o nome do jogo

peças derrubadas. cartas embaralhadas.

quem jogava contra quem? equipes ou duplas? um contra todos? todos contra um? todos contra todos? qual o objetivo? ainda havia regras naquele jogo? qual o nome daquele jogo?

através de uma complexa engenharia política psicossocial, as fronteiras entre a ficção e o real se tornam voláteis. notícias fake propagam pós-verdades através das bolhas midiáticas. com a incessante cartografia do Big Data nas redes sociais, pela obra e graça de algoritmos se corrobora um mundo moldado à imagem e semelhança de cada respectivo perfil.

mas pouco a pouco a reprodução do capital fictício, seja financeiro, cultural ou social, não era mais suficiente para conferir qualquer estabilidade ao capitalismo de desastre, restando apenas o caos. um caos com dinâmica própria, no comando dele mesmo.

uma a uma as bolhas começaram a estourar…

como se compôs um STF formado de Ministros com atuação antagônica as de quem os indicou?

como a sacrossanta cruzada para moralizar o capitalismo de cumpadrio tupiniquim conduziu ao governo uma quadrilha de gangsteres por ela mesmo investigada?

como um cientista, executivo e militar, conhecido como o “pai do programa nuclear brasileiro”, chegou a tentar o suicídio ao ser condenado a 43 anos de prisão?

como o relator da Lava Jato, com seu perfil “imparcial”, “íntegro”, “discreto”, “reservado”, “sóbrio” e “fechado”, acabou vítima de uma trapaça da sorte e “morre em uma viagem a passeio no avião particular de um empresário famoso por ser um grande farrista”?

como o ex homem mais rico do Brasil acabou com a cabeça raspada em Bangu 9?

como o clã Odebrecht preferiu rasgar os laços familiares na tentativa de costurar um acordo para preservar o que restou de seu mega império empresarial?

muito embora todos prosseguissem no jogo, ninguém mais entendia completamente aquele sinistro quebra-cabeças. nele sempre faltaram peças enquanto outras sobram por não se encaixarem, assim sua imagem final permanecia ainda mais nebulosa que os céus de Curitiba.

um jogo jogado como um vício inescapável, tendo como única certeza a impossibilidade de vitória e uma derrota coletiva. uma vez sentado à mesa, nunca mais dela se poderia levantar.

um pérfido teatro de sombras, no qual todos executam seu papel programado. embora sejam não mais que meros marionetes, se julgam astuciosos protagonistas.

numa investigação conduzida com argúcia todos os envolvidos são paulatinamente desmascarados. mas aquele que é realmente um grande investigador, não se limita simplesmente a isto. sempre dá um passo a frente.  não teme avançar para o momento no qual, ao se encarar perplexo no espelho, desmascara a si próprio.

então, como se sentem as marionetes ao se constatarem como tal? ao experimentarem uma amostra grátis de seu choque e pavor? ao se descobrirem como supérfluos e descartáveis? ao não conseguirem compreender quem comanda os cordéis?

após todas as bolhas desaparecerem, já não restara pedra sobre pedra.

enfim, numa crise de pânico, todos se deram conta de que jamais nenhum deles soubera ao certo o nome do jogo.

Redação

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