Por Edgard Murano, do blog Achados & Escritos
Fenômeno “hate watching” despertado pela segunda temporada do seriado True Detective pode ser sintoma do surgimento de um novo perfil de público e de crítica
Se, como sabiamente cravou a atriz Lily Tomlin, “o homem inventou a língua para satisfazer sua profunda necessidade de reclamar”, depois dela a próxima grande invenção seria, pela lógica, as redes sociais. Mas, se na escala das invenções o Facebook e o Twitter sucederam o próprio idioma, era preciso que se criasse um objeto para que a humanidade não lançasse seus queixumes no vazio. Não tardaria, alguns anos depois, para que um homem chamado Nic Pizzolatto produzisse a segunda temporada da série True Detective, que ajudou a elevar o fenômeno crítico-masoquista do hate watching à enésima potência, alçando a reclamação ao nível de uma arte, cultivada com paixão e rancor por uma horda de, digamos, hate watchers ansiosos para se sentirem frustrados a cada novo episódio precedido pelo timbre cavernoso da voz de Leonard Cohen e emoldurado pelas silhuetas vazadas da abertura criada por Patrick Clair.
Segundo o site Jezebel, o hate watching define-se pelo “ato de assistir a um show de que você não goste apenas com o propósito de tirar sarro”. Já a Entertainment Weekly foi no nervo da questão ao distinguir o conceito de hate watching daquele de curtir um show acossado por um sentimento de culpa (“guilty pleasure”). “De maneira geral”, escreve Darren Franich no artigo da EW, “o hate watching requer uma série de TV com grandes ambições e que apresente um certo grau de perfeição estética”. Bingo!
Nic Pizzolatto, como foi fartamente noticiado pela imprensa, tem a si mesmo em alta conta, e boa parte dos jornalistas acabou comprando essa aura de genialidade. Além disso, notícias de desavenças entre Pizzolatto e seu diretor Cary Fukunaga não faltaram em portais de entretenimento ao longo da malfadada segunda temporada do seriado, cujo sucesso conquistado pela temporada anterior — acrescida de seu apuro estético, planos sequências épicos e elenco hollywoodiano —, fez do programa um case perfeito de hate watching (pelo menos segundo a definição do EW). Com grandes ambições — leia-se hype — seguidas de grandes desilusões, não deu outra: haters gonna hate it.
No domingo em que o final da segunda temporada foi ao ar, a hashtag #TrueDetective foi parar no topo dos trending topics do Twitter, acusando o já previsto “falem mal, mas falem de mim”. Frustração, decepção e comentários jocosos inundaram as timelines como há muito não se via desde o final da quinta temporada de Game of Thrones. No caso da história capitaneada por Pizzolatto — concebida de maneira errática e prolixa, com uma trama desnecessariamente complicada — o que se viu não foram apenas comentários de internautas, mas resenhas e recaps despejados pela crítica especializada (NY Times, The Guardian, LA Times, Vulture, etc.) que misturavam ao rigor crítico um certo tom fanfarrão típico das redes sociais, apoiado em memes, montagens e gifs animados.
Se dezenas de artigos publicados às vésperas do final da segunda temporada recapitulavam a trama complexa, mastigando detalhes que o público deveria ter absorvido apenas assistindo ao programa, alguma coisa não estava indo muito bem. Parecia o 7 a 1 da seleção brasileira na última Copa, com críticos buscando culpados e Pizzolatto no papel de Filipão: acusaram o cara de ser centralizador, de ser avesso à cultura do writer’s room, e por aí vai.
Talvez essa lavada que a HBO tomou do público e da crítica durante a segunda temporada de TD seja sintoma não só do declínio de um modelo narrativo apoiado num hype massivo — que julga ser suficiente a tal perfeição estética citada pela EW —, mas também o surgimento de um público mais atento às “promessas” que chamadas e teasers publicitários nos incutem em doses homeopáticas durante a programação. Pode ser o fim de uma era em que pseudocríticos (relações públicas disfarçados de jornalistas) tentam nos empurrar goela abaixo textos que são verdadeiros media kits com frases de efeito genéricas recomendando determinado programa. A guerrilha dos recaps dos blogs de TV veio para ficar, promovendo textos mais informais e menos comprometidos sobre episódios e temporadas como um todo, botando a mão na massa da engenharia narrativa das tramas que abarrotam a programação das TVs e separando o joio do trigo — não por uma mera questão de proselitismo cultural, mas sobretudo guiados por um sentido de sobrevivência em meio à selva densa da dramaturgia televisiva —, onde uma crítica bem feita e sem maneirismos faz toda a diferença.
Relator libera processo para julgamento de recursos movidos por PT e PL em plenário; cabe…
Diante disso, quando respiramos fundo, notamos que a escola seria uma inovação. Diria, quase até…
Coach precisava ter passado informações básicas à base com 3h de antecedência; base militar tem…
Prognósticos mostram que perda pode chegar a 10 mil toneladas; cheia começa a se deslocar…
Com o cofundador do site O Joio e o Trigo, João Peres; a pesquisadora da…
Decisão do Superior Tribunal de Justiça segue STF e beneficia ex-governador Ricardo Coutinho, entre outros…
View Comments
Este texto, consegue ser
Este texto, consegue ser tão ruim quanto o capítulo final da segunda temporada do "True Detectives".
Redigido em portinglês,beira à s raias do ininteligível.Talvez, um exibicionismo barato de terminologias anglicistas.
De resto, a tal de segunda temporada,foi um desastre errático ,sugeria uma disputa nos bastidores entre a direção e o
roteirista.
Não assisto à série, ma o
Não assisto à série, ma o texto é péssimo. Se segunda temporada da série for tão ruim quanto este texto, realmente não vale a pena assisti-la.
True Detective
Já que o Nic Pizzollato matou a todos, mocinhos e bandido, no final ele também devia se suicidar hehehehe
Ora, vejam só.
Comparem True
Ora, vejam só.
Comparem True Detective com qualquer outra série. Valeu só pelo Colin Farrell e Vincen Vaughn. Ótimo entretenimento.
Esse pessoal que não sai das redes sociais quer derrubar governo, mudar rumos de seriados só na teclinha. Vão produzir alguma coisa.
A primeira temporada já foi
A primeira temporada já foi apenas razoável. Apesar de todo o hype que a HBO quis fazer em cima.
A segunda temporada desisti no terceiro episódio. Roteiro pavoroso com um elenco de canastrões de segunda linha.
Me disseram que depois piorou muito. Não dúvido.
Mas nada a ver essa história de "hate watching" .....
A série é ruim eu apenas paro de ver.
Filhos de Miami e Orlando
Assisti as duas temporadas ... A primeira com uma fotografia ótima e uma interpretação fantástica dos dois atores principais. A história era razoável. A segunda explodiu em tensão a partir do quarto episódio .... Vc só viu 3....A história se fecha e mostra a realidade do mundo atual .... Onde a corrupção impera( e tucanos não são punidos)...mas, o que mais ofendi aos olhos da turma Miami/Orlando é ver o EUA de verdade com esgoto nos canais e crianças jogando futebol no meio do lixo... Drogas, prostituíçao e lado podre da vida como ele é....Não gostou de True detective...melhor assistir Miami Vice.
E o personagem do Velcoro
E o personagem do Velcoro (Colin Farrell) ainda teve a "desfaçatez" de dizer que a namorada, que foi para a Venezuela porque o país não tem acordo de extradição com os Estados Unidos, estaria num lugar menos corrompido. Aí matou de vez os filhos de Orlando e Miami. E com direito a imagem de Chavez nas cenas finais.
Eu não entendo esse pessoal. Se você se dispõe a assistir uma série, ou ver um filme, ou ler um livro, é para apreciar a história, os personagens, enfim a criação autoral. O pessoal não quer respeitar nem isso mais. Como é que se conta a história de Romeu e Julieta sem que os personagens morram?
Estou contigo
Se os críticos acham que não existe nada que preste na televisão, por que criaram tanta expctativa para a segunda temporada? Provavelmente porque gostaram muito da prijmeira.
Eu assisti a ambas. A primeira foi muito melhor. Mas a segunda teve seus méritos. Confesso que me surpreendi com o cotidiano de uma cidade dormitório e com a miséria retratada. Não sei são verdadeiros, mas não estou acostumado a ver isso em seriados. Valeria só por isso, mas o final em que quase todos morrem e a impunidade permeia também foi bom.
O que aconteceu com True
O que aconteceu com True Detective foi mais ou menos o que ocorreu com o governo petista:
A "primeira temporada" foi supreendentemente excelente (Lula). Aí veio a "segunda" e conseguiu desagradar gregos e troianos. Primeiro, porque a expectativa era grande em razão da primeira; segundo, porque, infelizmente, a "segunda temporada" não era boa mesmo.
PS. Defendo o governo da Dilma mais que o TD 2ª Temporada... mas tbém estou com a força "verdadeiramente" (sacou?) diminuída. Precisamos de vc, Presidenta.... e a Senhora precisa de foco, força e ação (tal qual Nick Pizzolatto).
Não achei a segunda temporada
Não achei a segunda temporada ruim, nem a primeira tão boa assim.
Séries
Gostei da primeira temporada, um elenco mais coeso, e uma trama mais cerebral. A segunda foi bem mais previsível, com alguns bons momentos de ação, e o bom desempenho do Vince Vaughn, mas bem inferior em realção à outra. Ainda assim, as séries da HBO costumam ser interessantes.
É tudo tão ruim que me deu
É tudo tão ruim que me deu incontrolável vontade de assistir.
Começo hoje.