Afinal, pra que serve uma biblioteca em tempos digitais?

Por Christine Castilho Fontelles* – Colaboradora do Centro de Referências em Educação Integral.

Algumas práticas humanas se modificaram e outras sobreviveram ao longo da história. Talvez guiados pelo mesmo padrão que garantiu a evolução das espécies, segundo Darwin, nossa decisão está sempre pautada em assegurar perpetuidade. A educação, baseada nas trocas entre humanos, é uma delas. Seguimos aprendendo pelas experiências ofertadas e viabilizadas por educadores. É o que traz a possibilidade de criarmos juntos novos fatos para reduzir o enorme fosso que ainda hoje separa quem sabe de quem não sabe.

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O cérebro superdotado e o polegar opositor são dois valiosos “equipamentos” que nos distinguem dos outros animais, inclusive de nossos “parentes” primatas, sendo o primeiro uma tremenda vantagem competitiva por meio da qual geramos conhecimento, inovação, ciência! E assim chegamos ao ponto desta prosa: a cultura digital. Uma tecnologia. Uma nova tecnologia para suportar o texto escrito. Já passamos pelas paredes das cavernas, papiro, argila, papel e, mais recentemente, a tela digital. Mais do que isso, o acesso ilimitado – até onde se tem notícia – a milhares de dados via internet.

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Ou seja, somos bem aventurados – embora nem todos e nem ao mesmo tempo, uma vez que a internet banda larga no Brasil ainda não é um item disponível em escala nacional – com tecnologias que podemos escolher para acessar informação e até participar de educação à distância, algo que é realizado sempre com apoio de um tutor ou, nos casos de graduação e especialização, um professor que media as aulas. Ou seja, interfaces humanas.

Aprender a ler, diferentemente do que pensamos, é uma tarefa desafiadora e para toda a vida. Começa em casa, e até mesmo antes disso, ainda no útero materno, e se estende às escolas, às bibliotecas, usando todos os recursos tecnológicos dos quais dispomos – não há razão para abrir mão de nenhum. Pesquisas apontam com clareza que são os professores, seguidos de perto pela mãe e depois pelo pai, os grandes responsáveis pela formação leitora de crianças e jovens. Como afirma o Prof. Luiz Percival Leme Britto, da Universidade Federal do Oeste do Pará e grande pesquisador da área, “não é que as pessoas não leem porque não querem, elas não leem porque não podem”, comentando o cenário de baixos índices de leitura e de competência leitora no Brasil, reforçando que é preciso ler e educar para ler “para além do cotidiano imediato, com níveis de complexidade variada, o que envolve a esfera de produção intelectual relacionada com a escrita, relativa à interação com os conhecimentos e valores formais, às ciências, às artes, à formação e ao estudo”. Mas, afinal, quando ainda estamos falando de inclusão na cultura escrita, de educar para a leitura, para que serve uma biblioteca em tempos digitais? Eu diria que é para promover encontros entre leitores e não leitores, entre leitores e leituras, reproduzindo aquela experiência que lançamos mão desde sempre para sermos educados.

Em Madri, a Casa del Lector (um nome que gosto muito, porque deixa claro quem importa!), disponibiliza tablets com acesso gratuito a várias publicações. Por meio do “encontro” entre pessoas e suporte digital, eles estão interessados em formar leitores digitais a partir dos nove meses de idade. Já na Biblioteca Virtual do Instituto Ecofuturo, organização que há 15 anos promove encontros entre pessoas e conhecimento Brasil adentro, é possível encontrar e baixar gratuitamente materiais multimídia, como publicações em PDF, vídeo-oficinas e áudio livros. O objetivo é abastecer de boa prosa todos aqueles que estão empenhados em promover as competências de ler, escrever e argumentar com gosto e competência.

A biblioteca é esse lugar educativo, de acesso gratuito ao conhecimento estruturado pela escrita, pelo livro, impresso ou digital, onde encontramos um educador comprometido com essa tarefa. Um lugar de encontro com leitores, ideias, como vi semana passada numa biblioteca em uma escola na zona rural do Maranhão, onde conheci Iasmin, sua irmã Fernanda e o amigo Bruno, na faixa dos 13, 14 anos, completamente fascinados, mobilizados e convictos dos benefícios gerados por uma boa biblioteca, com um belo e diversificado acervo e educadores envolvidos em promover os “encontros” devidos. Sem que perguntasse, me disseram espontaneamente que gostariam de ser escritor, editor e bibliotecário, viabilizando um ciclo que é tão vital: se dispor a compartilhar uma ideia de mundo pela escrita, a viabilizar o amplo acesso a esta ideia e a promover o encontro entre uma ideia, um autor, um leitor e, quem sabe, um novo mundo, um mundo melhor, um mundo mais sustentável, com qualidade de vida para todas as vidas.

 

Redação

19 Comentários

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  1. Ainda não exploramos nem um

    Ainda não exploramos nem um pedacinho do que pode ser uma biblioteca. Além de possibilitar acesso a livros, o local é fundamental para debates, entrevistas, lançamentos e tudo que remeta ao universo da literatura ou que seja abraçado por ela. Incluindo a necessidade de acompanhamento de diversificação de meios de acesso a ela, como a inclusão digital. A biblioteca é como uma floresta e é fundamental.

    1. É isso!

      Pelo o que tenho observado pelas minhas andanças pelo país é que várias bibliotecas estão se tornando algo mais que simples estantes com livros para leitura ou consulta acadêmica. Visitei uma biblioteca em Macapá que tinha auditório, salão para exposições, sala para oficinas de artes, um Ponto de Cultura etc. 

  2. Totalmente fiel a velho papel

    Livros, com capa, textura, cheiro e suas paginas não é igual a leitura em telas. Acho que crianças devem ser iniciadas à leitura através dos livros e não de tabletes. Esses dias, conversando com uma fonoaudiologa, ela me disse do enorme numero de crianças que ela recebe para trabalhar a linguaguem-fala e através dela a escrita também. Crianças essas que estão muito isoladas através de jogos, tabletes e computador.    

  3.  
    Nada substitui e nunca

     

    Nada substitui e nunca substituirá o aroma do papel de um livro.Mas isso ainda é o de menos.

        Sabemos que várias obras foram leiloadas por mihões de dólares.Obras estas que podem ser lidas digitalmente e não vale um centavo a mais do que Amazon( ou outra )  cobra-  uns minguados.

              O livro em papel não acabará nunca,Ou será que chegaremos ao ponto de nossa blibioteca ser de CDs de livros?

                  Isso não existe.

  4. hoje em dia voce pode ler o

    hoje em dia voce pode ler o sgrandes clássicos da literatura mundial

    baixandol ivros pela intenet, desde cervantes, shakespeare, machado de assis, eentre outras obras completas ou quase completas -livros mais importantes de cada autor.

    mas é preciso como bem se disse no post,

    da mediação dos professores

    e, acrescento, dos familiares e dos que nos rodeiam.

    o hábito é fundamental.

    lembro-me de quando era criança que meu irmão comprou via correio dois livros de literatura, camilo castelo branco e oscar wilde, que eu li e jamais esqueci.

    então, é preciso que haja, primeiro, o acesso à cultura, neste caso atual,, com o o acesso amplo , geral e irrestrito à internet e às bibliotecas.

    mas quem medeia,, medeia o mundo, seja um irmão ou um parente, um professor.

  5. Serve e muito.  Imaginem o

    Serve e muito.  Imaginem o que pode fazer um hacker mal intensionado, uma bateria defeituosa, um clique no botão errado e por ai vai.O papel nunca será totalmente abolido, ainda bem.

  6.  
    Se não me falha a memória,

     

    Se não me falha a memória, sucede o mesmo com o livro de papel x táblete. Inclusive, se o leitor preferir pode perfeitamente ir à biblioteca ler seu tablete.

    Orlando

  7. Afinal, pra que serve uma biblioteca em tempos digitais?

    ####

    Ola Nassif,

    Há que ter se sempre em mente a relação dos meios aos fins,

    E a função custo benefício,

    Só que língua e literatura estão associados à cultura,

    E há o domínio, e a manipulação pela sobreposição de uma cultura sobre outra, inclusive com a costumeira pratica do dumping, ou seja, oferece se de forma muito mais barata, subsidiadas, uma cultura externa, do que a produzida nacional, que também foi manipulada no sentido de sua inviabilização com cargas de maiores custos e impostos, etc.,

     Os grandes impérios colonizadores e exploradores de sempre procuram manipular e controlar as colônias, e ate mesmo no “1984” o autor fala na supressão da palavra liberdade dos dicionários, para que o povão esqueça se deste conceito, e submeta-se melhor por falta de palavra e de conceitos que sirva lhes melhor,

    Exemplo: é que fracassar pode-se, porque este verbo existe, já sucessar é impossível, porque o verbo sucessar não existe, e não existira nunca nos dicionários dos que chamam a linguagem de meio de controle social,

    Mas a era digital veio para ficar,

    E os espetáculos das queimas de livros que atendiam a ideologias diferentes das do poder dominante não existirão mais no futuro,

    Com a digitalização pode se copiar ad infinitum, livros, vídeos, fotos, etc. com excelente qualidade e custos mínimos,

    E ai, a grande maquina, que era um concessão do rei a aqueles que trabalhavam para ele, na área do circo, da diversão, do entretenimento, da cultura, da informação e da ciência,

    Esta perdendo sua função,

    Esta se conseguindo isto por outros meios,

    Muito do que foi a historia ficarão seguramente só em fotografias,

    Desde as plaquetas de argila dos antigos sumérios, os papiros e os pergaminho dos egípcios, o papel da atualidade esta sendo substituído por outros meios mais baratos,

    E com a igual evolução das maquinas fotográficas e filmadoras, que não necessitam de revelação, o resultado sai pronto e na hora,

    Estamos muito mais para a produção literária auditiva e visual, ou seja, o áudio visual, esta sobrepondo se ao literário verbal ou escrito,

    Mas muito do que já foi produzido inicialmente na escrita, pode ser digitalizado, e seguramente assim o será, porque o saudosismo anacrônico não vai durar muito tempo por inviabilidade econômica,

    A replicagem de material em papel é muito cara, e a copiagem eletrônica é muito mais barata, e com a conservação da qualidade ficou imbatível,

    ####

  8. Livros de papel já acabaram.

    Livros hoje são isso, coleções. O conhecimento está no dígito. Longe das bibliotecas.

    Longe mesmo. a maior parte do conhecimento gerado hoje não está no PAPEL!

    O que vc conclúi disso?

    Vou lhe ajudar. A conclusão é de que blibliotecas não servem para mais nada pois o conhecimento NÃO está sendo armazenado ali. Acabou!

    A função prepúcia das bibliotecas foi substituida pelo banco de dados.

    Livros de papel já acabaram. Falta só fazer o enterro.

    Nnguém quer ficar carregando livro para cima e para baixo se vc já tem todo o conteúdo dentro do seu cell.

    No meu cell tem 157 livros dos quais eu ja li cerca de 30.

    Acabei de ler a série Fundação no metro. 5 livros em 40 dias. Ta bão demais para passeios de metro e onibus.

     

    Já os coroas… gostam de andar com papel para que outros saibam o que leem.

    Tem outro motivo?

    A sim, coleções né. 

     

    Não adianta remar contra a maré.

    Bibliotecas vão virar cafés. Lugares de entretenmento. Já o conhecimento, vai para outro lugar.

     

     

    1. Função prepúcia…???  – é

      Função prepúcia…???  – é PRECÍPUA, caro Athos. Sorte sua que eu estou me atendo ao principal, popis se eu fosse um gozador…

  9. Uma pergunta que eu faço para

    Uma pergunta que eu faço para o Colégio Santo Agostinho, onde minha filha estuda. Por que eu tive que gastar 1.500 reais com livros para o ano letivo, sendo que todas as informações contidas neles estão na internet ad infinitum?

  10. Livros & papéis.

    Cara, as livrarias que eu conheço aqui em São Paulo (Cultura, Saraiva, Livraria da Vila, Siciliano, Martins Fontes…) espalhadas com filiais por todas as regiões da cidade, estão sempre permanentemente lotadas, durante toda a semana (sim: algumas abrem aos domingos tambem) e em todos os horários.

    Os grande Sebos, principalmente os da região da Vila Madalena e da Sé (Avalovara, Sebo Cultural, Praia dos Livros, Red Star, o gigantesco Sebo do Messias, na Sé…) igualmente tem grande movimento durante toda a semana, de segunda a sábado. Sem contar as bibliotecas do Centro Cultural Vergueiro, a Mario de Andrade, a do Instituto Goethe, as do Sesc e etc e tal.

    A recente Feira do Livro no Anhembi teve 800 mil visitantes, a maioria pessoas até 30 anos.

    Em resumo: você precisa avisar esse povo todos e esses empresários donos de livrarias e sebos, que “o livro de papel acabou”. Se você não avisa, eles vão continuar com essa bobagem de ler “livros de papel”.

    Ps. Se tu não tá de chaveco, se leu, por exemplo, “Crime & Castigo” inteiro, no celular, no metrô, dá uma verificada que deve ter alguma espécie de recorde aí nessa parada, mano!

  11. É só uma questão de tempo!

    Há anos que os pesquisadores estão tentando fazer uma tela flexível comercial. No momento que existir uma tela de tamanho razoável e flexível o livro vai virar algo como uma máquina de escrever!

    Ou as bibliotecas se adaptam e viram um centro cultural como acima dito ou simplesmente acabam!

    Em ciências as bibliotecas estão sendo simplesmente extintas, só restando nela livros históricos que ainda não foram digitalizados.

    Quando fiz meu mestrado, no milênio passado, utilizei mais de uma centena de artigos e para levantar e possuir uma cópia destes artigos demorei quase um ano. Nos dias de hoje faria coleta de artigos técnicos como a que fiz em duas ou três semanas, logo não tenho saudade dos periódicos chegando a conta gotas.

    Falta no Brasil não são bibliotecas, falta no Brasil e a digitalização de textos antigos e um bom banco de dados com fácil acesso a todos.

    E não estou fazendo ironia ou piada, mas é tudo uma questão de tempo para as bibliotecas atuais virarem mais museus do que algo utilitário, provavelmente se ainda estiver vivo levarei os meus netos para passearem e conhecer o que era uma biblioteca!

    Já tive esta discução há mais de três anos e uma das pessoas que me questionava era o abduzido Gunther!

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