Covid-19 – O país segue com os dois pés afundados na lama, por Felipe A. P. L. Costa

Covid-19 – O país segue com os dois pés afundados na lama

Por Felipe A. P. L. Costa [*].

  1. O balanço da semana que passou.

Anteontem (31/1), de acordo com o Ministério da Saúde, foram registrados em todo o país mais 27.756 casos e 573 mortes. Teríamos chegado assim a um total de 9.204.731 casos e 224.504 mortes.

Em números absolutos, os casos registrados na semana encerrada no domingo (25-31/1) ficaram abaixo dos que foram registrados na semana anterior. Foram 356.478 casos, contra 360.154 (18-24/1).

Desgraçadamente, porém, o número de mortes tornou a subir. E muito. Foram 7.467 mortes. O que fez da semana encerrada anteontem (25-31/1) a segunda mais letal desde o início da pandemia [1].

  1. Taxas de crescimento.

Em termos de monitoramento, porém, o correto é examinar aqueles parâmetros que nos falam sobre a dinâmica da pandemia, como é o caso das taxas de crescimento no número de casos e de mortes [2]. Vejamos, então.

Em comparação com as médias da semana anterior (18-24/1), as médias da semana passada (25-31/1) oscilaram pouca coisa: a taxa de casos declinou um pouco, enquanto a de mortes escalou, ainda que minimamente (ver a figura que acompanha este artigo).

Eis os resultados: A taxa de crescimento no número de casos recuou de 0,59% (18-24/1) para 0,57% (25-31/1), enquanto a taxa de crescimento no número de mortes permaneceu em torno de 0,48% (25-31/1) [3, 4].

*

FIGURA. A figura que acompanha este artigo ilustra o comportamento das médias semanais das taxas de crescimento no número de casos (pontos em azul escuro e azul claro) e no número de óbitos (pontos em vermelho escuro e vermelho claro) em todo o país (valores expressos em porcentagem), entre 28/6 e 31/1. (Valores acima de 2% não são mostrados.) Os pontos claros (azul, casos; vermelho, mortes) indicam semanas cujas médias ficaram abaixo da média das duas últimas semanas (18-31/1). As quatro médias mais baixas das duas séries (casos e mortes) foram observadas entre 11/10 e 8/11, caracterizando o período como o ‘melhor mês’. Logo em seguida, porém, note como as duas nuvens de pontos experimentaram rupturas e mudaram de rumo. E note como o apagão que houve na divulgação das estatísticas, na segunda quinzena de dezembro, rebaixou artificialmente as duas trajetórias.

*

  1. Coda.

As taxas de crescimento (casos e mortes) pararam de crescer. Mas estamos estagnados. E em patamares relativamente elevados – as médias da semana passada, por exemplo, são bem superiores às médias observadas no ‘melhor mês’: 0,38% (casos) e 0,27% (mortes).

Sem medidas efetivas de controle, o ritmo poderá permanecer inalterado durante meses. Ou pode vir a piorar. (Não se iluda: os primeiros efeitos da campanha de vacinação só serão percebidos – na melhor das hipóteses – no segundo semestre [5].)

A situação é dramática. Basta ver o seguinte: no ritmo atual, o país irá contabilizar 10.798.097 casos e 257.031 mortes até o último domingo de fevereiro (28/2).

Não era para ser assim. Não tinha de ser assim.

*

Notas.

[*] Para detalhes e informações sobre o livro mais recente do autor, O que é darwinismo (2019), inclusive sobre o modo de aquisição por via postal, faça contato pelo endereço meiterer@hotmail.com. Para conhecer outros livros e artigos, ver aqui.

[1] Desde a chegada da pandemia em terras brasileiras, 11 semanas ultrapassaram a marca das sete mil mortes (o que equivale a uma média diária superior a 1 mil óbitos/dia). Na pior delas (20-26/7) foram registradas 7.516 mortes.

[2] Arrisco dizer que a pandemia chegará ao fim sem que a imprensa brasileira (grande parte dela, ao menos) se dê conta de que está monitorando a pandemia de um jeito, digamos, desfocado – além de burocrático e bastante superficial. Para capturar e antever a dinâmica de processos populacionais, como é o caso da disseminação de uma doença contagiosa, devemos recorrer a um parâmetro que tenha algum poder preditivo. Não é o caso da média móvel. Mas é o caso da taxa de crescimento – seja do número de casos, seja do número de mortes. De resto, trata-se de um parâmetro de fácil computação (ver a nota 4).

[3] A rigor, no caso do número de mortes, a diferença nos resultados só aparece na terceira casa decimal: 0,4824% (18-24/1) contra 0,4844% (25-31/1). Entre 25/10 e 31/1, as médias semanais exibiram os seguintes valores: (1) casos: 0,43% (19-25/10), 0,4% (26/10-1/11), 0,3% (2-8/11), 0,49% (9-15/11), 0,5% (16-22/11), 0,56% (23-29/11), 0,64% (30-6/12), 0,63% (7-13/12), 0,68% (14-20/12), 0,48% (21-27/12), 0,47% (28/12-3/1), 0,67% (4-10/1), 0,66% (11-17/1), 0,59% (18-24/1) e 0,57% (25-31/1); e (2) mortes: 0,3% (19-25/10), 0,26% (26/10-1/11), 0,21% (2-8/11), 0,3% (9-15/11), 0,29% (16-22/11), 0,3% (23-29/11), 0,34% (30-6/12), 0,36% (7-13/12), 0,42% (14-20/12), 0,33% (21-27/12), 0,36% (28/12-3/1), 0,51% (4-10/1), 0,47% (11-17/1), 0,48% (18-24/1) e 0,48% (25-31/1).

[4] Sobre o cálculo das taxas de crescimento, ver qualquer um dos quatro volumes da coletânea A pandemia e a lenta agonia de um país desgovernado (aqui, aqui, aqui e aqui).

[5] Devemos tomar cuidado com as armadilhas mentais que cercam a recém-iniciada campanha de vacinação. Três das quais seriam as seguintes: (1) a imunização individual não é instantânea nem nos livra de continuar adotando as medidas de proteção social (e.g., distanciamento espacial e uso de máscara); (2) a imunização coletiva só será alcançada depois que a maioria (> 75%) da população tiver sido vacinada; e (3) a população brasileira é grande, de sorte que a campanha irá demorar vários meses (mais de um ano, talvez).

* * *

Redação

Redação

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  • A farsa caiu por terra. Era esta a estratégia política da Oposição contra o Presidente? Este era o país projetado por 40 anos de Redemocracia depois de 30 anos de farsante Constituição Cidadã? O Lixo Político como Herança?!4 Bilhões de Fundo Partidário enquanto se propagandeia a Indústria da Fome e da Miséria entre toda Elite Esquerdopata que se nutre da desgraça? Nepotismo de Bruno Covas, toda Elite e patota assistindo a Final da Libertadores, Calcinha Apertada em Miami/USA foi a gota que faltava para toda hipocrisia ser jogada no ventilador. Ninguém acredita mais nesta farsa de Gripezinha de Inverno!!! Como ficou escrachado, como foi revelado os Governadores, em especial de SP, podem dar o dinheiro que for para a Imprensa fomentar Factóides e Manchetes Apocalipticas. A farsa já caiu por terra !!! Levou um pé na bunda" como AlColumbre e Rodrigo Maia !!! Adeus medíocres !!! Calcinha Apertada inclusive já baixou as calças e começa a desmontar o Estado Fascista do AntiCapitalismo de Estado contra EMPREGOS, LIBERDADE E CIDADÃOS PAULISTAS E BRASILEIROS!! Não dá mais para tentar implantar seu Estado Ditatorial usando a Polícia Militar para seus fins criminosos. As Pessoas saem às ruas pedindo a renúncia do Governador, enquanto a Imprensa tenta aumentar a 'fumaça' com oposição ao Presidente. Só fumaça !!! Liberdade, Liberdade, Abra as asas...

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