Crescimento do Brasil e da América do Sul: comparando desiguais como iguais

 

Artigo do Brasil Debate

Por Carlos Pinkusfeld Bastos* e Esther Dweck**

Na tentativa de criticar o governo brasileiro dos últimos anos, alguns analistas comparam o crescimento do País com o de nossos vizinhos da América do Sul. Entretanto, tentar nos comparar com nossos vizinhos tem servido apenas como tática eleitoral, minimizando os desafios que todos os países grandes e com estrutura produtiva diversificada têm enfrentado na atual fase da economia internacional.

Comparações econômicas internacionais são mais significativas e úteis quando realizadas entre países semelhantes, ou seja, países cujo tamanho, estrutura populacional e produtiva, e de inserção comercial são semelhantes.

Comparações tendo como base proximidade geográfica podem ser traiçoeiras, ou, como diz o velho ditado, pode-se estar comparando laranjas com bananas. Assim, a comparação do Brasil com outros países da América do Sul, apesar de atraente pela localização geográfica, deve ser feita com certo cuidado, para que não acabe criando distorções graves.

Os três gráficos seguintes comparam uma série de países em termos de estrutura produtiva, tamanho populacional e da economia.

O Brasil é a barra vermelha e os demais países da América do Sul são as barras verdes. Notem que nos três gráficos o Brasil está de um lado e os demais de outro.

Um estudioso sem nenhum conhecimento geográfico colocaria entre os pares do Brasil a Austrália, África do Sul, Turquia, Argentina, México e até mesmo o Canadá, mas jamais o Paraguai, Equador, Bolívia, Colômbia ou Chile. Aliás, este último país, que por sua história pós 1973 se tornou uma espécie de ícone dos conservadores, não poderia estar mais distante do Brasil.

O Chile é um país pequeno, tanto em PIB quanto em população (menor que a da grande São Paulo), tendo o setor primário um papel relevante na sua atividade econômica, concentrando nesta praticamente todas suas exportações, algo parecido com a economia brasileira nas décadas de 1930 a 1950 nesse último quesito, ainda que apresentando um setor de serviços moderno, tais como setor financeiro e de comunicações.

Olhando para o tamanho da economia, o Brasil é a 7ª do mundo e uma das maiores populações mundiais.

grafico esther1

 

grafico esther2

grafico esther3

Após verificar os países com os quais o Brasil se assemelha mais, podemos avaliar seu desempenho em termos de taxa média de crescimento do PIB per capita, durante a maior crise dos últimos 80 anos, comparando com os países do G-20 fora da Ásia.

Como podemos ver, se o Brasil cresceu menos do que os países pequenos e primário-exportadores da América do Sul. Mas entre 2009 e 2013 nosso crescimento foi superior ao de México, Rússia, África do Sul, Canadá, Austrália e dos países desenvolvidos.

Se compararmos ainda o Brasil com o Resto do Mundo, temos um retrato ainda mais contundente, como demonstrado no texto de Emilio Chernavsky. Deve-se ressaltar que o fazemos aqui apenas a título de ilustração, posto que o autor utiliza-se de um dado que não reflete tão bem o potencial de elevação do bem-estar de uma sociedade, o qual é melhor captado pela variação do PIB per capita.

Entretanto, como, recentemente, a taxa de crescimento populacional brasileiro tem se reduzido de forma consistente, os resultados qualitativos não diferem daqueles aqui apresentados.

Se retirarmos a China, que passa agora por um processo de catch up acelerado, com forte urbanização da força de trabalho – uma transição que outros países em desenvolvimento experimentaram em períodos anteriores, ainda que não na direção e intensidade da China -, podemos ver que o Brasil cresce mais do que a média dos emergentes (sem China) e bem mais do que os avançados. Não era assim entre 1995 e 2002.

grafico esther4

Na nossa região, Paraguai e Peru foram os países que mais cresceram no período mais recente. Para o Brasil, o crescimento dos nossos vizinhos é muito importante para reduzir as desigualdades da região e permitir cada vez mais uma estratégia de integração regional para, aí sim, termos os nossos crescimentos mais associados.

Os desafios da atual fase da economia internacional são extraordinários e o Brasil tem sido reconhecido por conseguir manter um crescimento com aumento dos empregos formais, gerando quase 6 milhões de vagas só no governo Dilma.

Mas nossos desafios são radicalmente distintos daqueles enfrentados pelos pequenos países primário-exportadores e nosso sucesso ou fracasso deve ser tomado em comparação não apenas contra países a nós estruturalmente mais semelhantes como também tendo como parâmetro a nossa própria capacidade de crescer com equidade, incorporação social e de forma sustentável.

* Carlos Pinkusfeld Bastos é economista, professor e pesquisador do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IE/UFRJ)

** Esther Dweck é Doutorada em Economia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é assessora econômica do Ministério do Planejamento

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Redação

11 Comentários

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  1. Que coisa feia doutores

    Que coisa feia doutores economistas da UFRJ. Compararam um período bem conveniente – de 2009 a 2013. Para disfarçar chamaram a este período de pós crise. Assim disfarçaram mais ainda. É deste modo que escrevem vossos papers acadêmicos?  Deveriam envergonhar-se desta primariedade. Pior ainda , intitulam-se pesquisadores e professores. 

    1. Feio é o que fazem os

      Feio é o que fazem os tucanos, querendo comprar o Brasil com os nanicos da América latina. Por que não comparam com a velha Europa ?

      na época do governo tucanos era a comparação a ser feita, dada a debilidade da economia brasileira. Hoje podemos nos comparar com as grandes economias do mundo. Podem não gostar, mas é à realidade.

    2. Comparações

      armandolo,

      Você esqueceu de olhar à esquerda, Crescimento entre 1995 e 2002 ex-China, que corre um páreo diferente de todos.

      O período que você talvez esteja sentindo falta, 2003 a 2008, você realmente acha que foi ruim ? Procure no Google e terá uma surpresa.

      Quanto às habituais comparações do patropi com Argentina, Chile, Nicarágua, Uruguai e sei lá o que mais, não passa de um completo absurdo, comparação de bananas com laranjas, pois geralmente os tais países sobram à vontade dentro do estado de Goiás, o PIB é sempre muito, mas muito menor que o daqui, e não poderia ser diferente, pois o patropi é a sétima economia do mundo.

      Comparação só deve ser feita, qualquer uma delas, naquele ambiente superior, o resto é ficar jogando pros otários que não sabem de nada. 

  2. sistentabilidade da inclusão

    sistentabilidade da inclusão social no tempo – mais de doze anos – é o x da questão.

    e o maior mérito deste governo.

  3. Pessoal,
    Isto me faz lembrar

    Pessoal,

    Isto me faz lembrar um episódio do Aprendiz com Roberto Justus, um destes “moleques” intelectuais de leitura de sovaco provavelmente leitor da Veja, Exame e Você S.A sapecou mas na economia Chilena…o Roberto Justus passou lhe uma descompostura meu filho falando em economia Chilena como pode comparar com a gente?

    A economia Chilena é menor do que a do Estado de São Paulo….Em tempo todo respeito ao Chile país que pessoalmente acho charmoso e de paisagens lindas.

    Já viu que a formação econômica do Aecim não serviu para nada, muito provavelmente nas aulas de macroeconomia e economia internacional ele pegava surf no Leblon.

    Já sabia que tinha garantido uma vaga de Diretor na CEF graças ao priminho (o mesmo cujo o partido indicou o Paulo Roberto Costa que nunca foi investigado nos governos do PSDB e foi defenestrado pela Dilma).

    Não foi preciso nem estágio..vai ter meritocracia assim lá no Vale do Jequitinhonha.

    Lembrando que o Paulo Roberto é funcionário de carreira  da Petrobras e foi alçado a Diretor nos governos de FHC.

  4. Alguém acredita que nosso crescimento em 2014 será satisfatório?

    Senhores,

    Sou leigo, mas acho rosoável adimitir que o crescimento atual do PIB é muito baixo. Houve desaceleração de uma média de crescimento de 4,4% entre 2004 e 2010 para 2,7%, 1% e 2,5% nos três anos seguintes. E neste ano o PIB deve crescer aproximadamente zero, com os dois primeiros trimestres do ano registrando queda. No terceiro trimestre, não houve recuperação significativa. Por enquanto, não há sinais de retomada da economia.

    Creio que agora já não há espaço para iniciar a caça aos culpados, temos que , no curto prazo, para a retomada do crescimento, devemos buscar a recuperação da confiança dos investidores o que ocorrerá se o nosso governo parar de mascarar número, com a fomosa “contabilidade criativa”.

    Em seguida tratar de velhos erros que insistimos em cometer: Não investir em produtividade e em infraestrutura.

  5. Crescer sem base, pode ser um tiro no pé!

    O que adianta o Brasil crescer neste Ritmo, se os empregos gerados são de baixa remuneração, se as faculdades e escolas técnicas não conseguem atender a demanda de profissionais e assim o Brasil cada vez mais está importantando profissionais de outros países…
    E outra, se o Brasil teve este crescimento deve-se ao fato de que nosso país é riquissimo em recursos naturais e nosso clima é favorável para qualquer cultura agricola. 
    Nossa estrutura indústrial não está acompanhando este crescimento, pra mim, tiro no pé! 

  6. Gráficos não visíveis

    Encontrei esse importante texto, mas por algum problema os gráficos nã são visíveis. Tentei com diferentes navegadores, mas não adiantou. Seria possível torná-los visíveis novamente?

    Abraço

    Rui

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