O golpe do parlamentarismo, um golpe contra o golpe de Estado em 2019?, por Cesar Cardoso

O golpe do parlamentarismo, um golpe contra o golpe de Estado em 2019?

por Cesar Cardoso

Os golpes e as crises políticas – na expressão do Renato Rovai – não são, vão sendo; os ventos mudam, as forças mudam, as correlações mudam, e cenários vão se formando. E, entre todos os planos, correlações e maquinações, sempre aparece a realidade, teimosa como ela só.

E a realidade tem sido particularmente incômoda com as alas golpistas: sem conseguir disfarçar que o Brasil é um país pior do que era em 2013, início da campanha golpista, começam a assistir a população se dividir entre dois grupos: a saudade de um Lula (ou quem for seu Héctor Cámpora) cada vez mais transformado em algo entre mártir e messias e candidatos contra “tudo isso que está aí”.

A decisão de rifar Lula já está tomada, mesmo o ex-presidente sendo, talvez, a única figura política que ainda seja capaz de conseguir a conciliação; ninguém mais duvida que o TRF4 vá fazer a parte dele. Sobra o problema das candidaturas “incômodas”, seja da extrema-direita (Bolsonaro), seja de que tem enorme facilidade de vestir a roupa de incendiário (Ciro Gomes)… para serem combatidos por um João Dória Júnior cada vez mais dando retorno negativo sobre o investimento (gasta cada vez mais para conseguir cada vez menos votos) e… e… não há outro candidato em qualquer das duas facções do golpe de 2016.

É nesse contexto que agosto traz de volta o golpe do parlamentarismo.

(trouxe de volta também o Distritão, mas o Distritão é um atentado tão grande, mas tão grande, contra a lógica e a noção que a vitória apertadíssima na Comissão Especial dá poucas esperanças de que vá passar. A chance é bem razoável que o Distritão e seus inventores voltem para a lata de lixo e de lá nunca mais saiam.)

A deterioração da situação política do Brasil está ocorrendo de forma tão rápida e tão intensa que já praticamente todo mundo conta com uma possibilidade bem grande – eu diria quase 100% – de que um presidente eleito de fora da aliança golpista vá ser obrigado, mesmo que não queira, a dar um autogolpe em 2019 para ter um mínimo de chance de governar. Em um país fundado na famosa frase de D. João VI ao seu filho Pedro (“ponha a coroa sobre sua cabeça antes que algum aventureiro lance mão dela”), a possibilidade de um golpe de Estado quase que com data e hora marcados é o suficiente para que se inicie um golpe preventivo, o golpe do parlamentarismo.

Sem entrar na enorme confusão mental que os parlamentares criaram na questão da eleição da Câmara, observem que não há nenhuma certeza sobre qual parlamentarismo vai ser adotado: se as duas Casas do Parlamento vão ter o mesmo poder sobre o gabinete (Itália) ou se é apenas responsabilidade da Câmara; se o presidente vai ser eleito diretamente ou indiretamente; se eleito diretamente, ninguém sabe se o presidente vai ser figura meramente decorativa (Áustria), vai ter o poder de atrapalhar (Portugal) ou mesmo vai ter algum espaço de governo (França). Dá-se o golpe primeiro e depois vamos ver o que acontece, o que fica claro nas declarações do “presidente” sobre querer nomear logo um primeiro-ministro.

O que importa é adotar um sistema de governo rejeitado explicitamente pela população todas as vezes que foi posto à prova; afinal, no pensamento do Grande Acordo Nacional (e que, ao que parece, começa a alcançar o rentismo e as castas de Estado), “melhor dar um golpe agora do que sofrer um golpe em 2019″… talvez por isso o Centrão esteja começando a desistir de seu mundo ideal, com o Distritão e um presidente facilmente derrubável.

Redação

2 Comentários

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  1. Golpe? Qual? O de 1992 onde

    Golpe? Qual? O de 1992 onde Collor foi afastado da Presidência pelo Senado Federal em 48 horas sem direito à ampla defesa e ao contraditório, previstos no inciso LV do art. 5º da CF/1988?

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