WikiLeaks: o mensalão

WikiLeaks: Embaixada não acreditava em reeleição de Lula após “mensalão” 

Por Bruno de Pierro
Da Agência Dinheiro Vivo

Telegramas enviados da baixada norte-americana, em Brasília, para o Departamento de Estado dos EUA, entre 2004 e 2005 foram enviados pela WikiLeaks a Blogs brasileiros que passaram a integrar a rede de divulgação dos arquivos. Os documentos trazem relatos detalhados sobre o caso Waldomiro Diniz e a crise do “mensalão”.

Nos documentos enviados pelo embaixador John Danilovich a seus superiores, há, principalmente, relatos do que foi divulgado pela grande mídia na época do escândalo, histórico dos envolvidos no caso, como o de José Dirceu, e comentários pessoais. Em um deles, Danilovich mostra-se incomodado com o fisiologismo de partidos da base governista.

Em telegrama enviado no dia 31 de março de 2004, de código 04BRASILIA776, o embaixador lança críticas ao PMDB. “Em um encontro no dia 14 de março, o deputado federal de São Paulo Michel Temer, um crítico de Lula, foi reeleito presidente do PMDB com o apoio de Rosinha e Anthony Garotinho. Mesmo com o ressurgimento de Temer, o PMDB é muito ‘fisiologista’ para deixar a coligação, pois isso significaria abrir mão de seu gabinete e outras regalias (apesar de alguns deputados do PMDB divulgarem uma carta em 24 de março ameaçando sair da coalizão se seus conselhos econômicos não forem seguidos). Por sua vez, o partido irá aumentar suas críticas ao governo federal e demandar mais regalias (e influência sobre a política) em troca de opoio”, escreveu.

Em outro momento, retoma a questão para explicar que “fisiologismo” é um termo brasileiro, que pode ser mais ou menos traduzido como “oportunismo crasso”, “aplicado para os políticos sem crenças, que fazem alianças para obter vantagens de curto prazo”. Segundo Danilovich, este seria um dos principais problemas responsáveis pela corrupção no país.

Numa outra mensagem, o embaixador norte-americano, após acompanhar, pela grande imprensa, o desenrolar do caso, conclui que a crise no governo federal passa a percepção de ineficácia, “juntamente com obstinados problemas econômicos do Brasil”, e acrescenta que o escândalo envolvendo José Dirceu estava “contribuindo para a queda do governo”.

O telegrama do dia 14 de junho de 2005, de código 05BRASILIA1602, tratava sobre o depoimento de Roberto Jefferson, que “aconselhava” a Dirceu abandonar o governo. “Todas as classes políticas e financeiras do Brasil estão coladas, hoje, em seus televisores, assistindo o depoimento de [Roberto] Jefferson. Dependendo do grau das provas que ele pode oferecer, e o quanto esses eventos afetam o governo. Lula deverá ter que sacudir seu gabinete e demitir Dirceu, e ver sua reeleição em 2006 comprometida, assim como sua coalizão desmoronar”, dizia.

Em outro telegrama, dessa vez assinado pelo ministro conselheiro da embaixada, Phillip Chicola, colocava-se como quase certa a incapacidade de Lula conquistar o segundo mandato. Na mensagem, enviada no dia 12 de julho de 2005, de código 05BRASILIA1849, Chicola afirma que Lula ainda parece certo de uma segunda eleição em 2006, embora esteja “menos invencível do que foi há alguns meses atrás”.

Sobre o futuro PT, o funcionário da embaixada dos EUA afirmava ser um ponto de interrogação. Segundo ele, a habilidade de Lula para reanimar seus apoiadores, com iniciativas políticas radicais, era dificultada por problemas de sua coalizão, o que, acreditava, impediria a reeleição. Chicola também dedicou alguns telegramas para informar seus superiores no Departamento de Estado americano sobre as mudanças que Lula fez em seu gabinete, descrevendo quem eram os novos ministros, por meio de pequenas biografias sobre cada novo integrante do governo.  

Luis Nassif

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