês” (denominação tb importada do trumpismo), seja nos ataques sistemáticos à China, à@WHO@DrTedros
Isso, claro, estimula toda sorte de bizarrice racista nos grupos de zap. Carla Zambelli
18) Se uma política externa populista é ruim para o Brasil, uma vez que isola o país, coloca em risco interesses políticos e comerciais e nos coloca em posição de vulnerabilidade estratégica frente a amigos e inimigos, ela também gera danos colaterais mais específicos.
19) O primeiro dano colateral é a total submissão dos interesses estratégicos do país às veleidades e idiossincrasias do presidente – ou, melhor dizendo, da família Bolsonaro. @dbelemlopes escreveu muito bem sobre isso. Eduardo é o chanceler. Ernesto é só o rosto institucional.
20) O 2º dano diz respeito à pandemia. Como bem denominaram @hussein_kalout e @OliverStuenkel, o Brasil inaugurou uma inusitada estratégia “avestruz” de fingir normalidade e se associa a outros 3 países cujos lideres negam a pandemia e propõem curandeirismos para superar a crise.
Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.
Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.