Uma análise da Ponte para o Futuro, por Roberto Requião

“Ponte para o futuro”: uma análise das consequências das 30 propostas do documento do PMDB

Do Gabinete do Senador Roberto Requião

Este resumo é dividido em duas partes. A primeira contém uma nova lista de propostas complementares que deverão ser incluídas no documento original, pela Fundação Ulysses Guimarães, Moreira Franco, segundo o jornal Estado de São Paulo. A segunda é a lista de propostas originais.

  1. Novas propostas que vão ser incluídas no documento “Ponte para o futuro”

Neste domingo, 27 de março, o Jornal Estado de São Paulo publicou novas propostas complementares ao documento “Uma Ponte para o Futuro”, também coordenadas pelo Moreira Franco.

  1. Fim ou severa restrição aos subsídios da política industrial e de comércio exterior brasileira. Ou seja, o objetivo é acabar com as políticas que visam desenvolver e impedir maior desindustrialização do Brasil.

  2. Henrique Meirelles ou Armínio Fraga no Ministério da Fazenda

  3. Não usar mais o excesso de rendimento do FGTS como fonte de recursos a “fundo perdido” subsidiar e financiar o programa ‘Minha Casa, Minha Vida’. A razão disso é que o dinheiro do FGTS seria propriedade do trabalhador e não deveria ser usado para fazer política pública. Na prática, isso levaria a um desemprego em massa na indústria da construção civil, e muito menos pessoas teriam acesso à casa própria

  4. Estender o Pro-uni para o ensino médio com o objetivo de privatizar de forma muito mais generalizada o ensino médio.

  5. Limitar o Pronatec que é um sistema de bolsas de ensino para cursos profissionalizantes rápidos para a camada mais pobre da população e que tem muita dificuldade material e não-material de realizar cursos profissionalizantes tradicionais que são extensos, dispendiosos ou focados para jovens com bom embasamento educacional.

  6. Limitar as concessões de empréstimos estudantis pelo FIES. O objetivo declarado é gerar mais “meritrocracia”.  Na prática, isso significa que milhões e milhões de jovens deixarão de ter acesso à universidade.

  7. Concentrar os programas sociais apenas aos mais miseráveis, os 10% mais pobres, que vivem com menos de 1 dólar por dia

  8. “Intervenção no SUS”. Não sabem o que fazer com ele, só dizem que está sem controle e que precisar ser “reorganizado”. Na prática, certamente são desculpas para justificar a redução dos repasses orçamentários para o Ministério da Saúde.  A “reorganização” é só uma forma de descobrir como fazer o SUS funcionar pelo menos precariamente com menos recursos. Ou seja, descobrir quem vai chorar menos se não puder mais ser atendido: os pacientes de câncer, ou com diabetes ou de tuberculose ou as grávidas com zica…#

  1. PONTE PARA O FUTURO

Abaixo as propostas iniciais do documento ‘Ponte para o futuro’.

Política fiscal e orçamento

  1. Novo regime orçamentário, com o fim de todas as vinculações de receitas. Dito dessa forma, parece uma medida burocrática. Mas é simplesmente o fim de todo o modelo de financiamento da Educação e da Saúde Pública brasileira.

  2. A implantação do orçamento inteiramente impositivo. Quem não é especialista em assuntos do parlamento pode não entender imediatamente o que isso significa. Mas significa talvez o fim de um dos últimos instrumentos de governabilidade nas mãos do executivo. Essa medida faria com que o governo funcionasse na prática como um semi-parlamentarismo.

  3. Fim de todas as indexações, seja para salários, benefícios previdenciários e tudo o mais. Quando a indexação é pelo salário mínimo, como é o caso dos benefícios sociais, a distorção se torna mais grave, pois assegura a eles um aumento real, com prejuízo para todos os demais itens do orçamento público, que terão necessariamente que ceder espaço para este aumento. Com o fim dos reajustes automáticos, o Parlamento arbitrará, em nome da sociedade, os diversos reajustes conforme as condições gerais da economia e das finanças públicas. Em contrapartida a este novo regime, novas legislações procurarão exterminar de vez os resíduos de indexação de contratos no mundo privado e no setor financeiro.

  4. “Orçamento com base zero”, que significa que a cada ano todos os programas estatais serão avaliados por um comitê independente, que poderá sugerir a continuação ou o fim do programa, de acordo com os seus custos e benefícios. Hoje os programas e projetos tendem a se eternizar, mesmo quando há uma mudança completa das condições. De qualquer modo, o Congresso será sempre soberano e dará a palavra final sobre a continuação ou fim de cada programa ou projeto. Isso significa outro passo decisivo para o semi-parlamentarismo que alguns caciques defendem. Além disso, prejudicaria muito a gestão pública já que todos os programas ficariam sempre à mercê de uma permanente negociação fisiológica.

  5. Equilíbrio fiscal de longo prazo seria um dos princípios constitucionais que deve obrigar a Administração Pública, aprovando-se uma lei complementar de responsabilidade orçamentária. Busca-se com isso uma suposta trajetória de equilíbrio fiscal duradouro, com superávit operacional e a redução progressiva do endividamento público. Será apenas a recessão e o desemprego permanente.

  6. Criação de uma instituição que articule e integre o Poder Executivo e o Legislativo, uma espécie de Autoridade Orçamentária, com competência para avaliar os programas públicos, acompanhar e analisar as variáveis que afetam as receitas e despesas, bem como acompanhar a ordem constitucional que determina o equilíbrio fiscal como princípio da administração pública. Isso foi recentemente aprovado no senado em uma votação relâmpago com muito pouco acesso ao contraditório. É mais uma medida do projeto de limitar o poder do executivo e criar um semi-parlamentarismo de fato.

  7. Estabelecer um limite para as despesas de custeio inferior ao crescimento do PIB, através de lei, após serem eliminadas as vinculações e as indexações que engessam o orçamento. Isso gerará estagnação econômica, dificuldade de tirar o país da recessão e pode tornar o país ingovernável a menos que acabe ou desmonte boa parte dos programas sociais.

Previdência e demografia

  1. Ampliar a idade mínima para a aposentadoria, de sorte que as pessoas passem mais tempo de suas vidas trabalhando e contribuindo, e menos tempo aposentados. Querem uma idade mínima que não seja inferior a 65 anos para os homens e 60 anos para as mulheres, com previsão da idade mínima aumentar dependendo dos dados demográficos.

  2. É indispensável que se elimine a indexação de qualquer benefício, inclusive aposentadorias e auxílios a pessoas deficientes, ao valor do salário mínimo.

Juros e dívida pública

  1. Aumento acentuado do superávit primário, ou seja, um mega arrocho fiscal. O instrumento normal para isso é a obtenção de um superávit primário capaz de cobrir as despesas de juros menos o crescimento do próprio PIB. Em tese, isso faria reduzir os juros. Mas não foi o que aconteceu em outras situações como no primeiro ano do mandato da Dilma.

Privatizações e infraestrutura

  1. Maiores tarifas para os concessionários privados de serviços públicos: energia elétrica, gás, telefonia, internet, pedágios…

  2. Privatizações. Executar uma política de desenvolvimento centrada na iniciativa privada, por meio de transferências de ativos que se fizerem necessárias, concessões amplas em todas as áreas de logística e infraestrutura

  3. Fim do Regime de Partilha para o Pré-Sal

  4. Fim do controle da Petrobras sobre o Pré-Sal. Isso foi recentemente aprovado no Senado após um ano de manobras regimentais capciosas.

  5. Estatuto das estatais. Promover legislação para garantir o melhor nível possível de governança corporativa às empresas estatais e às agências reguladoras, com regras estritas para o recrutamento de seus dirigentes e para a sua responsabilização perante a sociedade e as instituições. Medidas diversas para limitar a capacidade do governo usar as estatais para fazer políticas de interesse público e força-las à privatização.

Comércio Exterior

  1. Focar na aliança comercial com grandes potências em detrimento do Mercosul. Regredir nos acordos do Mercosul em benefício de acordos com EUA  e Europa.

  2. Redução das tarifas e políticas que protegem o mercado e o emprego na indústria brasileira.

  3. Incluir o Brasil nos novos acordos de investimentos que os EUA estão propondo na Ásia e no Atlântico Norte.

Política Social

  1. Reduzir os gastos sociais em assistência, saúde e educação. Eufemisticamente propõem estabelecer uma agenda de “transparência” e de “avaliação de políticas públicas”, que permita a identificação dos beneficiários, e a análise dos impactos dos programas. O documento afirma que “o Brasil gasta muito com políticas públicas com resultados piores do que a maioria dos países relevantes” 

Política trabalhista

  1. Fim da CLT. Na área trabalhista, permitir que as convenções coletivas prevaleçam sobre as normas legais. 

Política tributária e desburocratização

  1. na área tributária, realizar um vasto esforço de simplificação, reduzindo o número de impostos e unificando a legislação do ICMS, com a transferência da cobrança para o Estado de destino; desoneração das exportações e dos investimentos; reduzir as exceções para que grupos parecidos paguem impostos parecidos. O último item é um grande prejuízo para a política industrial brasileira e, portanto, ao emprego industrial e o desenvolvimento tecnológico do país.

  2. Promover a racionalização dos procedimentos burocráticos e assegurar ampla segurança jurídica para a criação de empresas e para a realização de investimentos, com ênfase nos licenciamentos ambientais que podem ser efetivos sem ser necessariamente complexos e demorados. O que os ambientalistas acham disso?

Luis Nassif

Luis Nassif

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  • A única solução é rua e
    A única solução é rua e luta!!! Temos que informar ao povão o perigo que eles estão a sofre mortalmente. E luta!!!!

  • Isenção
    Acho que a análise dessas propostas deve ser feita com isenção. Filosoficamente tudo o que é humano pode ser melhorado. Somente o PT acha que acerta em tudo, e estamos a caminho do buraco a cada dia. O governo Dilma sempre afirmou que está aberto ao diálogo, mas esta é a maior das mentiras.

    • Super apropriada a pergunta.
      Super apropriada a pergunta. Nós perdemos só um governinho semi-liberal, mas não fomos anulados histórica e politicamente!

      • Por que estas provocações imbecis!

        Provavelmente o grupo que represntas não perdeu nada e não existe nem histórica e nem politicamente. A partir de grupelhos que a cada momento minavam e criticavam o governo é que o mesmo foi se afastando da sua origem. Vais ver o que é sí perder um governinho e ganhar um governo fascista.

  • É um absurdo. Um monte de

    É um absurdo. Um monte de asneiras para deixar o País para os grupos estrangeiros. Não ao Golpe!

    • Um plano não é melhor que

      Um plano não é melhor que nenhum plano. Depende do objetivo.

      O que você prefere... Não ter nenhum plano de vida ou ter um bom plano para se matar?

  • Eu estou surpreso como os

    Eu estou surpreso como os seus empresários podem apoiar um plano que certamente irá acabar com eles mesmos. Eu já sabia por outros motivos que o empresariado do seu país é estúpido, mas como vocês dizem, "agora eu fiquei de cara"

    • Eles preferem aplicar no

      Eles preferem aplicar no mercado financeiro do que produzir, não gostam de trabalhar. Por isso apoiam o Naufraga.

  • O PMDB disputa com PSDB a paternidade do Neoliberalismo!
    Esse programa é um retrocesso vergonhoso. Se o golpe prosperar o Brasil terá um retrocesso sem precedentes! É a submissão total aos ditames da agenda dos EUA! A agenda sul-sul duramente construída será enterrada. Querem entrar na nova Alca do Tio Sam, a TPP, do Pacífico!! O Requião nem precisaria mostrar os demais pontos, somente essa! Essa Alça do pacífico engloba praticamente todos os demais pontos previstos. Terra arrasada. É enterrar todas as conquistas e garantias sociais construídas em nossa história. Sobreviverao os mais fortes, ou melhor os donos do capital! Saúde, educação, distribuição de renda não vem ao caso. Aos debaixo a senzala, incluindo aí um sem número de coxinhas, que não serão mais úteis a casa grande, com.sei cardápio internacional.

  • Censura
    Gostaria que os meus comentários parassem de ser censurados. Não ataco ninguém. Não uso linguagem chula. Apenas leio e comento. É lamentável o que o moderador está fazendo.

    • Aqui não tem censura. Se você

      Aqui não tem censura. Se você se cadastrar seus comentários entram automaticamente, sem moderação. Já no pig ...

  • Austeridade é assim

    Como a própria Dilma afirmou, sem dinheiro não se faz nada. Qualquer governo que assuma o poder terá que fazer mais ou menos isso aí. Na visão de vocês, as medidas de austeridade são uma maldade dos tais neoliberais para sacanear o povo. É uma postura infantil, de quem acredita que o governo é um provedor tal qual um pai para os filhos, esquecidos de que o governo não produz riqueza, apenas administra uma receita de impostos que pode ser maior ou menor conforme a situação financeira dos contribuintes.

    Não demora, estaremos ouvindo por toda a parte lamúrias de que Lula é que era bom, porque deu comida e instrução ao povo, como se Lula fosse um coronel do sertão que distribui sacos de arroz aos pobres de sua terra. Triste será se Lula vencer em 2018 e não tiver outra alternativa senão seguir esse mesmo programa que está aí.

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